nunca esqueça, andré, que essa horta e jardim foram cultivados por mãos calejadas que apenas pressentiam a ciência dos ventos e estrelas, os ciclos das fases da lua e estações do ano, e a arte da paciência para aguardar o momento certo do plantio;
nunca esqueça também, andré, quando passar por essa horta e jardim, peça licença a seus habitantes camuflados, com humildade e reverencia, para banhar-se com suas luzes claras, que simplesmente não poderá enxergar - feche os olhos, andré, e carregará essa claridade sagrada para o resto dos seus dias, como uma tatuagem, doce lembrança dessa passagem;
nunca esqueça ainda, andré, que há pequenos pássaros aqui, invisíveis insetos e espíritos repletos de ternura, que derramarão com delicadas canções de outono, nuvens de suavidade - feche os olhos, andré, no seu coração embrutecido pela minha ausencia, pelas teclas sem nervos dos micros, e pelos insulfilmes das janelas dos carros, e pelos capacetes com viseiras escuras dos entregadores de pizza;
e por último, andré, nunca esqueça mesmo, quando partir desse lugar esmagando o morno orvalho que cai das suas pétalas e folhas, de pendurar no mais forte dos seus ramos, o tigre gelado da sua solidão - feche os olhos, andré, e tenha certeza que ele estará para sempre protegido.
akira – 07/01/2011.
japakira !
ResponderExcluirsua coleção de palavras está cada vez mais quente e me deixa cada vez mais teso no meio desse inferno que é a realidade da vida!
passagem é literatura que o grande Pessoa guardaria no bolso do paletó.
: estou mui feliz por ser testemunha dissotudo e afinal "Quem somos nós sem o socorro daquilo que não existe?" -Paul Valery
gracias!
cláudio gomes
Pôxa, Akira, você não sabe como seus poemas são importantes para aliviar, e as vezes, pesar ainda mais a nossa existência. Mas como são necessários. Há dias que a correria, as coisas "carregadas" nos envolvem, e suas poesias desanuviam e aliviam a alma.
ResponderExcluirabraço meu amigo.
Adailton Alves – 14/01/2011.