sexta-feira, 23 de maio de 2014

miyuki (20)


é o vento em nossos cabelos
que compõe esse selvagem canto
e não essa força que nos protege
o que sempre nos aproxima tanto

é nosso grito de medo espesso
em algum poço de escuro espanto
e não essa paz que nos conforta
o que sempre nos aproxima tanto

é o perigo dos atalhos inseguros
onde moram temores e prantos
e não a certeza das nossas pontes
o que sempre nos aproxima tanto

é sempre esse amor por um fio
a possível ruptura e o desencanto
e não o sempre feliz e constante
o que sempre nos aproxima tanto

akira – 23/05/2014.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

dedo mole 16


na vida não tive pai
talvez por isso a vida
tenha sido madrasta

minha mãe fazia a vida
e padrastos faziam fila
na porta da minha vida

um deles comeu meu cú
quando não tinha ainda
feito dez anos de vida

minha mãe então pensou
que eu só ficaria a salvo
com os padres na igreja

mas um deles também
comeu meu cú e eu tinha
dez anos de vida talvez

nesse dia escolhi então
na vida a vida de não ter
medo da morte e da vida

akira – 22/05/2014.

aconteceu no sarau da casa amarela de maio - 09


com um quadro na mão direita e um poema na esquerda
o meu compadre seh m. pereira trouxe à casa amarela
no domingo passado a genialidade de neuza ladeira.
acho que comentários são supérfluos: apenas vejam e
apenas ouçam.

aconteceu no sarau da casa amarela de maio - 08


meu compadre euflávio góis, o euflávio madeirart, dentre
outras coisas é um escultor em madeira de imagens
lancinantes e poderosas, das quais espero realizar um
dia destes uma exposição na casa amarela se euflávio
consentir (já entrando na praia do escobar franelas de
novo). no último domingo ele fez uma interferência
singela que comoveu todos os presentes ao sarau. 

aconteceu no sarau da casa amarela de maio - 06


comadres e compadres, no sarau de domingo passado
efetuamos o lançamento de "cavalos no peito", livro de
poesias de carlos alberto rodrigues, o big charlie, e
também a primeira publicação do projeto casa amarela
de são miguel publicações que surge com a proposta
de resgatar e registrar a produção literária dos poetas e
escritores da região de são miguel paulista cuja grande
maioria, por muitas razões e dificuldades de toda ordem,
nunca serão registrados no formato livro. big charlie por
exemplo, tem seis livros prontos com cerca de cento e
vinte poemas cada um que até hoje não conseguiu
editar, e assim como ele existem centenas. informo a
todos que o livro do big está sendo vendido a R$15,00
mais taxa de correio e podem ser encomendados no
meu inbox ou pelo email akiranoroinu@gmail.com.
informo também que a grana arrecadada com a venda
do livro do big financiará outro autor e assim em diante.

um abraço do akira. 

aconteceu no sarau da casa amarela de maio - 05


meu compadre sacha arcanjo sobe no palco do sarau
da casa amarela sem saber o que cantar e pergunta a
nós, pobres mortais, o que gostaríamos de ouvir. então
alguém escolheu "projeção" e outro quis ouvir "boca
aberta", outro "chão americano" e eu pedi, mas não fui
atendido, "menina singela". e tudo termina novamente
numa grande cantoria noite de domingo adentro que a
gente é obrigado a interromper por causa da lei do psiu.
a cantoria para mas ninguém vai embora.

projeção

autoria: sacha e raberuan
voz: sacha arcanjo
flauta: éder lima
vídeo: big charlie

aconteceu no sarau da casa amarela de maio - 04


caráio, éder lima e lígia pegaram pesado e mataram
a paulada no sarau de domingo passado e ainda de
quebra relembraram o maior poeta que passou pelo
mpa - o movimento popular de arte, o saudoso
severino do ramo. o vídeo é de big charlie.

guaxinim

música: éder lima
letra: severino do ramo
voz: lígia regina
violão e flauta: éder lima
vídeo: big charlie

aconteceu no sarau da casa amarela de maio - 03


domingo passado foi um dia de lembranças fortes e
emoções pesadas, momentos houveram em que foi
um custo conter as lágrimas. por exemplo, quando
gilberto braz lembrou e falou três poemas antigos de
sua autoria passou um filme no meu coração e voltei
a 2008 quando eu, ele e raberuan, depois o cléston
teixeira também se juntou à patota, montamos um
recital poético/musical chamado um pé no cotidiano
com o qual corremos trecho por uns bons três anos
em tudo quanto era quebrada dessa zonalesteénóis.
acho que estou ficando velho e emotivo demais pois
fiquei contendo as lágrimas e repetindo palavra por
palavra enquanto gilberto falava o poema "caixa de
jóias" que era justamente um poema que eu mais
gostava de falar no um pé no cotidiano com raberuan
fazendo um fundo musical no violão. um poema du
caráio que enfileira os bairros do extremo leste de
sampa como pequenas pedras brilhantes dentro de
uma caixa. ainda bem que big charlie captou essa
lembrança especial com sua famigerada maquineta
rúbia.

aconteceu no sarau da casa amarela de maio - 02


o destino de raberuan era de passarinho sem ninho,
passarinho cantador sem eira nem beira, passarinho
poeta sem pouso ou algibeira, passarinho dobradura
que muitas vezes não tinha nem onde dormir. lembro
que da última vez que raberuan ficou no olho da rua
e não tinha mais pra onde ir, adilson aragão o levou
para morar em sua casa onde ele ficou por uns dois
anos. e porque raberuan não passava de um simples
passarinho sem compromisso nem responsabilidade
com nada, às vezes adilson ficava puto da vida e
perdia a paciência com ele e gritava, xingava e falava
um monte mas nunca o mandou embora da sua casa.
tô contando essa história porque quero dizer que,
aconteça o que acontecer, adilson aragão, do jeitão
dele nunca deixa um amigo na mão e digo é porque
testemunhei algumas passagens com estes olhos que
a terra há de comer. certo dia adilson me apareceu
totalmente emocionado e me mostrou uma canção
que ele tinha feito de um poema meu dos anos 1970
que eu nem lembrava mais e também nunca poderia
imaginar que pudesse virar música:

borracharia

música: adilson aragão
letra: akira yamasaki
voz: adilson aragão
acompanhamento: banda seminovos & ousados

pesado
sujo
nojento
é um trampo
tão do cacete
meu mano
que chego de noite em casa
garganta entupida de graxa
o corpo no bagaço
e ordeno num fio de voz
esquenta a janta, nega
a arruma a cama
pra nós duas

aconteceu no sarau da casa amarela de maio - 01


sempre repito que sou apenas um bom poeta ruim,
sem falsa modéstia e nenhuma espécie de rancor,
sei e apenas sei, que sou assim, conheço os meus
limites e também não saio por aí puxando o saco
de ninguém para obter vantagens nem facilidades
para realização de projetos pessoais. aos 61 anos
de idade não tenho o rabo preso com ninguém e a
minha única riqueza, e digo isso também sem falsa
modéstia, são os amigos que ganhei de presente
dessa minha boa poesia ruim durante a vida e aos
quais sou fiel de forma canina. no sarau da casa
amarela de ontem fiquei comovido com a imensa
quantidade de amigos que compareceram apesar
de estarmos competindo com a poderosa virada
cultural e da incrível e inesperada tempestade de
granizo que caiu sobre a cidade e vieram à casa
amarela para celebrar a poesia e a amizade. fiquei
comovido em especial ontem porque os convidados
especiais do sarau eram grandes amigos por quem
tenho a maior estima e admiração: adilson aragão,
escobar franelas e big charlie, dois deles, o big e o
escobar lançando livros, o que para mim é tão
importante que é motivo de orgulho e muita honra.
mas comovido mesmo, comovido às lágrimas fiquei
quando aconteceu um fato inédito ontem: o big
charlie venceu a sua timidez lendária e subiu ao
palco do sarau da casa amarela e falou um poema
de sua autoria. demorou 23 saraus para acontecer.

akira - 19/05/2014. 

ganhei de presente de xico leite


tédio


o tédio aqui dentro
imenso mar de tédio
hóspede monstruoso


akira - 19/05/2014.

itaquera itaqueruna


ontem tarde da noite
passei em escuro silêncio
pelo itaquera itaqueruna

frágil e adormecido
ele peidava e cagava
tristemente para o céu

akira – 17/05/2014.

dedo mole 15


uma vela é pra deus
essa outra pro diabo
perdoa meus pecados
quero salva a alma sim
mas no corpo fechado

akira - 17/05/2014.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

dedo mole 14


é sempre um vão
entre dois pontos
entre duas bordas
sempre uma ponte

é entre dois vales
sempre uma vala
sempre um corpo
entre duas velas

é entre duas cruzes
sempre uma bala
entre duas margens
sempre uma favela

é entre dois trechos
sempre um monte
e entre duas bocas
um negro horizonte

akira – 16/05/2014.

adriane



num pelé inesperado
adriane garcia
burlou sua sina de musa
e virou poeta essencial

mas sentindo-se lesado
o destino foi ao tapetão
e aos quarenta e cinco
do segundo tempo
conseguiu uma liminar
que reverteu a sentença
e empatou o jogo

tanto melhor para nós
pobres e vis mortais
que podemos de quatro
continuar satisfeitos
não só para a poeta
mas também para a musa

akira – 16/05/2014.

comadres e compadres - preparem seus corações:
a poeta e amiga da casa amarela adriane garcia
virá a são miguel em julho e já estamos comprando
feltro e cetim amarelo para costurar e estender um
tapete da trabalhadores até a casa de farinha para
recebê-la com honras de chefe de estado da poesia
brasileira. comadre bianca velloso virá também de
floripa e outros pesos pesado da poesia nacional,
cris de souza, carlos moreira e joelma bittencourt
ficaram de confirmar presença. faremos uma grande
festa de celebração da alegria, da amizade e da poesia
na ocasião e tudo terminará novamente numa grande
cantoria noite afora. aguardem maiores informações.

o ecopoético de campeche


não fui ao primeiro ecopoético de campeche, em floripa,
organizado por bianca velloso e seu povo, mas já estou
arrumando as malas para viajar para o segundo que vai
acontecer, se entendi bem, em novo hamburgo, e se
possível, vou com éder lima, escobar franelas, xavier,
lígia regina, sacha arcanjo, sueli kimura,  joão caetano,

manogon, seh m pereira, e tantos outros compadres e
comadres da raça dos baitas que aceitarem descer a
ladeira comigo, se deus quiser. não fui ao ecopoético de
campeche mas estive lá nas mãos, no colo e na voz
emocionante de adriane garcia que falou um poema meu
sob as árvores enquanto o vento comovente e eterno da
ilha agitava seus cabelos de poeta e musa.

dedo mole 13


dedo mole anda meio veiáco
tipo cachorro mordido por cobra

com a barba de molho
e já pensando seriamente
no dia incerto do amanhã
ampliou seu leque de interesses
profissionais e religiosos

já montou uma funilaria
e um lava rápido de fachada
além de manter participação
em outros pequenos negócios
por meio de testas de ferro
(dizem as más línguas
que ele já é proprietário
de um posto de gasolina
e de até uma linha de vans
do jardim xavier até itaquera)

mas por via das dúvidas
acende uma vela pra deus
e outra maior pro diabo

tudo bem que freqüenta
diariamente com sua mãe
a igreja do bom jesus franelas
mas nunca deixa de pagar o dízimo
da universal do reino de caetano
(política de boa vizinhança
ambas fazem vistas grossas
pro teor das suas atividades)

a última do dedo mole
aconteceu sábado passado
na fila da granja e sacolão
cumbuca do mano gonçalves
onde eu estava pra comprar
uma fraldinha assada pro almoço
quando ele passou distribuindo
alguns santinhos com sua foto:

- japa, meu bom
espero na maior humildade
merecer seu voto pra vereador
na próxima eleição
aqui a chapa é quente
e o comando é forte
aqui você conta
com um amigo pra sempre

akira – 14/05/2014.
(p/  francisco xavier, manogon, escobar franelas e joão caetano)

cavalos no peito



“cavalos no peito” não é apenas o livro de poemas de estréia
de big charlie que, realizado pela “casa amarela de são miguel
paulista edições” terá lançamento no sarau da casa amarela, no
próximo domingo –18/05/2014, a partir das 15h. “cavalos no
peito” é isso mas isso é muito mais que isso porquê também é
a primeira publicação da casa amarela edições, um projeto que
chega com o objetivo de promover num primeiro momento o
registro em livros e a disseminação na região da literatura
(poesia, conto, crônica, textos de teatro, artes visuais, gráficas,
plásticas e outros) feita por artistas e produtores que gravitam
em torno do sarau da casa amarela. o casa amarela edições
chega também para abrigar um outro projeto que existe desde o
ano passado, o “revista ramo”, que nasceu de uma iniciativa dos
poetas escobar franelas, luka magalhães e francisco xavier, para
mapear, registrar e divulgar os poetas existentes em são miguel
paulista e regiões adjacentes, e que se constitui numa espécie de
contraponto e complemento a esse projeto porque seu formato é
de antologia. de “cavalos no peito” foi editada uma tiragem de
300 (trezentos) exemplares com recursos levantados no formato
“ação cultural entre amigos”, sendo que: 1) a venda de parte
destes livros financiará a edição de um segundo livro e assim
sucessivamente; 2) parte destes livros será doada para entidades
culturais, escolas e bibliotecas da região; 3) parte destes livros
será entregue para o autor big charlie; 4) o preço de cada livro
será de R$15,00 (quinze reais); e 5) este livro foi planejado e
realizado por um conselho formado por manoel gonçalves, o
manogon, joão caetano do nascimento, escobar franelas e
akira yamasaki para homenagear e registrar a poesia de big
charlie, assíduo colaborador e participante das ações da casa
amarela. por enquanto é isso e espero a presença de todos
vocês no sarau da casa amarela do próximo domingo – 18/05,
a partir das 15h, no endereço de sempre: rua julião pereira
machado, nº 7, bairro de são miguel paulista, em frente ao
colégio hugo takahashi, próximo à sabesp. quem vier será
bentivindo, quem chegar será benchegado, hasta la vista,
comadres e compadres.

akira – 12/05/2014.
 

domingo, 11 de maio de 2014

fusako 2


sei que não tenho
deus dentro de mim
mas você, se ele existe
é fragmento dele

missôshiro


consistente rango
o missôshiro escaldante
com asa de frango

futuros incertos
invernos de vacas magras

lembro de gilberto

akira - 09/05/2014.
(para gilberto nascimento)

errado


sempre estou errado
mas o erro sempre foi
meu líquido acerto

o cedo na minha vida
sempre me reserva
líquidas tardes demais

akira – 09/05/2014.

jardim de hideko 17


oh flor da primeira hora
de outono e alvissareira
banha-me em seu orvalho
alimenta-me com seu mel
deixa-me ser seu beija-flor

viajei, flor, a noite inteira
atravessei mil batalhas
e quase morri nos atalhos
da face escura da aurora
para estar contigo agora

akira – 09/05/2014.

sarau da casa amarela de maio com adilson aragão




contagem regressiva para o sarau da casa
amarela de maio com adilson aragão

comadres e compadres vejam quem será o convidado especial
do próximo sarau da casa amarela que ocorrerá no domingo –
18/05/2014, a partir das 15h: ninguém menos que adilson
aragão. poeta da raça dos baitas e compositor inspiradíssimo,
adilson nasceu e foi criado em são miguel paulista. filho de
pais nordestinos, ele cresceu ouvindo de jackson do pandeiro a
luiz gonzaga, de bienvenito granda aos beatles e da salada de
referências que influenciaram a sua arte constam ainda nomes
como antonio marcos, joão nogueira e carlos dafé, entre outros,
e a experiência sem igual dos encontros comunitários com sua
música descontraída que tem sabor de malandragem para falar
dos temas ao mesmo tempo sérios e simples que habitam o seu
cotidiano. somente em 2009, adilson lançou o seu primeiro cd,
o “bocas e bossas” onde canta parcerias compostas com os seus
iguais, poetas e músicos de são miguel como raberuan, jocélio
amaro, andré marques, ceciro cordeiro, akira yamasaki e sacha
arcanjo, artistas com quem conviveu intensamente durante a
sua carreira. é este poeta e compositor de pegada singular e
inigualável que virá ao sarau da casa amarela de maio para falar
um pouco da sua vida, obra e carreira artística e cantará algumas
canções marcantes do seu repertório. a casa amarela você já sabe
que fica na rua julião pereira machado, nº 07, em são miguel pta,
são paulo (em frente ao colégio hugo takahashi, próximo à
sabesp). hasta la vista, comadritas e compadritos.

akira – 07/05/2014.
 

dedo mole 12


oficina de funilaria
e pintura dedo mole
- martelinho de ouro
certificado iso 9000

o lema aqui é assim:
não vi nem ouvi
e em boca fechada
não entra mosquito

akira - 05/05/2014.

sopro de inverno


por algum furo
cheio de degraus
vaza para dentro
do meu coração
passo após passo
o sopro do inverno
que vai habitando
de silencio branco
a escada da noite
e o vasto ontem

akira – 03/05/2014.

oliveiras blues 2


cedinho no oliveiras
insistiu um bentevi:
- bentevi, bentevi

bom dia, raberuan
bom dia, respondi

sobre big charlie


carlos alberto rodrigues, o big charlie, nasceu no
bairro de são miguel paulista no dia 20/10/1957.
a primeira lembrança que big charlie guarda da sua
constante luta com a palavra escrita é de quando
muito pequenino ainda levou muitas broncas das
professoras devido sua mania de corrigir palavras
dos livros didáticos que julgava erradas.

uma outra lembrança data de 1971 quando já
adolescente no segundo ano ginasial do segundo
ginásio estadual de vila nitro operária (hoje
ataulpho alves) recebeu com todos os alunos da
sua classe da professora de português, dona
eunice, a tarefa de escrever uma redação por dia
nas férias de julho. carlos foi um dos poucos
alunos que cumpriram a tarefa por completo e teve
cerca de cinco ou seis redações consideradas
ótimas, mas dona eunice, por não acreditar que
tinham sido escritas por ele queria porque queria
saber de onde haviam sido copiadas.

data também desta época sua aversão pela poesia
pois só conhecia a parnasiana e a clássica mas no
primeiro ano do colegial quando leu pela primeira
vez o “dia da criação”, de vinícius de moraes, ele
descobriu a poesia livre. foi então que começou a
escrever poesia, nunca mais parou e de lá para cá
já escreveu milhares, muitas ruins, muitas medianas
e algumas que merecem um pouco de atenção – ele
conclui com humildade.

destas “algumas que merecem uma certa atenção”,
mas que na verdade são grandes poemas
escolhemos com muito orgulho e satisfação, dois
para compor a primeira publicação do sarau da casa
amarela. a primeira de muitas.

sobre big charlie ainda vale dizer que atualmente
mora em guarulhos, trabalha num consórcio que
está construindo a linha 5 do metrô e é casado com
dona helenir marçal, tem um casal de filhos e dois
cachorros.

akira – abril de 2014.

(texto sem retoques que fiz para compor um breve
perfil de carlos alberto rodrigues, o big charlie,
para o seu livro "cavalos no peito" que será lançado
no dia 18/05/2014 a partir das 15h no sarau da casa
amarela de maio)

dedo mole 11


ninguém abre a boca
ninguém sabe de nada
ninguém dorme na sopa

a funilaria de dedo mole
vai muito bem, obrigado
vai de vento em popa

akira – 01/05/2014.

andré


vou levar comigo
para o pó, andré
a doce lembrança
de uma tarde aberta
há muito tempo

em alguma manhã
dentro do seu sonho
você corria sem dor
e seu sorriso dormia
nos meus braços

akira – 01/05/2014.

dedo mole (10)


fiz um pit stop veloz
ainda agorinha pouco
no bar do osvaldinho
apenas pra matar os bichos
saber das novidades
e abrir o apetite da janta
com um dedo de pinga

foi um pit stop infeliz
por um triz não saí na mão
com o mala do caixa d’água
que queria porque queria
que eu intermediasse um serviço
de funilaria, pintura e polimento
no martelinho de ouro
do dedo mole

akira – 29/04/2014.

lançamento do livro "movimentações pela cultura" no blablablá da casa amarela de abril



"movimentações pela cultura", um livro essencial para compreensão
dos movimentos e movimentações culturais na zona leste de sampa

o blablablá da casa amarela de sábado passado, 26/04/14, realizou
o lançamento do livro "movimentações pela cultura - um painel dos
movimentos culturais da região leste de são paulo de 1980 a 1990",
de autoria de patrícia freire de almeida, julio cesar josé marcelino e
joão luiz de brito neto, e editado pelo movimento cultural penha, o
mcp. não vou entrar no mérito das discussões e conteúdos surgidos
dos debates sobre este tema, mediados com maestria por escobar
franelas, que está cada vez mais craque em fazer a bola rolar com
suavidade no difícil meio de campo do blablablá que em abril teve
como convidados produtores e pensadores da cultura como patrícia
freire, almir bispo e tião soares. quero simplesmente dizer aqui que
saúdo o surgimento do livro "movimentações pela cultura", que lança
oportunas claridades e bem-vindas reflexões sobre os movimentos e
movimentações culturais ocorridas a partir dos anos 1980 na zona
leste de sampa. só quero dizer ainda que no calor das discussões o
meu velho coração sexagenário sofreu um baque e deu uma falhada
no momento que patrícia freire, coautora do livro disse que o ponto
de partida para escrever a obra foi o "1º congresso de movimentos
populares de cultura da cidade de são paulo", realizado no período
de 24 a 27/10/1985, no centro cultural de são paulo, e exibiu a todos
cartaz do evento. não sou um cara de bater no peito e dizer que fiz e
aconteci mas meu coração falseou porque foi minha a proposta deste
congresso e trabalhei dia e noite que nem um louco durante uns seis
meses para que ele acontecesse.

akira - 28/04/2014.
(fotos de lígia regina, sueli kimura e célia yamasaki da silva)



 
 

blablablá da casa amarela de abril, por escobar



"Blablablá na Casa Amarela: sábado"

O Blablablá é um projeto d´A Casa Amarela – Espaço Cultural, nascido da ânsia pelo entendimento do que acontece nos territórios marginalizados. Baseados nessa premissa, buscamos a excelência de idéias daqueles que se propõem a pensar o fazer cultural sob essas condições. Não somos modestos, queremos as histórias e memórias, a argúcia e a sagacidade, a ousadia e a sensibilidade. Queremos a revolução não estacionária, a evolução orgânica e constante.
Para tanto, a edição de abril do Blablablá ousou contemplar os movimentos (ou melhor, as movimentações) culturais que se processaram no último quarto do século passado, em especial na região periférica de São Paulo e que desaguaram nesses treze anos da nova centúria. O seleto time que conseguimos prospectar para discutir essa pantomima tinha ninguém menos que Tião Soares e Almir Bispo (poeta e ator histórico militante cultural da região do Itaim Paulista, além da organização Movimento Cultural Penha. Representado por Patrícia Freire, o MCP lançou o livro Movimentações pela Cultura, um rico “painel dos movimentos culturais pela região leste de São Paulo”, como atesta o subtítulo da obra.
Após o brinde e os números musicais iniciais, com Lígia Regina e Eder Lima exibindo o primor lírico usual e depois a cereja do bolo com Edvaldo Santana, que, em visita aos familiares e amigos de São Miguel, aproveitou para dar um rasante sobre a Casa, os diálogos foram iniciados. Historiadora de formação, Patrícia principiou contando um pouco de sua história e a ligação com o MCP. Apresentou, a seguir, a obra que estava sendo lançada: “a gente precisava entender a nossa militância dentro do contexto histórico”, explicou.
Quem a sucedeu foi Almir Bispo, ator, poeta e militante cultural desde a década de 1980, que explanou a forma como o Centro Cultural Itaim foi criado. “Na época”, ele disse, “o Mário Covas veio no aniversário do Itaim, a gente aproveitou pra reinvidicar e ele disse sim. A partir daí, passamos a cobrar de maneira enfática e constante. Dois anos depois inauguramos o Centro”, afirmou. Explicando assim, parece que foi tudo fácil. Mas não. O poder público, segundo ele, voltou atrás e travou o processo diversas vezes, mas a perseverança na luta por um bem que toda a comunidade almejava é que permitiu o êxito da conquista. “Se hoje está aberto ou de portas fechadas, se funciona bem ou mal, isso eu não sei, faz tempo que não vou lá. Mas na época conseguimos o principal, conquistamos o Centro Cultural para o bairro”, sentenciou.

“A política pública é quem determina, não o fazer cultural” (Tião Soares)

Provocado por este escrevinhador a fazer uma analogia entre as movimentações culturais e as manifestações de junho de 2013 pelo Brasil, Tião Soares, com a perspicácia de sempre, iniciou sua preleção afirmando que “desde a década de 1930 já rolavam movimentos, tutelados pelo Estado”. Doutor em Ciências Sociais e com um caudaloso histórico de produtor cultural, Tião estabeleceu uma linha cronológica para elucidar a perspectiva sobre como os movimentos (ou movimentações), estabeleceram paradigmas que foram sendo apontados e superados, dentro dessa linha do tempo. Para tanto, faz uma análise sensível das mudanças ocorridas junto com esses ventos de mudanças que ocorriam junto à abertura política que o país enfrentava no fim dos anos 70. Disse “o sindicalismo dos anos 70 e 80 era autônomo em relação ao sindicalismo dos anos 30 e 40. É nesse contexto que nesse período surgem os Clubes das Mães, que na zona leste fez nascer o Sistema Único de Saúde (SUS). Concomitantemente, é também na mesma região que nasce o Movimento Pela Moradia, os Mutirões, o Movimento de Creche”.
Edvaldo Santana, sentado na primeira fila, completa: “E o Movimento das Favelas”. Tião concorda e arremata, “quanto à analogia com as manifestações de junho último, temos que considerar que há por aí muito coletivo de uma pessoa só, o que é uma incongruência, um fragmento da movimentação anterior
Eder Lima, professor e músico da Casa, o interpela: “no período da abertura houve uma visibilidade dos movimentos sociais mas na área da cultura houve um arrefecimento de forças”. Novamente Tião concorda e complementa: “a gente hoje observa essa fragmentação nessas manifestações, em que a política pública é quem determina, não o fazer cultural”.

“a indústria cultural vai deixar de existir com essas novas tecnologias”( Almir Bispo).

Júlio Marcelino, ativo militante cultural e social na região da Penha e também um dos autores do livro Movimentações Pela Cultura, explicita “a Cultura, na visão de alguns gestores públicos, ainda é apenas uma ´cereja´”. Almir Bispo confere: “a indústria cultural vai deixar de existir com essas novas tecnologias”.
Retomando a palavra, Tião diz “os editais diferem dos movimentos orgânicos, como o Movimento Popular de Arte (MPA) e outros. Isso é provisoriedade, não é regular ou horizontal. O cara tá nesses CEUS, nesses Pontos de Cultura, que nem robô, onde muitas vezes impera uma estética sem ética”.
Danize Dagmar, uma das depoentes do livro que estava sendo lançado, pediu para explicitar a importância das relações dentro dessas movimentações culturais que estava sendo discutidas. Segundo ela, “as mulheres da periferia não apareciam, mesmo dentro desses movimentos”. Mesmo assim, ainda de acordo com seu depoimento “ver o MPA abrir mão de dinheiro do Estado foi uma felicidade, a gente viu que não estávamos sós, como a voz que clamava no deserto”. Ainda assim, Almir rebateu “a gente tem que buscar o edital. É uma conquista, um direito”. Cláudio Gomes, poeta desde o início do MPA, discorreu que “essa política de editais e prêmios é igual aos tempos coloniais: ´vamos alegrar o feitor que ele nos leva pra festa´”.
O avanço do debate indica que há uma leitura bastante heterogênea do que é política cultural, cultura e política pública de cultura. Tião Soares identifica essa fissura na discussão e pontua com outra provocação: “também há pessoas que não sabem a diferença entre administração e gestão”. A discussão avança carregada de proposições e de observações sobre acertos e erros da militância. Tanto que em dado momento, Akira Yamasaki, poeta, produtor e também um dos gestores da Casa Amarela, imprime sua marca, quando explica o Congresso de Movimentos Culturais, que estava sendo questionado naquele momento. Disse ele, “esse Congresso foi uma idéia minha, quando trabalhei na Secretaria Muncipal de Cultura. E tomei muita pedrada por isso. Era pra ter tido outros, o segundo, o terceiro, mas daí travou, parou tudo”. Ao que Tião placidamente contemporizou: “a cultura é conservadora, a arte é que é transgressora”.

“a história oral é um mecanismo essencial, pois a “história oficial” é sempre escrita pelo vencedor” (Patrícia Freire)

O Blablablá caminhava pra mais de duas horas de intensos e acalorados diálogos, quando propus a sua finalização e então Patrícia nos apresentou este apêndice: “nosso trabalho foi pautado na história oral. Na zona leste, a história oral é um mecanismo essencial, pois a ´história oficial´ é sempre escrita pelo vencedor”. Se quisermos saber uma verdade mínima dos fatos, não podemos esquecer esse detalhe.
Para avançar pra mais de três horas de evento, então ganhamos um show acústico de Edvaldo que, de posse do violão-banquinho-microfone, destilou sua poesia refinada para o público que continuava ali, sem arredar os pés. E quando convidou Lígia Regina para cantar com ele Canção Pequena Para Ninar Gente Grande, poema do Akira musicado por ele, a Casa Amarela pareceu ficar suspensa numa nuvem, com uma aura evanescente, equilibrada numa luz entre o sol e a lua.
Qualquer tentativa de explicar essa sensação vai dar em nada. Só quem estava ali saberá entender esse delírio.

Escobar Franelas.

lígia e éder cantam raberuan no sarau da casa amarela de abril


tião

autor: raberuan
voz: lígia regina
violão: éder lima
vídeo: selma sarraf bizon


vem aí o sarau da casa amarela de maio



comadres e compadres: vem aí
o sarau da casa amarela de maio

data: 18/05/2014 - domingo
horário: 15h
local: rua julião pereira machado, 07
são miguel paulista - são paulo
(em frente ao colégio hugo takahashi
próximo à sabesp)

convidados especiais:

.  adilson aragão, poeta, compositor e cantor

.  escobar franelas, poeta, escritor e historiador
- lançamento do livro "itaquera, uma breve introdução"

. carlos alberto rodrigues, vulgo big charlie, poeta
- lançamento do livro "cavalos no peito", de big charlie,
primeira publicação da casa amarela de ururaí edições,
que foi criada para registrar e divulgar os trabalhos
dos poetas e escritores que gravitam em torno do
sarau da casa amarela.

comadres e compadres, marquem em suas agendas,
divulguem, compartilhem e compareçam. quem vier
será bentivindo, quem chegar será bem chegado.

 

ganhei de líria porto


estio

um poeta sem versos é tão triste
quanto um rio seco

*líria porto

(um poema antigo para Akira Yamasaki)

agradecimento a seh m pereira


pássaro bombeiro
vou fiscalizar e manter
devidamente sinalizados
rotas de fuga
e pontos de encontro
infinitos adentro e afora
medidas preventivas
para propiciar a seh
legítimo bentevi
de raberuan estirpe
voos sem riscos
e maiores impedimentos

akira - 26/04/2014.

ganhei de seh m pereira


Para Akira Yamasaki
.
.
PASÁRGADA
Seh M. PEREIRA
.
.
.
.

Asa quebrada na minha frente,
passo

por cima..!
Sem medo

de bico..
Voo

sem pedir esmola..!

Ame

ou apedreje-me..
Sou passarinho

que come pedra..!

Voar
pra não chegar..?

Esquece..!

Só quero minha rota de fuga livre..

blablablá da casa amarela com tião soares


TIÃO SOARES, mestre em educação, doutorado em Ciências Sociais, pós-graduado em Gestão e Políticas Culturais, vice presidente e fundador do Fórum para as Culturas Populares e Tradicionais, Presidente e Fundador da Associação Barracões Culturais da Cidadania, Coordenador de Cultura e Relações Institucionais da Fundação Tide Setubal (2006-2011), Secretário de Cultura de Itapecerica da Serra (1997-2004); ganhou os seguintes prêmios nacionais: Gestão e Cidadania (FGV/Fundação Ford e BNDES); Itau/UNICEF (muitos Lugares para aprender); Prêmio Betinho, Atitude Cidadã (IBASE/FASE) e indicação para Premio Cidadão Sustentável da Cultura 2012, entre outros.
Com este notável currículo, podemos imaginar o que nos espera em seus depoimentos durante o Blablablá de sábado que vem na Casa Amarela. 


Escobar Franelas.

estiagem


estiagem brutal
pior que no sistema
cantareira da sabesp

estiagem hostil
céu de brigadeiro
nenhuma nuvem

vários dias a seco
não chove um verso
um mísero versinho
na minha horta


akira - 24/04/2014.

blablablá da casa amarela de abril lanla livro do mcp - movimento cultural da penha



Lançamento do livro Movimentações pela Cultura, no próximo sábado (26/04) a partir das 16h, rua Julião Pereira Machado, 07 em São Miguel Paulista, na Casa Amarela.
Roda de debates sobre produção cultural no ambiente periférico. Tema deste mês do Blablablá: Movimentos Culturais na Periferia". Convidados: Movimento Cultural Penha, Tião Soares e Almir Bispo.

almir bispo no blablablá da casa amarela de abril



hoje vou falar de um cara chamado almir bispo, que
além de imenso poeta e dramaturgo genial é diretor
de teatro da raça dos baitas, embora meio afastado
destas artes ultimamente, mas principalmente é um
lendário ativista cultural do itaim paulista, bairro do
extremo leste de sampa, onde construiu e cumpriu
um papel definitivo para mudar para sempre a face
da arte e da cultura na região. falar de almir bispo é
chover no molhado de uma extensa ficha de serviços
prestados para o desenvolvimento cultural de uma
região onde o braço omisso do poder público nunca
chega com ações políticas efetivas. por exemplo: em
1980 almir criou com alguns amigos do bairro um
grupo de teatro que fez história e resistiu até 1988,
o “semente a”, onde ele montou três inesquecíveis
espetáculos de sua autoria, a saber, o “tempo dos
homens sem tempo”, o “shopping center life” e o
“anormalidade do apocalipse”. por exemplo: junto
com alguns amigos do itaim paulista, almir criou em
1983 e liderou até 1989, um movimento cultural na
região, o espaço aberto para o desenvolvimento
cultural - eadec, que promoveu na época poderosa
mobilização popular no bairro que culminou com a
implantação pela prefeitura do centro cultural do
itaim paulista. acho que estes dois exemplos são o
bastante para identificar um dos caras que estarão
no blábláblá da casa amarela no sábado que vem –
26/04/2014, a partir das 16h para falar de um tema
comum a todos nós, o “movimentos culturais na
periferia nos anos oitenta”. já que a casa amarela
você sabe onde é: rua julião pereira machado, nº 07,
são miguel paulista (pertinho da sabesp), então você
não tem mais motivos para não aparecer. venha sim,
quem vier será bentivindo. divulgue e compartilhe.

akira – 22/04/2014.
 

sarau da casa amarela de abril, por escobar franelas


Uma crônica amarela

Pensei em iniciar esse texto falando bem do Akira, da Casa Amarela ou do Vlado Lima. Talvez do grupo Ururaí ou um dos convidados do Sarau de abril da Casa Amarela. Pensei em escrever lembrando que não pude participar, pois estava ocupado com as questões de produção do cd do mesmo sarau, que está em fase de produção. Pensei em mil justificativas ou conjeturas, o que dá na mesma: vou acabar falando do que não vi, apenas ouvi. Intuo que este texto vai sair melhor (ou pior, como queiram!) do que tentei. Bem, vamos lá!
Segundo o dicionário virtual Priberam (http://www.priberam.pt/dlpo/sarau), sarau é um substantivo masculino e significa “festa .noturna em que há dança, música, canto, etc”. Só isso? Não pode ser. O dicionário, que tanto tem me ajudado nessas décadas todas com minhas práticas, ainda assim às vezes torna-se frio e insensível ao sangue que forra minhas veias por dentro. Se alguém quiser adicionar um pouco mais de tempero, de alma, de experiência viva nessas linhas dicionáricas, que seja um ser menos “quadrado”, mais chegado a uns bons goles, ou algo que tire seus pés do chão bruto. Que, antes de escrever qualquer linha a partir do “pai dos burros”, que passe um domingo na Casa Amarela – Espaço Cultural. Depois, sim, pode-se meter à besta em escrever. E se escrever mal, estará perdoado, terá sido por conta dos excesso dominicais naquele templo onde se celebra a deusa Poesia.
Foi lá que no domingo último pude conhecer a obra sarcástica e carregada nas tintas dos pecadilhos (primo0irmão do trocadilho), do cantor, poeta, apresentador e mestre de cerimônia (sem cerimônias) Vlado Lima.
Ele, acompanhado de Edu Tiba (trompete), fez que fez, inventou, riu, cantou, declamou. Apropriou, mentiu, trovejou. Riu, provocou, serenou. Fez mais, diz que compôs, fez que fez, até me encoxou. Mas depois de fazer todo mundo rir à beça com o humor, o lirismo e a ironia fina, cedeu lugar para as aves canoras de São Miguel, de Baquirivu: o grupo Ururaí (Ojana Gouveia, Ademar, Celina Sales, Mauro Paes, Érika Porto, Cida Camargo, Janete Amaral), é justo dizer, seqüestrou todos os meus sentidos, todos os sentidos de todos.
Deixou-nos atônitos, sem chão para pouso. E se posso viajar nas idéias sem medo de ser e fazer-se feliz, afirmo que nesses anos todos de residência na Casa Amarela, ouvir Ururaí foi uma das experiências sensoriais mais avassaladoras que tive. Um primor para os ouvidos, um espetáculo para a alma. Transcendente.
Após essa elevação dantesca ao paraíso, eis que somos tomados pelos braços pelo leme seguro do mestre Akira e recebemos mais lufadas poéticas e musicais de Terê Cordeiro, Ojana Gouveia, Yuri Cortez, João Caetano, Paulinho dhi Andrade, Alexandre Santo, Manogon, Ligia Regina e Eder Lima, Sandra Frietha, Luiz Flávio, Cida Camargo e Ademar, Luka Magalhães, Celina Sales, Zulu de Arrebatá, Santiago Dias, Inácio Fitas, Guilherme Maurelli, Cicio Bonneges, Ricardo Soares, Carlos Bacelar, Ronaldo Ferro mais trio (Loucas Moura, no violão, Gabriel Moura, no carron e Gabriel Tavares no baixo), Seh M. Pereira e Paulo Gonçalves.
E se Seh trouxe lá das “Minas Geraes” a arca do tesouro abarrotada com o ouro da poeta Adriane Garcia, Fábulas Pra Adulto Perder o Sono (ganhador do Prêmio Paraná de Literatura-2013, categoria Poesia), e se Vlado relançava Pop Para-Choque (vendeu a dúzia de exemplares que trouxe logo na primeira meia-hora de evento), e se tudo isso que relato foi só de orelhada, ocupado que estava lá no fundão, então, cuidemos, louvemos, oremos, rezemos pelos nossos ouvidos e todos os outros órgãos de sentido. Pra que continuemos a ser presenteados com a graça da boa companhia, boa e inspirada companhia.

Escobar Franelas



Uma crônica amarela

Pensei em iniciar esse texto falando bem do Akira, da Casa Amarela ou do Vlado Lima. Talvez do grupo Ururaí ou um dos convidados do Sarau de abril da Casa Amarela. Pensei em escrever lembrando que não pude participar, pois estava ocupado com as questões de produção do cd do mesmo sarau, que está em fase de produção. Pensei em mil justificativas ou conjeturas, o que dá na mesma: vou acabar falando do que não vi, apenas ouvi. Intuo que este texto vai sair melhor (ou pior, como queiram!) do que tentei. Bem, vamos lá!
Segundo o dicionário virtual Priberam (http://www.priberam.pt/dlpo/sarau), sarau é um substantivo masculino e significa “festa .noturna em que há dança, música, canto, etc”. Só isso? Não pode ser. O dicionário, que tanto tem me ajudado nessas décadas todas com minhas práticas, ainda assim às vezes torna-se frio e insensível ao sangue que forra minhas veias por dentro. Se alguém quiser adicionar um pouco mais de tempero, de alma, de experiência viva nessas linhas dicionáricas, que seja um ser menos “quadrado”, mais chegado a uns bons goles, ou algo que tire seus pés do chão bruto. Que, antes de escrever qualquer linha a partir do “pai dos burros”, que passe um domingo na Casa Amarela – Espaço Cultural. Depois, sim, pode-se meter à besta em escrever. E se escrever mal, estará perdoado, terá sido por conta dos excesso dominicais naquele templo onde se celebra a deusa Poesia.
Foi lá que no domingo último pude conhecer a obra sarcástica e carregada nas tintas dos pecadilhos (primo0irmão do trocadilho), do cantor, poeta, apresentador e mestre de cerimônia (sem cerimônias) Vlado Lima.
Ele, acompanhado de Edu Tiba (trompete), fez que fez, inventou, riu, cantou, declamou. Apropriou, mentiu, trovejou. Riu, provocou, serenou. Fez mais, diz que compôs, fez que fez, até me encoxou. Mas depois de fazer todo mundo rir à beça com o humor, o lirismo e a ironia fina, cedeu lugar para as aves canoras de São Miguel, de Baquirivu: o grupo Ururaí (Ojana Gouveia, Ademar, Celina Sales, Mauro Paes, Érika Porto, Cida Camargo, Janete Amaral), é justo dizer, seqüestrou todos os meus sentidos, todos os sentidos de todos.
Deixou-nos atônitos, sem chão para pouso. E se posso viajar nas idéias sem medo de ser e fazer-se feliz, afirmo que nesses anos todos de residência na Casa Amarela, ouvir Ururaí foi uma das experiências sensoriais mais avassaladoras que tive. Um primor para os ouvidos, um espetáculo para a alma. Transcendente.
Após essa elevação dantesca ao paraíso, eis que somos tomados pelos braços pelo leme seguro do mestre Akira e recebemos mais lufadas poéticas e musicais de Terê Cordeiro, Ojana Gouveia, Yuri Cortez, João Caetano, Paulinho dhi Andrade, Alexandre Santo, Manogon, Ligia Regina e Eder Lima, Sandra Frietha, Luiz Flávio, Cida Camargo e Ademar, Luka Magalhães, Celina Sales, Zulu de Arrebatá, Santiago Dias, Inácio Fitas, Guilherme Maurelli, Cicio Bonneges, Ricardo Soares, Carlos Bacelar, Ronaldo Ferro mais trio (Loucas Moura, no violão, Gabriel Moura, no carron e Gabriel Tavares no baixo), Seh M. Pereira e Paulo Gonçalves.
E se Seh trouxe lá das “Minas Geraes” a arca do tesouro abarrotada com o ouro da poeta Adriane Garcia, Fábulas Pra Adulto Perder o Sono (ganhador do Prêmio Paraná de Literatura-2013, categoria Poesia), e se Vlado relançava Pop Para-Choque (vendeu a dúzia de exemplares que trouxe logo na primeira meia-hora de evento), e se tudo isso que relato foi só de orelhada, ocupado que estava lá no fundão, então, cuidemos, louvemos, oremos, rezemos pelos nossos ouvidos e todos os outros órgãos de sentido. Pra que continuemos a ser presenteados com a graça da boa companhia, boa e inspirada companhia.

Escobar Franelas.

sarau da casa amarela de abril, uma resenha de andréia gomes


No dia 13/04 aconteceu mais um SARAU na Casa Amarela que é um Espaço Cultural localizado em São Miguel Paulista.
A Casa Amarela tornou-se um ambiente diferenciado pela sua busca constante em promover eventos com qualidade, rico em conteúdo e bom senso.
O homenageado do respectivo evento foi  Vlado  Lima, músico e autor do livro de poemas Pop Para-Choque. Vlado Lima é conhecido pelo seu jeito irreverente e descontraído de ser, que envolve as pessoas num ambiente prazeroso de risos, cantos e alegria.
Crítico, ele conduz de uma forma sutil, todos ao seu redor a um embalo gostoso de sátiras e sarcasmos, porém, sem maldade no olhar e com muito carisma nos gestos.
Após apresentar sua obra como autor, Vlado Lima tocou e cantou acompanhado de Edu Tiba a música Ei Macoñero. Uma ilária e gostosa apresentação muito bem trabalhada pelos dois artisas, cuja qualificação tornou-se inquestionável.
Foi assim que, iniciou-se o sarau naquela tarde de domingo.
A partir daí, foi um show de talentos. Apresentaram o grupo musical URURAÍ, que encantou a todos com a excelência no canto, na postura, na simpatia e no talento nato expressado em cada um.
Akira Yamasaki, coordenador da Casa Amarela, escritor extremamente qualificado e de conduta impecável, escreveu em seu blog: “Ururaí é um lendário grupo musical vocal que existiu com várias formações no bairro do Itaim Paulista, no período de 1994 a 2012, quando deixou em seu rastro uma aura de encanto e deslumbramento com a música muito próxima do sublime que produzia. O Ururaí teve várias formações durante sua existência mas manteve sempre intacta a sua espinha dorsal formada por Ademar Silva - maestro, violinista e arranjador; Cida Camargo – cantora e professora de canto; Ojana Gouveia – violinista e cantora; Celina Sales – cantora e Marcos Medeiros, Erika Porto, Sueli Rocha e Janete Braga Od Larana, todos percussionistas e cantores. De origem indígena, Ururaí significa Rio dos Lagartos e era nome da aldeia que deu origem ao bairro de São Miguel Paulista”.
Enfim, a apresentação do Grupo Ururaí foi um presente para todos que ali os assistiam, por sua maestria, talento e história.
O sarau deu sequencia com os poetas, que fizeram homenagens e foram homenageados nas suas apresentações, vou destacar aqui dois marcantes poetas, não mais nem menos importantes que os demais, mas pelo impacto que a mim causou por ter um contato maior, são eles Paulino Dhi Andrade e o grande poeta que me encantou desde a sua primeira apresentação que pude assistir, Santiago Dias.
Paulinho Dhi Andrade se apresentou com um poema de sua autoria e o declamou com um entusiasmo que surpreendeu a todos. Foi uma mistura de força, ousadia, orgulho e amor pela escrita, digno de aplausos. Digo isso porque o poeta em questão, na maioria das vezes passa desapercebido pela sua característica sutil e observadora.
Já o poeta Santiago Dias me enche os olhos de alegria e prazer em ouvi-lo, com seu talento e experiência. Com muita humildade demonstra claramente que domina a arte e dessa forma encanta a todos. Sábias e expressivas palavras desperta verdadeiramente a emoção naqueles que o ouvem.
Desta forma o sarau deu sequencia com os músicos, aonde houve a apresentação do casal de artistas plásticos e músicos, Éder Lima e Ligia Regina. Casal este que, como sempre encanta a todos com seu talento e carisma.
Caminhando para a finalização do evento, convidaram para vir a frente Carlos Bacelar. Eu particularmente sou suspeita para tecer qualquer comentário porque o admiro-o tanto quanto pessoa como quanto profissional. De posse do seu violão selecionou em seu repertório riquíssimo músicas que deixaram todos os ouvintes embriagados pela canção. Dono de um talento nato e com arranjos impecáveis, disciplinado, calmo e observador sabe se colocar e alcançar o seu público com uma admirável maestria, e para valorizar ainda mais a situação, o grande músico Éder Lima se colocou a acompanhá-lo com sua flauta. Foi magnífico.
Por fim, outros mestres da música se apresentaram, também com muito talento e domínio da arte.
Não existe a menor possibilidade de finalizar essa nota sem mencionar os participantes do evento, que atentos acompanhavam a tudo com muita atenção e espontaneidade. Outro fato importante para mencionar são os responsáveis pela casa, atentos em recepcionar a todos com excelência e dedicação.

... e assim, fica o meu muito obrigada aos dirigentes da Casa Amarela por nos proporcionar momentos tão significativos de forma sóbria e ponderada.


Texto: Andréia Gomes
Fotos: Sueli Kimura