terça-feira, 23 de junho de 2015

minha rua


moro na rua assis freitas
esquina com a adriane garcia
e paralela à joelma bittencourt
que fica em bem frente
ao colégio gilberto braz
e próxima às praças francisco xavier
lígia regina, angela vilma 

e joão caetano do nascimento


tenho no centro da retina ferida
do meu olho esquerdo quase cego
uma bola azulada e desesperada
parecida com o céu da minha infância
quando anoitecia e eu
não encontrava o caminho de casa
e malgrado o avanço das pesquisas
com as células tronco
nenhuma clínica oftalmológica
consegue descobrir a causa
da minha lesão

por conta da minha escuridão
quando acordo todos os dias
ajoelho e imploro com fé:
minha santa bianca velloso
minha santa rogéria reis
minha santa cris de souza
valei-me minhas poetas santas
da minha cegueira salvai-me

moro na rua escobar franelas
no número edsinho tomaz de lima filho
na vila luka magalhães
no bairro rosinha moraes
na cidade rafael da silva
do estado de sacha arcanjo
e posso ser encontrado ainda
na caixa postal do sarau da maria
e no cep éder lima

tenho uma flor silvestre
nas mãos deformadas
por calos de foices e enxadas
sou apenas um plebeu sujo
descalço e desajeitado
quebrando louças milenares
neste salão de nobres saberes
e pobres poderes

só tenho uma flor inculta
nas minhas mãos de borracheiro
e moro na rua josé pessoa
número selma bento baia
cep claudemir dark'ney santos
e sempre aperto a tecla sap para ver
se entendo alguma coisa
costumo banhar-me
no rio punky além da lenda
e na lagoa márcia barbieri
costumo dormir olhando as estrelas
um dia num banco do jardim de hideko
e noutro no colo doce e meigo
da praça queila rodrigues

só tenho uma flor iletrada
nas minhas mãos analfabetas
e procuro o incomum
nos lugares comuns

moro num país enorme
banhado pelo oceano raberuan

moro num país infinito
de nome edvaldo santana
e qualquer morte é bentivinda

4º sarau do cesta na sexta



ganhei um presente emocionante do meu compadre sérgio fantini


Há poetas que dominam todos os recursos técnicos da língua e fazem poemas habilidosos - mas não têm o que dizer; há aqueles que não sabem quantos versos tem um soneto, e não conseguem passar sua sincera emoção em versos capengas; e há várias nuances entre esses dois modelos. Akira Yamasaki tem muito o que dizer e usa sem receio a poesia para isso. E, apesar de dominar os ingredientes das receitas, dosa seu uso para contagiar o leitor sem artificialismo. Seu "Bentevi, Itaim" é de uma beleza singela, que não disfarça a potência poética do autor.

ronaldo ferro no casa de farinha autoral


35º sarau da casa amarela


data: 21/06/2015 - domingo
horário: a partir das 15h

local: casa amarela
endereço: rua julião pereira machado, 07
são miguel paulista - são paulo (próximo à sabesp e em
frente ao colégio hugo takahashi)

convidados especiais:

. pérola negra, cantor
. francis gomes, poeta e cordelista
- lançamento do livro "semeando versos colhendo cordel"
. ademir assunção, poeta, compositor e jornalista
- lançamento dos livros "pigbrother" e "até lugar nenhum"

palco livre e microfone aberto
traga sua poesia e sua canção
traga sua alegria e sua emoção
quem vier será bentivindo
quem chegar será benchegado






música: evandro navarro
letra: akira yamasaki
vozes: ronaldo ferro e evandro navarro
filmadora: francisco xavier

um nóia já ancião
e dez homem de fé
disputam territórios
no marco zero da sé
pútrida a noite descai
fedem na praça da sé
o cheiro secular
que não se esvai
de mijo, bosta e chulé

sábado, 6 de junho de 2015

o buraco d'oraculo realiza homenagem ao mpa


em sua IX mostra de teatro popular de são miguel paulista,
no sábado passado - 23/05, o buraco d'oráculo prestou
uma singela mas emocionante homenagem ao movimento
popular de arte, o mpa, agrupamento de artistas que atuou
na região de são miguel paulista no período de 1977 a
1986 e exerceu poderosa influência no desenvolvimento
artístico do bairro. em nome de todos os companheiros
que fundaram e construíram a história do mpa fui lá com 
edvaldo santana, sueli de oliveira, sacha arcanjo, zulu de 
arrebatá e sueli kimura para receber e agradecer ao povo 
do buraco pelo reconhecimento e homenagem. e como 
 não podia ser de outra forma tudo acabou em poesia e 
cantoria em plena praça. muito obrigado, comadres e 
compadres do buraco d'oraculo, deixo aqui a nossa 
eterna gratidão por este gesto de amizade, afeto e 
generosidade.

akira - 25/05/2015.


 

arte


o governador passa
um dia vira nome de rua
de escola ou de praça

a arte do povo
passa de boca em boca
de mão em mão e fica


akira - 25/05/2015.

governos são frágeis
governos são falsos
a arte é constante
a arte é permanente 
e o artista perseverante

sacha - 25/05/2015.

1º de abril



cheguei na curuçá
vindo do interior
japinha pé de chinelo
no dia 01/04/1964

fumei dos 14 aos 48
e parei a pedido
de andré, meu filho
no dia 01/04/2000

junto com raberuan
fiz o primeiro sarau
da casa amarela
no dia 01/04/2011

hoje aos meia três
espero o primeiro de abril
do ano que vem pra ver se lá
consigo parar de beber

akira - 26/05/2015.

bentevi, itaim na banca da poesia


vou com o maior prazer
na banca da poesia
confesso que estou estou
honrado demais pelo convite

vai ser o encontro
do tiozinho do mpa
com os poetas meninos
e meninas do map

algumas gerações entre nós
mas a poesia, a amizade
e a generosidade são os elos
e os nós que nos amarram
uns aos outros

akira - 26/05/2015.

dedo mole 30




cruzei com o prezado
no cumbuca cheia do pernambuco
dando uma carteirada
nunca imaginaria isso dele
pra furar a fila da feijoada

ele olhou pra mim sem me ver
com seus olhos de bolas de gude
e eu fiquei me perguntando
se ele está cego mesmo
ou se é candidato ao oscar

eu fiquei me perguntando
o que é que meu amigo prezado
faz questão de não enxergar
andando sem cão guia e bengala
pelas ruas do oliveiras

o que será que ele viu
quando pediu uma mesa e sentou
numa cadeira destas de  plástico
pra não ver com seus olhos de cego
o tudo e o nada?

akira – 06/06/2015.

pombas urbanas na casa amarela


comadres e compadres, a casa amarela recebeu na manhã de 24/05/2015 - domingo, com imensa alegria e não menos honra, a visita do pombas urbanas com quatro grupos de teatro gerados em suas oficinas, para uma troca de figurinhas, saberes, experiências, conhecimentos e reflexões, com o pessoal da casa amarela e com remanescentes do movimento popular de arte, o mpa, numa atitude colaborativa entre artistas populares de no mínimo três gerações diferentes que atuam na região. no fim a conversa acabou girando em torno da história do mpa mas já ficou marcado um novo encontro para um dos próximos blablablás quando esta ação colaborativa entre os grupos será aprofundada. no encerramento do evento teve até espaço para rápidas apresentações do grupo filhos da dita, primeiro grupo nascido nas oficinas de teatro do pombas urbanas, a quem a casa amarela agradece pela manhã maravilhosa proporcionada, e de poemas e canções dos poetas e músicos presentes.

o 3º sarau cultural do metroclube foi assim


3º sarau cultural do metroclube


japinha



onde vai essa japinha
de cabelos compridos
e olhos indefinidos?

essa japinha onde vai
com uma rosa nos cabelos
e uma roseira no vestido?


vai dançar no alberta
vai beber no astronete
ou comprar fruta na feira?

quem sabe a japinha
vai ficar aqui mesmo
no forró do oliveiras?

akira - 27/05/2015.

vem aí o mais imperdível de todos os saraus da casa amarela: o 35º


data: 21/06/2015 - domingo
horário: a partir das 15h

local: casa amarela
endereço: rua julião pereira machado, 07
são miguel paulista - são paulo (próximo à sabesp e em
frente ao colégio hugo takahashi)

convidados especiais:

. pérola negra, cantor
. francis gomes, poeta e cordelista
- lançamento do livro "semeando versos colhendo cordel"
. ademir assunção, poeta, compositor e jornalista
- lançamento dos livros "pigbrother" e "até lugar nenhum"

palco livre e microfone aberto
traga sua poesia e sua canção
traga sua alegria e sua emoção
quem vier será bentivindo
quem chegar será benchegado

sobre ademir:

Ademir Assunção (Araraquara/SP, 1961) é poeta e jornalista. Publicou livros de poesia, contos, romance e jornalismo, entre eles LSD Nô (1994), A Máquina Peluda (1997), Zona Branca (2001), Adorável Criatura Frankenstein (2003), A Voz do Ventríloquo (2012 – Prêmio Jabuti) e Faróis no Caos (2012). Gravou os CDs Rebelião na Zona Fantasma (2005) e Viralatas de Córdoba (2013). Integrou diversas antologias internacionais como Pindorama: 30 Poetas de Brasil (Buenos Aires/Argentina, 2000), New Brazilian & American Poetry (New York/EUA, 2003), Perfectos Extraños – Seis Poetas de Brasil (Cidade do México/ México, 2004) e 90-00 – Cuentos Brasileños Contemporáneos (Lima/Peru, 2009). Letrista de música, tem parcerias gravadas por Itamar Assumpção, Edvaldo Santana, Madan, Patrícia Amaral, Titane, Mona Gadelha e banda Nhocuné Soul. É um dos editores da revista literária Coyote, junto com os poetas Rodrigo Garcia Lopes e Marcos Losnak.

banca forte


rapáááá!!!! ontem à noite foi especial e emocionante como
somente uma vez na vida com muita sorte, pode ser para
alguém. fui lá com sueli kimura. ligia regina, eder lima,
euflávio góis, sacha arcanjo e josé pessoa também
foram comigo. fui lá eu, um tiozinho sexagenário, para me
encontrar com os poetas meninos e meninas da banca da
poesia, que é mais um projeto bem sucedido do movimento
aliança pela praça - o map, que tem protagonizado na cena
cultural em são miguel paulista um belíssimo momento de
resistência cultural ocupando há alguns anos, praças e
escolas no bairro com ações de arte e cultura. fui lá, falei,
gritei, cantei e dancei.
fui lá e disse que também fiz parte de um grupo de artistas
nos anos 1970 e 1980, que tinha um nome parecido com o
do map, o mpa - movimento popular de arte, que também
promovia atitudes de resistência cultural, era sim um outro
momento histórico, com ocupação de praças e escolas no
bairro com atividades artísticas e culturais. fui lá e falei uns
poemas daquele período.
fui lá ontem à noite e falei com o rosto banhado de lágrimas
depois que os meninos e meninas da banca falaram alguns
versos do meu livro bentevi, itaim, que se um abismo de
mais de 35 anos de história separa o mpa do map estamos
unidos pelo mesmo dna, o da resistência cultural, mesmo
que em contextos diferentes. abismo facilmente superado
por pontes construidas com tijolos de poesia, arte, amizade
e generosidade.
fica aqui a minha gratidão eterna à molecada do map. não
tenho dúvidas que essa banca é forte mesmo. pódis crê. 


akira - 29/05/2015.




meu herói


o meu herói
não tem visão de raio xix
é só um menino sonhador
que faz e fala poesia
nas ruas, nas praças
e dentro dos trens da cptm
nos horários de pico


o meu herói
não é de aço nem elástico
é só um bróder comum
cheio de esperanças e doçuras
que anda a pé e de busão
pelas quebradas de são miguel

rafael carnevalli é seu nome
e a amizade é sua profissão

akira - 01/06/2015.

casa de farinha autoral de junho


as casas de farinha e amarela orgulhosamente convidam
para o casa de farinha autoral - arte & gastronomia de junho

data: 19/06/2015
horário: 20h

local: casa de farinha
endereço: rua santa rosa de lima, 1341
são miguel paulista - são paulo
(altura do nº 1800 da marechal tito)
artistas convidados:

. música: ronaldo ferro e ururai sound
. mestre cuca: francisco xavier

realização:

. casa de farinha
. casa amarela

injusto


não sou justo
o que passou
nunca passou

akira - 03/06/2015.

contagem regressiva para o 35º sarau da casa amarela


data: 21/06/2015 - domingo
horário: a partir das 15h

local: casa amarela
endereço: rua julião pereira machado, 07
são miguel paulista - são paulo (próximo à sabesp e em
frente ao colégio hugo takahashi)

convidados especiais:

. pérola negra, cantor
. francis gomes, poeta e cordelista
- lançamento do livro "semeando versos colhendo cordel"
. ademir assunção, poeta, compositor e jornalista
- lançamento dos livros "pigbrother" e "até lugar nenhum"

palco livre e microfone aberto
traga sua poesia e sua canção
traga sua alegria e sua emoção
quem vier será bentivindo
quem chegar será benchegado

sobre francis gomes:

Poeta, escritor premiado e cordelista, francis gomes nasceu em Assaré, mas viveu em Farias Brito, ambos no Ceará. Participou de oito coletâneas, três vídeos e dois CDs de literatura, sendo também um dos vencedores do primeiro festival de cordel da CTN (Centro de Tradições Nordestinas), em 2011. Foi presidente da Associação Cultural Literatura no Brasil por quatro anos. É autor de 22 folhetos de cordel e do livro de poesias “Ecos do Silêncio”. Faz palestras e oficinas sobre literatura, em especial sobre literatura de cordel, a importância de ler entre outros temas.

sexta-feira, 5 de junho de 2015

miragaya


uma alegria grande
de sonoridade estrepitosa
veio domingo passado
e agora está morando
na casa amarela


uma alegria alvoroçante
demarcou territórios
por todos os cantos da casa
com sua felicidade ruidosa
e agora se nega a partir

pois que seja então
a essa alegria incomum
de nome guilvan miragaya
faço um convite formal:
- fique aqui para sempre

akira - 29/03/2015.


 

fim de férias


férias voaram
como um fio de fumaça
o amanhã é agenda
carregada até a boca

outro último domingo


domingo de manhã
depois do futebol
cervejinha gelada
pinga com limão
linguiça acebolada

porque a vida é só
uma bolha de sabão
um voo de pássaro
breve ilusão dentro
de outra ilusão

akira - 19/03/2015.

beira mar


estava na beira do mar
em bertioga, enseada
na praia à beira mar

havia um pombo sozinho
caminhando à beira mar
um pombo viuvo sem saber
pra que lado caminhar


se na direção do infinito
ou no rumo da eternidade
para um peixe pescar 


estava com sueli kimura
na enseada de bertioga
na praia à beira mar

akira - 27/03/2015.

oliveiras blues (8)


contemplo o sol que acaba de nascer
no asfalto injusto da minha rua
sobre os meus desenganos

aqui e ali vejo espalhados no chão
casais de pombos
pinos de pó e preservativos

amanhece no oliveiras
nos sacos de lixo nas frentes das casas
trecheiros esmiúçam sobras recicláveis

akira - 25/03/2015.

arnaldo


arnaldo, véio
o amor é cego
o riso insulta
o ódio vaga


arnaldo, véio
a palavra muda
sob o céu surdo
ante o mar tanto

arnaldo, véio
o pano cai
o tempo cala
o olho vaza

akira - 23/03/2015.

ganhei presente de joão caetano


VISITA NO DOMINGO - 22/03/2015 - João Caetano
Ou de minha história com Akira Yamasaki, Marco Cremasco e Nydia Bonetti


Manhã de domingo
A campainha vibra
E Toca que toca
Toca e delira
Vejo quem me chama:
É compadre Akira.
Desço num minuto
Olho tal figura
E levo um susto
Mais morto que vivo
Mas ainda de pé
Ele sequer fala
Somente delira
Grito, me ajudem:
Passa mal o Akira.
Ele não respira
Tomba ofegante
Pede água, gim
E um bom calmante.
E num breve instante
De apenas três horas
Já longe do sol
Akira melhora
Recupera a fala
Conta devagar;
“Joguei futebol”.
Agora, contente
Com cara de vivo
Saúde a mil
Me deixa gentil
Dois baitas presentes
Um mundo de cores
Num pequeno frasco
Esse grande livro
“As coisas de João Flores”
Do Marco Cremasco.
Mas tem muito mais
Tem coisa de gala
Vou me arrumar todo
Passar a gilete
Pentear o topete
Cuspir o chiclete
E então me perder
Nesse mundo mágico
Do livro “Sumi-ê”
Da Nydia Bonetti;

Com tanto presente
A gente até pira
E diz volte sempre
Adalberto Akira

jardim de hideko 24



férias
manhã de segunda-feira
plena de chuvas e preguiças
jabá com batata picada
cozinhando na panela


temperei
só com alho, cebola
e ajinomoto o bastante
para acentuar o gosto

ôpa, ainda bem
que desta vez acertei
no ponto do arroz
que sempre deixo queimar

abre meu apetite
e os caminhos dos cheiros
a caipirinha de pinga
com limão cravo colhido
no jardim de hideko

assim como fortalece
a minha certeza que seu kami
itinera assiduamente por aqui
de março em março
como um beija-flor

akira – 16/03/2015.

jardim de hideko (23)


observo por horas
com olhos de detetive
mãos de filho bastardo
e rosto devastado
pelas ilusões da vida
e espinhos dos anos
o jardim que herdei
de modo impuro e vil


procuro identificar
ali na pétala da rosa
no perfume que exala
a haste do capim santo
talvez naquele tronco
derrotado de cerejeira
o kami de hideko

mas se bem a conheci
em seu amor vigilante
e precavido com o dia
hediondo do amanhã
seu kami fez domicílio
nas tatuagens brancas
das rugas madrinhas
do limão cravo

akira – 13/03/2015.

(foto de clarice yamasaki)

cara de feirante


1

macaco chinês
perguntei pra mim
porque seus olhos
são tristes assim?

porque não vêem
as pipas de papel
sonhos de meninos
voando alto no céu?

2

cara redonda de bolacha
nariz indígena de batata
cabelos de rosca macha
boca de rebite e tarraxa

ouvidos de ruas e relatos
sonhos de vinhos e pratas
olhos de águias e regatos
oh pobre coração de lata

3

cara de feirante
de vendedor de tomate
quiabo e repolho

mãos de borracheiro
ajudante de caminhão
e servente de pedreiro

semblante queimado de peão
por décadas excessivas de sol

olhos indígenas lavados
de mijos de cobras
e águas da lagoa verde

médio volante de estirpe destruidora
no santos do morro de triste memória

péssimo aluno
mal terminou o colegial

poeta por mero acaso
ou porque o destino
cometeu um descuido

luca


luca bastos veio
um dia à casa amarela
para conhecer adriane garcia

assim passou por mim
como um sol agonizante
a caminho do fim

é uma pena que só pude
pegar a cauda de sofrimento
e dores dos seus últimos dias

ainda bem que tive tempo
de constatar o calor infinito
do seu amor e generosidade

akira – 09/03/2015.

um bom lugar




tem um lugar
muito distante
dentro de mim

onde nem eu
consigo chegar
tão longe assim

um bom lugar
lá não existe
nada de ruim

é onde eu irei
quando estiver
perto do fim

akira – 09/04/2015.

carta para akira


fiquei comovido com as palavras do meu compadre
fernando rocha nesta carta. vindo de quem vem, um
dos escritores que eu mais respeito e admiro sobre
esta terra, esta carta é mais um presente que recebo
com humildade, de mais um amigo trazido a mim pela
poesia. gracias, véio.


Caro Akira,
Um poeta lá de Cubatão, criou uma página chamada viver a vida como um poema, após ler os seus livros: Oliveira Blues e Bentevi, Itaim, pude ver que embora não tenha nomeado tal estilo de existir, você o pratica há muito tempo. Pois textos como Canção pequena para ninar um menino morto, escrito em 1979, nos oferece a oportunidade de perceber que a sua poesia é conduzida pelo movimento seja das pernas ou das rodas que carregam seu olhar por paisagens e pessoas que para muitos são apenas mero pano de fundo, mas para você são protagonistas que suas palavras tentam afagar, como quem por meio do afeto descasca as máscaras e fantasias do social, devolvendo humanidade aos meninos de rua ou apara dedo mole e nóias.
No primeiro sarau da Casa Amarela, Arnaldo Afonso disse que há algo especial naquele lugar, mas como o lugar é parte do ser, acho que entendo o que ele quis dizer, pois na sua poesia obviamente que partindo da individualidade o caminho só permite ser percorrido em companhia, a referência aos amigos é contínua, você se dilui entre eles e ganha ao tornar-se múltiplo desde poemas dedicados diretamente a eles como para João Caetano e Sacha Arcanjo ou em dedicatórias para Escobar Franelas e Ronaldo Ferro, chama a atenção o movimento de criar referências ao invés de recebê-las digeridas.
No célebre poema de Poe, a renitência do corvo ao emitir never more, perde para o seu bem-te-vi, pois ao não cantar, ele deixa o silêncio, herança do avô, ecoar e em nosso tempo onde a paisagem sonora é ruidosa e ouvi-lo tem o mesmo efeito de um grito em meio à meditação de monges.
Desde o título a alguns poemas o bairro aparece em sua obra para além de descrições geográficas, tornando não o lugar, mas as sensações obtidas por meio dele em sentimentos universais, eu que sempre reclamei do gás da nitro, me recolho em minha ignorância sensitiva.
O tempo e os pássaros em ti, asas que querem abraçar o todo, paralisar os ponteiros e os dígitos do relógio. A poesia que namora o cotidiano e antes de ser transplantada para o papel, vive dentro dos sentidos e sentimentos do seu ser resistente, que não permite ser domesticada pela estética vazia.

foi dada a largada do casa de farinha autoral com sacha arcanjo


com sampa debaixo das águas de março fechando o
verão, muita gente não conseguiu chegar, sei disso
devido à quantidade de ligações e mensagens que
recebi no celular, para o casa de farinha autoral –
arte & culinária, mais um projeto cultural realizado
em parceria pelas casas de farinha e amarela, cujo
lançamento foi ontem com um grande e aplaudido
show de sacha arcanjo devidamente escoltado pelo
lendário feijãozinho da dona célia cabelo – que teve
triplicada sua fama ontem com certeza, além da
esperta e competente companhia de rodrigo marrom
na percussão. na verdade, na verdade, quem abriu a
noite foi a atriz e bailarina tatiana melitello que fez
belíssima performance de dança contemporânea, de
veemente solidão urbana. foi ótimo ontem, as casas
amarela e de farinha agradecem a presença de todos
que bentivieram para celebrar a alegria e a amizade,
e deixa aqui um convite para os próximos casa de
farinha autoral: 17/04, com o músico e cantor tião baia,
e 08/05, com um monte de escritores e poetas
mineiros da raberuânica estirpe dos baitas,erre amaral, 

arriane garcia, germano quaresma e sergio fantini,
dentre outros. hasta la vista, minhas comadres e
meus compadres.



andré e o gato


tsutae (avô): cadê o gato, andré? 
tsutae (neto):- shimiu, o gato shimiu, vô.