quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Mais um poema de Cláudio Gomes

Um poema intrigante, surpreendente e inquietante.
Um legítimo Cláudio Gomes saindo do forno.

Akira - 29/10/2010.

Destinos

a borboleta estacionou no sangue
enquanto o caminhão partia

quatro gotas de sorvete de groselha
escorregaram na pele branca

alfinete de medalha furou
o vermelho da farda do soldado

a menina viveu.
o pai deu uma foto dela ao soldado.

duzentos e noventa e dois frangos, alguns nascidos galinhas,
foram sacrificados para consumo humano, trinta e sete horas depois
do fim da estrada.

na volta a carga será ração.


Cláudio Gomes – 28/10/2010.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Osnofa, a bola da vez (6) -

CD Finalizado

O "PRA MIM", o CD do Osnofa já está pronto.
Aguardem datas e locais de lançamento.
Os interessados na aquisição do CD podem  encomendá-lo com o Akira no 9971 4559 ou pelo email akira-yama@hotmail.com.
Custa quinze paus e veja abaixo uma pequena amostra do trabalho, o "Zé Neguinho", música do próprio Osnofa.

Akira - 25/10/2010.





http://www.4shared.com/audio/ENDqH-AI/13_Osnofa_-_Z_Neguinho.html

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Íngua (3)


o perigo mora no medo
que além do delator produz
a dissimulação e o segredo
o herói, o judas e o jesus
o sagrado é mero arremedo
a espada é siamesa à cruz.

akira – 20/10/2010.

domingo, 17 de outubro de 2010

Íngua

tenho medo
o perigo mora
na rua deserta
na noite escura
piscam alertas

tenho medo
o perigo mora
após a esquina
sombra no desvão
revela a retina

tenho medo
o perigo mora
dentro da favela
menino magrela
preto, banguela

tenho medo
o perigo mora
em caroço de osso
tumor de virilha
íngua de pescoço.

akira - 17/10/2010.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Um poema de André Marques


Sabedor das sangrentas indagas poéticas ocorridas em terras de São Miguel de Ururaí, onde em cenário de paixões, ferimentos e sangue, os poetas Cléston Teixeira, Sacha Arcanjo, Carlos Alberto Rodrigues, Xicoedú, Francisco Carima, Akira Yamasaki, Tiago Araújo e Escobar Franelas  protagonizaram duelos de épicos punhais e amores não correspondidos, - sabedor destas proezas, o meu amigo André Marques e, por mera concidencia, grande poeta, compositor e cantador, resolveu participar também do galope das armas brancas.
Acabo de receber o poema abaixo que veio direto de Irecê - BA. Akira - 13/10/2010.


Punhal afiado galopa
Na estrada do ferimento

Quando a vida  despedaça
A morte se faz  inteira
Sentimento na  ladeira
A saudade nunca alcança
Fria dor freia a esperança
E eterno fica o momento
Bóia sangue e sentimento
A lágrima o rosto ensopa
Quando um punhal galopa
Na estrada do ferimento

Me lembrei de cangaceiro
Jagunço, cabra  e coronel
Brigas de feira e bordel
Emboscada de traiçoeiro
Indaga de “bebo” em terreiro
De cabra doido violento
Tudo acaba no momento
Pois a vida a morte topa
Quando um punhal galopa
Na estrada do ferimento

Arma branca criou cor
Negro enfiou no branco
Que rasgou-lhe o fino flanco
Fez a morte do feitor
Partindo o  buxo do  senhor
Na cesárea do lamento
E a morte foi seu rebento
É assim que se acaba tropa
Quando um punhal galopa
Na estrada do sofrimento


André Marques.

domingo, 10 de outubro de 2010

Destino


porque sou incapaz
das tarefas mais simples
como trocar uma lâmpada
consertar o chuveiro
ou ajustar o alarme
do telefone celular

porque sou incapaz
de administrar agendas
assuntos e compromissos
dias, horários, locais
e o maior dos pecados
sou um desastre
com datas que comemoram
aniversários e casamentos

porque minhas mãos
são incapazes de ternuras
alegrias e emoções  banais
e meus olhos há muito
não se comovem mais
com o por do sol que cai
além dos arranha-céus

porque sou incapaz
de gestos de aproximação
e palavras de afeto
ante o riso cristalino
de crianças brincando
mas que quando sozinho
choro em silencio a solidão
e o abandono de todas elas

porque fui moldado
no barro de povos primitivos
à imagem e semelhança
de ascenstrais navegantes
guerreiros poderosos
guiados por ventos e estrelas
em migrações continentais

porque sou assim
sou um condenado às viagens
e às longas temporadas
de caça e pesca
e morro aos poucos
a cada parafuso que aperto.

akira – 08/10/2010.

sábado, 9 de outubro de 2010

Nenê

pré-natal

pelo sonar uterino
ouvi pela primeira vez
a cadência guerreira
do coração de andré

nunca mais vou esquecer
quantos carnavais eu viva
o batuque da vida
dentro de outra vida
batendo mais forte
que a bateria da nenê.

akira – 1988.

O coração de Alberto Alves da Silva, o Nenê da Vila Matilde, 
parou de bater nessa segunda feira, aos 89 anos de idade. 
Uma grande perda para o samba brasileiro, apagou-se um 
farol da cultura popular na Zona Leste. 
A essas hóras deve estar o maior carnaval lá no céu.

Akira - 09/10/2010.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Semáforo (2)


por todo o país
o belo é urdido
nos dedos dos poetas

nas palavras exatas
destes mentirosos
em tempo integral

palavras misturam
veneno e mel
açúcar e fel e tecem
precisas arquiteturas
que dissecam a casca
das trajetórias e itinerários
dos sentimentos humanos
turbilhões de mágoas
diásporas de paixões

por todo o país
nos semáforos das cidades
infâncias apodrecem.

akira – 08/10/2010.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

miyuki (4)

voce é um punhal afiado
enfiado no meu ferimento
revirando e retorcendo
pelo puro prazer apenas
da tortura e do tormento
até que na ponta do aço
somente a dor prevaleça
e morra o discernimento.

akira - 04/10/2010.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Osnofa, a bola da vez (5)

Aguardem para breve, lançamento do CD "PRA MIM", de Zé Afonso Osnofa, uma realização do Projeto Memória Musical na Região de São Miguel Paulista, do IPEDESH.

Akira - 02/10/2010.