quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

hayashi



tarcísio hayashi
japa indaguento
siamesa síntese
de tres elementos
punhal ferino
infécto ferimento
e no mesmo punhal
antídoto e unguento

akira.
30/12/2009.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Poema para o Buraco D'Oráculo

buraco d’oráculo

se o coração ainda
indaga e se indigna
a cabeça não empoça
não mofa nem estagna
e clara reluz a sina
se o olho ao alvo mira
cumpre-se à mão cega
destino que se designa


Conheci o Buraco D'Oráculo numa praça que fica no fim da Penha de França, faz uns dois anos, eles estreavam a Farsa do Bom Enganador, amor à primeira vista e caí de quatro abanando o rabo para sempre, teatro maiúsculo de povo para povo, não sei se de rua. Nesse dia eu soube informalmente pelo Adailton que eles faziam um circuito de apresentações com vários grupos de teatro de rua pelos bairros da zona leste e eu comentei que bom seria se minha rua fosse incluida nesse roteiro - pois nós vamos lá na próxima programação -, tá bom, me engana que eu gosto, vou esperar e esqueci o assunto. Não é que alguns meses depois recebi uma ligação do Edson dizendo que a minha rua tinha sido contemplada com quatro domingos em julho de 2008? Foi quando tomei contato com esse teatro que ocupa as ruas e praças da cidade promovendo atitudes, ações e caravanas que vão aonde o povo está. Acho o Buraco essencial como o ar que se respira e cada vez que tenho oportunidade de vê-los cresce meu amor por eles.


Akira.
30/12/2009.

Natal 2009 das crianças do Jardim Romano - Parte 2



Acabo de receber email do genial Gilberto Braz com o poema abaixo. A foto data de 26/07/2009, de uma apresentação que fizemos no Jardim Romano. Akira - 30/12/2009.


Akira,
Infelizmente, na semana passada, uma criança do Jardim Romano foi assassinada com suspeita de Leptospirose.

menino do rio

no avesso da vida
a primavera foi-se com as chuvas
ratos o mataram.

Gilberto Braz - 30/12/2009.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Semana irada / Final - Nóis com nóis



Semana irada – Final (nem eu aguento mais)
Nóis com nóis

Na 5ª – 17/12, depois de pesadas indagas nos dias anteriores, umas cruéis, algumas atrozes, outras hilárias e aquelas ainda, repletas de afeto e ternura, neste nóis com nóis diário da comunidade das artes de São Miguel e adjacências – reality show do nosso mundinho pequeno, mas eterno e infinito -, trabalhei morto, cheguei morto em casa às 18h00, supliquei morto para Sueli Kimura que não estava para ninguém mesmo e cai morto na cama. Acordei morto e assustado às 19h30 com o celular berrando furioso, o burro esqueceu de desligar, um dilúvio desabando lá fora e Sacha perguntando se eu ia no SP Cidade da Música lá no Jardim Helena - daqui não saio nem morto, velho -, virei para o outro lado e morri de novo. Soube por relatos posteriores de boa procedência que Jardim Helena foi um nóis com nóis pluvial e necas de pitibiriba de público.
Na 6ª – 18/12, não deu para colocar em prática a idéia de ir para casa dormir depois do serviço porque Sueli Kimura bateu o pé para ver o Chico César e então, manda quem pode e obedece quem tem juizo, saí do serviço meio morto mas raspei no CEU Curuçá onde recebi na porta uma senha para entrar devido risco de superlotação, meu olho clínico detectou uns 70% da capacidade, mas é melhor prevenir que remediar. Galera toda presente mas em partes diferentes do teatro, dei umas escapadas com Nando Z, velho barreiro com limão e cerveja quente ninguém merece, Nando, enquanto Sacha enroscou num papo pra lá de filosófico com o Bira da Curuçá e media o comprimento das suas tranças hastas que batiam nos calcanhares. De resto nunca tinha visto um show do Chico César ao vivo e ele é mesmo tudo que dizem dele e mais alguma coisa, sua poesia contém a síntese da vida, da forma correta e da beleza perfeita e a sonoridade do seu canto é universal apesar de partido de um microcosmo regional. Cantador carismático e performance contagiante, fiquei com a impressão que Chico César é uma força da natureza, um diamante único e quando o show terminou, de repente todo mundo sumiu, todo mundo tomou doril, celulares de Cléston e Sacha na caixa postal, mistério, nem sinal de Marrom, Nando Z, Tarcísio Hayashi, cadê todo mundo? Ficamos sozinhos na frente do teatro, Sueli, Cláudia, Raberuan e eu, todos com fome, vamos comer uns espetinhos de gato no Toninho, uma carne de sol com mandioca no Gildes, uma pizza com algumas lasquinhas de aliche – preferencia de Raberuan, nunca vi mineiro mais paraguaio -,  até que concordamos com o restaurante japones da Praça da Paz, onde nem estávamos acomodados ainda quando o celular tocou com Cléston do outro lado. Daí a pouco ele chegou com Cláudio Gomes a tiracolo e nem sentou já foi atacando desesperadamente as entradas agridoces de pepino, quando logo em seguida chegaram Nando Z e Sacha Arcanjo, e tome missoshiro com tofú, caipirinha de saquê, gorram com carne bovina e berinjela ao gengibre, e tome sukiyaqui e yakisakaná de anchova, e variedades de sushis e sashimis desesperadamente saborosos, e tome Nando Z reclamando que não come essa porra de jeito nenhum, e tome principalmente, o tititi indaguento na mesa cultural celebrando a amizade e a alegria.
No sábado – 19/12, não pude raspar na Cidade Nova devido ao meu trabalho até 22h, uma pena porque ando fissurado para ver o som do Semente Africana, dos meus amigos Edinho, Valter Passarinho e Fábio Lima, mas sempre tenho um impedimento de última hora. Era boca de noite ainda e recebi uma intimação por telefone de Sílvio Kono para ajudá-lo a desaparecer com uma picanha que estava incomodando em seu freezer há mais de um mes, - vou trabalhar até tarde, velho -, venha mesmo que seja à meia noite, Raberuan já confirmou presença e fazer o que?, Silvinho nunca pede nada e fui para o sacrifício. Silvinho Kono, além de ser um mestre no preparo e feitura de peixes e carnes, encantou-me sempre nos poucos contatos que tivemos, com sua vasta cultura, sua sensibilidade artística e conversa inteligente e cativante. Raberuan pegou pesado nuns blues que doeu até nos ossos e Silvinho contou que estava puto e preocupado com Betinho Rio, seu amigo de infância, poeta e compositor considerado que estava jogando tudo fora devido algumas indagas erradas. Combinamos, então, investir numa demo com canções de Betinho para ver se daí surgia um conceito, mas tudo monitorado pelo Silvio. Ainda ficamos tentando descobrir de novo o nome da cantora maravilhosa de dois CDs com músicas de Noel, Ari Barroso, Fernando Lobo, Cartola e outros mestres, mas novamente não chegamos a uma concordancia, nem Claudemir que é uma enciclopédia, descobriu seu nome e veja que Silvinho pesquisou até na Internet. Mistério total, mas na minha opinião é Marisa Monte e ponto final, fui para casa cantarolando “o meu mundo caiu...”.
No domingo – 19/12, folga, acordo às 07h e saio contente que nem cachorro escapado da corrente para mijar em todos os postes da rua, futebol das 08h às 10h, churrasco de fim de ano logo em seguida e a luz amarela acendendo - vou engordar uns 05kg esse fim de ano. 
Todo domingo que passa 
é meu último domingo 
e até a dor dos pontapés 
é sofrimento benvindo. 
Amizades de mais de 20 anos de últimos domingos, domingo foi somente mais um último domingo e num desses últimos domingos, no meio do ano mais ou menos, um bate boca de qualquer último domingo, uma palavra indevida escapa, peço perdão por tres vezes, por tres vezes sou empurrado até que meu coração se fechar indiferente nos meus últimos domingo empobrecidos. Futebol, cerveja, churrasco, alguém pede a palavra para um brinde no último domingo do ano, espírito de natal, pedido de desculpas, apertos de mãos e abraços formais, mas fico procurando a razão que mudou meu coração e o calou indiferente nesse último domingo. Meu coração de poucos amigos. 
Cheguei em casa melanciado por volta de 14h com celular tocando, Edvaldo Santana do outro lado querendo saber se vou no Jardim Helena, hoje tem Raberuan, Sacha Arcanjo, Ceciro Cordeiro e Edvaldo Santana, os picagrossas do MPA, celular tocando de novo, Raberuan do outro lado e Sueli Kimura de dedos em riste – voce não sai de casa sem dormir um bom sono - e desliguei o celular. Sueli me acordou às 17h e tomei um banho alternando fervendo e gelado para dissipar o nevoeiro etílico, Edvaldo Santana com sua banda, Ceciro Cordeiro com sua banda, Raberuan com Marcelo Valença no pandeiro e Sacha Arcanjo escoltado por Marrom, Manolo, João Jr e Nando Z, todos ótimos, corretos, empolgantes e cada um na sua, a galera artística e cultural toda presente, beijos e abraços mil e a velha e incômoda sensação de deja vu na área: é nóis com nóis, véio. 
Akira - 24/12/2009.




domingo, 27 de dezembro de 2009

Dois poemas de Carlos Alberto Rodrigues




A mulher que viu a coisa preta
I
Vô contar com sua licença e vossa atenção
uma estória que de fato não é vendeta
sobre a disventura e triste situação
de dona muié que vio a coisa preta
II
Dona muié professora na grande cidade
acordô cedo pra fazê as necessidade
e no banhero quase dormindo ela entrô
meio cambaleante na boca larga se sentô
III
Ainda sonolenta e muitcho bocejante
de calçola arriada e camisola ao acaso
assunto embaixo de si algo borbulhante
nadando bem alegre na agua do vaso
IV
Si alevanto num pulo e sortô um grito
ficando com muitcho nojo e feia careta
apercebeu na agua com muito jeito
uma coisa asquerosa gosmenta e preta
V
Dona muié professora pros lado de inhauma
fico cum grande embrulho e friu na barriga
inté já istudô as minhoca e as lumbriga
acabô pensando que tinha parido uma
VI
Us cabelo assanhado se acabaro de arrepiá
pur causa daquela horrorosa visão
seu sangue congelô inté quasi desmaiá
saiu berrando porta afora cum a calçola na mão
VII
Dona muié em carrera desabalada
apavorada cum a calçola na mão
num percebeu que tava quasi pelada
só camisola, mas embaixo tinha nada não
VIII
Us vizinho mais a tia velhota
viero dispreça atesta o ocorrido
procuraro pela tal da coisa preta
mais a esperta já tinha si sumido
IX
Us vizinho se adivertiro a gosto
ai antão a professora ficô amarela
a pois ninguem vio o bicho do esgoto
mas acabaro vendo a coisa preta dela
X
Pelo bairro todo e rio de janero afora
de inhauma até na ilha de paqueta
ficarô sabendo de toda esta estoria
de doná muié que vio a coisa preta
XI
E nos finalmente desta adivertida retreta
num si sabe quem mais se assustô e nunca a de se sabê
se foi dona muié que viu a coisa preta
ou se foi a coisa preta que viu o que não queria vê
23/11/01
17:30
Itamambuca



Um dia igual aos outros

É Natal.
Em algum lugar do mundo
A neve cai e o chão esta branco coberto de neve.
O ar esta cheio de sorrisos e paz,
A música de Natal toca constantemente
As luzes brilham intensas no céu
É Natal.
Em algum lugar do mundo
As bombas caem e a terra esta recheada de minas
O ar esta cheio de medo e angústia,
A sirene de aviso toca constantemente
Os morteiros e bombas brilham intensos no céu.
É Natal.
Em algum lugar do mundo
A mesa esta posta cheia de doces, carnes, bebidas finas
O pinheiro colorido esta rodeado de presentes esperados
E as crianças satisfeitas e ansiosas sorriem profundamente
Nos olhos de suas mães desce uma lágrima feliz
Gostariam que esta festa nunca tivesse fim
É natal.
Em algum lugar do mundo
A mesa esta vazia, cheia de poeira e migalhas
O presente tão esperado é um prato de comida rala que não vem.
E as crianças temerosas e famintas choram profundamente
Nos olhos de suas mães desce mais uma lágrima infeliz
Suplicam para que este tormento tenha fim.
É natal.
É mesmo Natal?

03/12/01
16:50
Itamambuca


O perfil do poeta, por ele mesmo

Sou paulistano, com 52 anos. Trabalhador desde os 14. Coincidentemente, quando comecei a trabalhar, comecei pela mesma época a escrever poesia. Tenho 10 livros montados, que talvez quando um dia minha covardia me abandonar eu finalmente crie coragem para envia-las a para uma editora. Sou suficientemente critico, comigo mesmo, para saber que muitas delas são ruins. Algumas são razoáveis,. Mas por outro lado,tem uma minoria mereçedora de atenção, e estas valem a pena por todas as outras, e me fazem continuar a escrever, mesmo que seja só para mim e para minhas gavetas.

Carlos Alberto Rodrigues.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Natal 2009 das crianças do Jardim Romano


papai noel vem de noite na caminha
vem trazer uma nova doencinha
papai noel vem de noite na caminha
vem trazer uma nova miserinha.

Edvaldo Santana / 1979.
(trecho de letra da canção Papai Noel)



quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Semana Irada 2 - Claudemir e Ivan Neris no Sacha, 60 anos



Semana irada (2)

Claudemir Santos e Ivan Néris no Sacha, 60 anos

Dezembro é punk no Metroclube, festas de fim de ano dos Departamentos e Gerências do Metrô, uma atrás da outra, dia após dia, carrego pedras para que outros se divirtam. 6ª – 11/12 trabalhei até 21h, sábado – 12/12, até 23h, domingo – 13/12, até 20h.
Segunda – 14/12, folga que não sou de ferro. Acordei cedinho no maior gás, supermercado, sacolão, troca de filtros e óleo do pois é, e como de praxe um raspão no soçaite de areia do Cabelo para dois dedos de prosa. Como já eram 11h achei por bem abrir os trabalhos do dia e pedi uma serra grande, uma brama e amendoim sem casca, e depois outras e outras enquanto Cabelo dava dicas de onde comer um bom peixe por por perto. Anotei de cabeça os locais para conferir qualquer dia desses.
Fui para casa bastante melanciado, só foi o tempo de almoçar e capotei na cama como um inocente. Acordei por volta de 17h30 sem saber direito onde estava, joguei uma água na cara e fui saindo, e Sueli Kimura puta da vida querendo saber onde eu ia. Vou gravar o Claudemir e o Ivan Néris no Sacha, 60 anos. Sacha pra lá, Sacha pra cá - casa com ele, porra.
Sai tão baratinado para pegar João Jr e Claudemir na Oficina às 19h que acabei indo parar na casa de Cultura, já estava ficando preocupado quando fui salvo pelo Celular às 19h15 mais ou menos com Sacha do outro lado dizendo que João estava me esperando desde 18h30 na Luiz Gonzaga, puta que pariu. Saí cantando pneu para pegar João Jr, depois Raberuan em Ermelino e tocamos a 120km por hora para o Estúdio dos Mi.
Já na Marginal, Celular de novo e Cléston dizendo que já tinha chegado e esperava-nos, advinhem, no bar da esquina. Chegamos e logo em seguida chegaram Claudemir e Eduardo, o guitarrista. Pressenti Claudemir meio apreensivo mas seu disfarce tipo não estou nem aí era bom.
Mizão e Mizinho super prestativos conduziram as atividades com competencia e eficiencia, principalmente Mizinho que não surtou nem quando o Eduardo cismou de ensinar a ele as entradas do carron na música. Prêmio Mala do Ano para o Edu.
Nossa preocupação era por o Claudemir à vontade e ficamos todos, eu, Cléston e Raberuan pageando e paparicando o marmanjo e enfatizando a toda hóra o quanto ele era necessário e essencial e é bom ele não se acostumar com essas regalias. A verdade é que foi tudo bem e lá pelas tantas chegou o Ivan Néris que de repente deu um perdido de mais ou menos meia hóra mas voltou para colocar os poemas.
Senti que todos ficamos satisfeitos com o resultado final do Filho da Ânsia, simples mas o tipo da coisa que gruda nos ouvidos mesmo contra a vontade, candidatíssimo às paradas de sucesso. Advinhem, boteco depois, torresmo, cerveja, pinga de alambique, papo sério e papo furado. Sobre o “esqueceram de mim parte Claudemir e parte Ivan” ninguém disse nada e também não precisava. Para mim em particular o episódio serviu para aproximar-me mais desse pessoal que já faz parte do ar que respiro diariamente (mentalizo que isso é perigoso): o Quebra-facão, o GRAVES e o Alucinógenos.
Já era madrugada deixei Raberuan em Ermelino e Claudemir no final da Itajuibe, 22 lombadas e 19 quebra-molas depois. Cheguei em casa entrei pé ante pé e Sueli Kimura dormia profundamente.

Akira.
22/12/2009.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

sábado, 19 de dezembro de 2009

Aniversário de Clarice


Sei que não medirei o seu tempo
Pelos padrões convencionais
Voce que reinventou o nome
Para não parecer com Lispector
Apesar de bipolares as duas

Sei que não medirei a sua idade
Pelos calendários conhecidos
Pelo cristão ac/dc, chines ou inca
Guaianazes, xavantes ou yanomamis
Europeus, asiáticos ou africanos

Os povos e as tribos no futuro
Os poetas e contadores de histórias
Os dicionários e endereços na Internet
Ou os bons e velhos sinais de fumaça
Quando tudo voltar à estaca zero
Berrarão que voce existiu

Sei que voce não faz aniversários
Por ser desprovida do conceito quando
Mas Feliz Aniversário mesmo assim
Minha filha adorada.

Akira
19/12/2009.

Prêmio do Mérito Esportivo


Em cerimônia realizada no SESI de Piracicaba - SP, no dia 04/12/2009 recebi em nome do Metrô e de toda família desportiva metroviária, o Prêmio do Mérito Esportivo que foi outorgado pelo SESI por ocasião da Abertura do Jogos do SESI 2009 - Regional Sudeste que reuniu empresas campeãs dos Estados de Minas Gerais, São Paulo, Espírito Santo e Rio de Janeiro.
Este prêmio foi uma homenagem do SESI às empresas da Região Sudeste do Brasil que destacaram-se pelo incentivo à prática de atividades esportivas e de lazer aos seus funcionários. Petrobrás, Metrô, Vale do Rio Doce, Johnson & Johnson, Correios, só pica grossa.
Vinte e tres anos de Metrô sempre trabalhando conceitos de arte, cultura, esportes e lazer social e recreativo para a família metroviária, este momento foi mais um pequeno oásis no deserto de constantes murros em pontas de facas.
Fiquei orgulhoso pelo reconhecimento.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Dois poetas e dois Pedros

Pedro
Quando voce nasceu
Meu leite empedrou
Quando voce tossiu
A luz apagou
Não te queria em mim
Quanta maldade
Para te acordar
Filho desnaturado
Perdão dos meus pecados
Tinhas de vingar

Pedro
Depois voce cresceu
Virou uma pedra
Então voce partiu
E não deixou pistas
Como eu te quis em mim
Quanta ternura
Para te ninar
Filho aventureiro
Meu sonho derradeiro
Vem me acordar.

Raberuan
1981.




Em que rua tu moras

Toda praça é seu quintal

Pedro que ama as amoras

És rebento fruto carnal


Espírito que o vento atiça

Fogo alma fagulha menino

Sapeca espanta a preguiça

Redemoinho gira traquino


Espoleta pipoca no pulo

Seu sorriso levanta a torcida

Alegra até mesmo o gol nulo

Pedro tu és pedra com vida


Gira a terra nosso planeta

E o menino gira montado

Abre a boca, ri e faz careta

Nosso menino Deus encantado.


André Marques.
2009.

Assim como essas crianças

sábado, 12 de dezembro de 2009

Assim como essas crianças

Escrevi "Assim como essas crianças" por volta de 1980 quando de uma visita à Experiencia de Alfabetização Pelo Método Paulo Freire desenvolvida por Muniz, Xico Edu, Marleide, Severino do Ramo, Cláudio Gomes e Sueli Kimura na Favela do Sítio da Casa Pintada em São Miguel Paulista.
Eles eram muito jovens na época, ainda cheiravam a fraldas e cueiros e participavam de movimentos culturais/artísticos e de pastorais da igreja na região.
Inquietos e insatisfeitos com suas atuações resolveram um dia montar um grupo de estudos onde leram e discutiram o "Pedagogia do Oprimido" e não tiveram dúvidas - embrenharam-se no Sítio da Casa Pintada para colocar em prática os ensinamentos do grande mestre Paulo Freire.
Mas contar essa experiencia é tarefa para um historiador.
Para mim ficaram esses versos que mereceram recentemente do meu amigo e parceiro Cléston Teixeira uma música propícia que enfatizou a dor lancinante e a tragédia impregnada nas palavras cruas.

Akira Yamasaki
11/12/2009.



assim como essas crianças

(uma homenagem para joão batista muniz, francisco eduardo, marleide, severino do ramo, cláudio gomes e sueli kimura)

de fato o meu verso cheira mal
de fato, mas isso é natural
assim como essa criança está nua
no meio dessa rua
assim como essa criança
que faz da noite o seu quarto
do vento o seu pijama de flanela
e das mãos vazias a sua tigela

assim como essa criança
traz no rosto profundas crateras
provável herança das varicelas
e nas costas de magras costelas
esconde as marcas das fivelas
que são na partilha das misérias
a sua mais justa parcela

desculpe se meu verso cheira mal
desculpe, mas isso é natural
assim como essa criança está nua
no meio dessa rua
assim como essa criança
que faz da noite o seu quarto
do vento o seu pijama de flanela
e das mãos vazias a sua tigela

assim como essa criança
traz na cabeça além dos piolhos
o beijo na boca das telenovelas
e entre dentes, o cio das cadelas
assim como essa criança
que carrega o brilho das estrelas
nos seus olhos cheios de remelas.