quinta-feira, 31 de maio de 2012

Pacato

nunca saio da linha
nem perco a calma
e só fico na minha

e se dá boi na linha
digo é culpa minha
já saio dando linha

akira – 31/05/2012.

Mesa vazia


alguém esteve nessa mesa
alguém com pressa e vazios
alguém sozinho com certeza

pois pelo chapéu amassado
entre papéis com poemas
amarelados e amarrotados

pois pelo uísque com gelo
no seu copo pela metade
evidentes rastros deixados

ficou fácil para adivinhar
que sua sede era urgente
e eloquente sua saudade

akira – 30/05/2012.
 Foto de Francisco Xavier.

domingo, 27 de maio de 2012

Correnteza



então amanhece mais uma vez
sobre meu juizo de criança
penduro-me nas correntezas
das enxurradas urbanas
ou dos rios indomados
e sigo assim, testemunha
e hóspede das vazantes

então anoitece mais uma vez
e suspeito um vento impropício
talvez um verso desgarrado
penduro-me com as duas mãos
nas bordas da sua passagem
de cortes afiados
e sigo assim, à mercê
do sopro de inversos e temporais
que tatuam na minha alma
céus de fogo
e luares estrelados

akira – 27/05/2012.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Aconteceu no Projeto Bentevi com Osnofa e Sílvio Araújo


Overdose de Káfka, foi uma semana difícil e estressante, um
corre-corre feroz e sem fim atrás do próprio rabo, saindo às
seis da manhã e voltando meia-noite, arrumando casa e
ordenando documentação no serviço para auditorias dos
sistemas ISO, OHSAS e Ambiental na quinta-feira, centenas de
documentos para ler, pilhas de planilhas para revisar, registros
e evidencias para controlar, e de quebra ainda, organizar os
campeonatos de xadrez e futebol para o sábado.
E Projeto Bentevi na Casa de Farinha, também no sábado, com
Osnofa e Sílvio Araújo. Eu tinha combinado com Sílvio e Osnofa
para falar alguns poemas na apresentação dos dois mas se não
sobrou tempo nem para escolhê-los o que dirá e então, para
dar uma passada? Então, paciencia, vai na raça mesmo, isso é
que dá querer abraçar o mundo com as mãos.
Cheguei em casa, do campeonato de xadrez, a cabeça inchada
de reis, rainhas, roques e sistemas suiços, por volta de 17h,
tomei um banho, mastiguei alguma coisa enquanto assistia à
decisão por pênaltis da Liga da Europa entre Bayer e Chelsea,
um locutor falando que era desumano para os atletas uma
decisão por pênaltis após uma partida de 90 minutos e mais
uma prorrogação de 30 minutos.
Desumano, seu locutor, é sair de casa no Itaim Paulista às
seis da manhã, ônibus lotado, metrô lotado em Itaquera,
baldeação em Sé, metrô lotado de novo e marcar o cartão
em Jabaquara às 08h30, saída às 17h30 e fazer o mesmo
percurso de volta para chegar em casa cansado, moído e
vencido lá pelas 20h. Isso sim é desumano, seu locutor,
para ganhar o que estes privilegiados ganham só para jogar
futebol eu quero as cãimbras, as dores e a desumanidade de
uma decisão destas por semana.
Recolhi apressadamente alguns poemas e quando cheguei
na Casa de Farinha era mais ou menos sete da noite, não
havia ninguém na sala de eventos mas palco e equipamento
de som já estavam montados e as posições dos microfones
e violões evidenciavam que Sívio Araújo e Osnofa já tinham
passado o som com o Sílvio Kono, japinha que merece um
capítulo especial qualquer dia destes.
Sozinho no salão vazio pensei que daqui a pouco o público
começará a chegar, os amigos virão para celebrar de novo
a alegria e a amizade, sim, o Projeto Bentevi é apenas um
pretexto para ações e celebrações entre amigos que se
conhecem há mais de 30 anos mas é também um momento
riquíssimo para avaliar com isenção o patamar de cada
participante na procura da palavra maior.
Pensei, então, que mal fazem 03 meses que sentamos numa
mesa de boteco na Jacuí, eu,  Luiz Casé e Sílvio Kono para
tirar do papel o Projeto Bentevi. Desde então muita água
correu por baixo da ponte, o show com Osnofa  e Sílvio já é o
terceiro do projeto, o meu livro “Bentevi,Itaim”, já está em
fase de orçamento e quanto à produção do CD de mesmo
nome, Sílvio Araújo já gravou no Estúdio dos Mi’s, do Mizão e
Mizinho ou do Mi maior e Mi menor, como queiram, a primeira
das canções que realmente ficou massa demais.
Pensei por fim, ao término da brilhante e aplaudidíssima
apresentação de Osnofa e Sívio Araújo, coadjuvados por um
convidado muito especial, o poeta, cordelista e compositor
Xico Leite, de Irecê – BA, que estava dando sopa na casa de
Sacha e não podíamos perder a oportunidade de ouvir e
deixar-se encantar pela fala de um dos maiores poetas do
Brasil, pensei humildemente que não mereço os amigos que
tenho nem a alegria que eles me proporcionam.

Akira – 21/05/12.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Meus poetas preferidos: Francisco Xavier

Não bastasse ser médico bem sucedido, renomado e
admirado por todos na região, onde uma aura de confiança
canina e respeito conquistado dia após dia ilumina a sua
pessoa querida.
Não bastasse ter construído juntamente com sua família, um
pequeno pedaço do Piauí dentro de São Miguel Paulista, a
Casa de Farinha, espaço de convivencia e de preservação
da cultura e costumes do povo nordestino e, em particular,
dos caatingueiros que fazem da casa um ponto de encontro
onde defendem suas identidades e matam saudades da terra
natal por meio da comida, da música e da arte.
Nã bastasse tudo isso, Francisco Xavier ainda é poeta dos
bons. Não acreditam? Pois fiquem com uma pequena
amostra de sonoridades e significações em torno da palavra
luto.

Akira - 15/05/2012.

Luto

Violentada
A vida
Seca as lágrimas
Cala a boca
Sem pe(n)sar
Vira força
Luta, silencio

- Morte!
O luto é teu.

Francisco Xavier.


segunda-feira, 14 de maio de 2012

Aconteceu no Sarau da Casa Amarela com Gildo Passos

Gildo Passos pegou pesado quando abriu sua participação
no Sarau da Casa Amarela da última sexta - 11/05/2012, e
logo de cara começou relembrando o começo de tudo há
mais de 30 anos atrás com o Grupo Migalhas na Mesa, que
nasceu dentro do MPA, formado por ele e pelos poetas e
compositores Roberto Claudino, Miguel Arcangelo, Éder
Vicente e outros de quem não lembro agora.
Ele pegou pesado mesmo quando falou de um poema, o
"Guaximim", do inesquecível Severino do Ramo, musicado
por Éder Vicente, que emblematizou e imortalizou o
Migalhas no imaginário daqueles anos loucos de resistencia
cultural promovida pelo Movimento Popular de Arte na
zona leste de São Paulo.
Pegou pesado quando começou a falar os primeiros versos
de "Guaximim", dedilhando as primeiras notas da canção
que descreve a dor dizimante do massacre dos potiguares,
acompanhado no Baixo pelo seu filho Gilvan, testemunha
indesmentível da passagem de mais de tres décadas.
E eu, que estava indefeso demais devido à felicidade pelo
Pré-lançamento nesse sarau, do CD do Gildo, o "Ouvindo
o coração", o 4º do Projeto Memória Musical em São
Miguel, e ao filme passando dentro da minha cabeça nos
acordes e na letra de "Guaximim", não aguentei mais
quando olhei do meu lado e vi o Jorge Gregório tentando
deter algumas lágrimas.
Gildão pegou pesado mesmo. Abracei o Gueguê e chorei
silenciosamente pelos nossos últimos trinta anos e pela
extinção de tantos povos indígenas.

Akira - 14/05/2012.



  

sábado, 12 de maio de 2012

Canja de Osnofa no Sarau da Casa Amarela


Quem deu o ar da graça, ontem – 11/05/2012, no
Sarau da Casa Amarela, foi o genial poeta e compositor
Osnofa. Após árduas e demoradas negociações que
quase acabaram com a minha paciencia, finalmente
Osnofa bateu o martelo e assinou contrato, para isso
quase acabou com o estóque de 51 com limão da casa,
para dar uma canja no sarau que realizou o
pré-lançamento do tão aguardado CD do Gildo Passos,
que comentarei amanhã ou depois.
Hoje só quero dizer que porque elogiar a arte única e
fundamental de Osnofa é sinônimo de chover no
molhado, acho mais fácil ficar com uma canção, que já
é um verdadeiro clássico de Edvaldo Santana e Osnofa,
o “Caximbo”, que ele cantou ontem.
Confiram. Aproveitem.

Akira – 12/05/2012.

domingo, 6 de maio de 2012

Projeto Bentevi - Ternura oceânica com Luiz Casé, Cleston Teixeira e Cláudio Gomes.


Uma ternura elétrica e densa pairou durante todo
o tempo, por todos os ambientes da Casa de
Farinha e invadiu pelas narinas, olhos e poros, os
corações de todos que tiveram a sorte e a benção
de estarem presentes, ontem – 05/05/2012, para
o segundo evento da grade de datas do Projeto
Bentevi.
Um tsunami de ternura nascido nas profundezas
insondáveis das almas dos poetas e artistas
geniais Luiz Casé, Cláudio Gomes e Cléston
Teixeira, com direito a lançamento do seu
belíssimo CD “O mundo partiu-se em dois”, varreu
o chão da Casa de Farinha com músicas e poesias
de quilates maiores e melhores. Não ficou pedra
sobre pedra.
Ai, que ternura oceânica é essa que toma forma ao
redor desses três quando eles cantam? Que ternura
especial e majestosa é essa que guia os destinos e
as palavras de Luiz Casé, Cléston Teixeira e Cláudio
Gomes? Só posso dizer que estive presente ontem e
por isso sou um privilegiado.

Akira – 06/05/2012.