segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

O melhor que pude



acho que nesse ano
fiz o melhor que pude
mesmo que às vezes
não soubesse o rumo
nem o momento certo
e os erros e enganos
tivessem sido maiores
que a soma dos acertos

mesmo que às vezes
o caminho encolhesse
mercê de esquecimentos
e como um cego tivesse
que seguir na escuridão
com passos inseguros
traído e abandonado
pelo sol das certezas

mesmo que às vezes
nas intenções a pressa
superasse a paciência
e desatenção sobrasse
aos pequenos afetos
os importantes de fato
pisados e esmagados
pelos fardos do tempo

mesmo que às vezes
não soubesse conciliar
o ímpeto e a prudência
o perdão e a intolerância
o amor e sua maturação
e ferisse a quem amo
mesmo assim nesse ano
fiz o melhor que pude

akira – 31/12/2012.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Natalinas (4)



vinte e seis gráus na sombra
mãos inchadas
e respiração torturante
caminho obesamente
pela enseada de itapacoróia
nessa manhã de natal

meus passos pesados
acordam o sol
e à minha passagem
bentevis batem continência

rua deserta não fossem
as mulheres tirando o lixo
com as sobras da ceia
e varrendo as calçadas

percebo esse ano
nas paredes das casas
e nos arbustos podados
a inequívoca escassez
de lampadinhas xinguelingue
interferência de altas políticas
internacionais talvez

o caminhão de lixo vira a rua
os garis na maior gritaria
já pedem antecipação
da caixinha do ano novo

akira – 25/12/2012.

sábado, 22 de dezembro de 2012

Véspera

nessa véspera de natal
felicidade pode ser
um pão amanhecido
uma canção de edvaldo santana
ou a paz no oriente médio

felicidade pode ser
uma sobre-coxa assada
no rainha do oliveiras
devidamente acompanhada
de uma cachaça mineira

felicidade pode ser
arroz com feijão e bife temperado
no alho e pimenta do reino
mais salada de tomate com cebola
de dona fusako, minha mãe

o jardim de hideko
todas as manhãs
com sol ou chuva
também é felicidade

o fim da seca no nordeste
e a comida farta
na mesa de todos os brasileiros
serão felicidades também
desde que não venham acompanhadas
da demagogia barata e oportunista
dos partidos a, b, c ou d

miyuki é sinônimo
da minha felicidade
assim como andré e clarice

akira – 22/12/2012.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Solidão

a solidão é de salitre
tão áspero e espesso
que à língua engrossa
e não obedece à razão
nem escolhe endereço
os desertos no coração
são seu custo e preço

akira – 18/12/2012.

domingo, 16 de dezembro de 2012

Jardim de Hideko (7)



ouço a chuva lá fora
no jardim de hideko
percebo de olhos fechados
com nitidez e exatidão
cada pingo que cai

meu pensamento viaja
por um céu de claridades
além da minha compreensão
como um pássaro imóvel
sob proteção do silêncio

pergunto-me se ele terá
coragem para voltar aqui
quando tudo for  apenas
chão molhado e coberto
de flores e folhas caídas

akira yamasaki – 17/12/2012.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Quentinha



estava com o coringa bêbado
no maior bate da minha vida
no cachetão da nininha

o maiorzinho deles
que nem vi entrar no buteco
disse-me com voz sumida:
- tio, tamo com fome
e apontou para o menorzinho
no outro lado da rua

a vaquinha deu justo
pra quentinha de picadinho
que sumiu em poucos segundos
devorada ali mesmo
no meio fio com as mãos

com o coringa bebaço
ainda honrei o meu bate
pra não ter sete anos de azar

akira – 11/12/2012.

Casa Amarela recebeu Erivaldo dos Santos no Sarau Agora ou Nunca



Aconteceu ontem na Casa Amarela e foi bom demais.
Organizado pelo multi-artista Escobar Franelas, o evento
foi na verdade, um lançamento e uma roda de conversa
sobre o livro Citação e Alusão nas Crônicas Machadianas,
de Erivaldo dos Santos.
Conversa boa, papo cabeça sem cair em academicismos,
Erivaldo conduziu-nos com uma lanterna na mão e muita
sabedoria, para iluminar os pontos obscuros e mal
explicados da personalidade e da obra de Machado de
Assis, o fundador da Academia Brasileira de Letras.
A conversa foi tão produtiva que acabou descambando,
em outra sala da Casa Amarela, agora regada a vinho e
amendoim, para outros assuntos como produção artística
e cultural, distribuição da arte, criação de público na
periferia, políticas públicas e por aí vai, etc, etc.
Foi tão boa a conversa que durou quase cinco horas e só
terminou porque o Escobar deu um basta naquela falação
toda e mandou todo mundo para casa.
Além de Erivaldo Santos, o evento registrou a presença
ilustre do escritor e teatrólogo Manoel Gonçalves e da
poeta Máh Luporini, por quem tenho a maior admiração e
tive a honra e o prazer de conhecer pessoalmente, e que
esteve no local para divulgar o jornal O Grito Cultural.

Akira - 10/12/2012.