sábado, 25 de janeiro de 2014

itajuibe (p/ terezinha cordeiro de farias)


entra ano, sai ano
governos vem e vão
medidas vem em vão
e vazam pelos vãos
dos dedos das promessas

tudo fica na mesma
enchentes novamente
no itajuibe e três pontes
itaim transbordado
famílias em desespero de causa
situação de perda total

povo revoltado
barricadas de fogo
um ônibus incendiado
oportunistas de plantão
saque no supermercado
perda de fé e razão

marechal tito e paralelas
bloqueadas pelos moradores
em pé de guerra
armados com paus e pedras

enxame de helicópteros
tropas de choque
bombas de gás
balas de borracha
cassetetes cantam no lombo
de quem tudo perdeu

feliz aniversário, sampa
itajuíbe, salve, salve

akira – 24/01/2014.

soco inglês (2)


segundo o laudo
a boa notícia é que o procedimento
eliminou os quatro nódulos
detectados no fígado

a notícia ruim é que surgiram
mais dois na outra face do órgão
cerca de dois centímetros cada
e também são do mal

rubão, meu bróder
desce a mais gelada que você tiver aí
e uma maria mole pra quebrar o gelo

akira - 23/01/2014.

feirante

cara de feirante
vendedor de tomate e repolho

excessivas mãos de borracheiro
ou de servente de pedreiro

semblante de lavrador
queimado por décadas de sol

olhos indígenas lavados
por mijos de cobras
pingas e vinhos do casteluchi
e águas da lagoa verde

médio volante médio
do juvenil do santos do morro
péssimo aluno
mal conseguiu terminar o colégio

poeta por mero acaso
por descuido do destino

akira – 21/01/2014.

foto da minha comadre queila rodrigues. 


20º sarau da casa amarela, por joão caetano do nascimento


Ceciro em pele de cordeiro na Casa Amarela

O compositor e cantor Ceciro Cordeiro é a primeira grande
atração da Casa Amarela em 2014. Ele é o convidado do 20º
Sarau da Casa Amarela que ocorrerá no domingo, dia 9 de
fevereiro, a partir das 15 horas.
Ceciro, uma das figuras históricas do MPA, caracteriza-se
por ser um compositor muito criativo, com músicas vibrantes
e envolventes; Ele percorre com desenvoltura os vários
gêneros musicais. As letras são outra marca registrada do
cantor. Ceciro capta a realidade das ruas, dos subúrbios, da
vida em geral,de forma inusitada, como se usasse uma lente
que amplia, reduz e distorce essa realidade, numa visão muito
particular de mundo que às vezes flerta com o surreal e com
um realismo que poderíamos chamar de fantástico.
Há ainda parcerias marcantes, onde ele exibe todo o seu
talento ao lado de outros compositores, entre os quais, o
saudoso Raberuan com quem produziu uma obra-prima,
“Aparte”. Esta e muitas outras canções, além de histórias do
compositor, poderão ser ouvidas por quem for até a Casa
Amarela. É um programa imperdível.
 

João Caetano do Nascimento. 

puruba (5)


te quero como um mar
que não volta mais
depois de passar

como um mar que sabe
que não é mais o mesmo
sem sair do lugar

akira – 13/01/2014.

puruba (4)



é manso o encontro
de três velhos amigos
o puruba, o quiririm e eu
a cem metros do mar

é doce o atlântico abraço
de três rios cansados
vindos de sertões diferentes
após longas procuras
e viagens irmãs

akira – 13/01/2014.

 

precisão


preciso ir
senão nunca
vou saber

motinha & nhá fia


gran circo motinha & nhá fia
orgulhosamente apresenta:

zé fortuna
pitangueira
e zé do fole

1959
lucélia, interior paulista
sete anos de idade

peixinho extraviado
da rota do cardume
varei pelos fundos a lona
e para sempre fui fisgado
pelo anzol da poesia

akira – 05/01/2014.

Ganhei de presente do meu compadre Shidon Soares



AKIRA'S BLUES
pro Akira Yamasaki

O meu amigo Akira está blues
Flutuante de blues e canto
Mas não triste
Todo forrado de blues na foto
E vestido de um sorriso feliz
Que só o Akira calçado naquele chapéu
Branco calça blue jeans
Agasalho azul
Padaria de balcão e pastilha azul
Céu claro envolto em papel de vidro azul
Carros azuis na paisagem azulada
Pessoas azuis nas calçadas
Ao lado do Akira
De azul anil cintila uma família amiga
Bem blue na foto
A face amarela
Vermelha de felicidade
Nada triste nesse amigo blue
Bem vestido e contente de Akira o azul.

Shidon Soares.
 

Resenha de João Caetano do Nascimento para o meu livro/CD "Bentevi, Itaim".


O PÁSSARO SUBURBANO OU DE MINHA
LEITURA DO “BENTEVI, ITAIM”,
DE AKIRA YAMASAKI


Akira Yamasaki publicou em agosto de 2012 o livro de
poemas “bentevi, itaim”, próximo à data em que ele
completava 60 anos de idade. A edição foi resultado de
uma ação entre amigos, tendo como principal idealizador
Sílvio Kono. Além dos poemas, o livro traz ilustrações
feitas por Heron e Will Sideralman, este é também o
responsável pela bela capa e pelo projeto gráfico. Junto
ao livro, vem ainda um CD com poemas de Akira que
foram musicados por vários compositores, tendo Sílvio
Araújo como interprete das canções.
Tive o privilégio de ler os originais. Na ocasião, li e reli
cada poema, carregado de emoção e sequer consegui
expressar o que sentia. Essa emoção tinha razão de ser.
Alguns dos poemas mais antigos, eu quase vi nascer,
percebi o embrião deles a se agitar em nossas longas
conversas noites adentro, entre cerveja, conhaque,
cachaça e a insone esperança.
O “bentevi, itaim” reúne “estrelas da vida inteira”,
poemas feitos em cerca de quarenta anos dedicados à
poesia, à reflexão sobre a vida, o sentido de escrever e o
compromisso com o povo brasileiro, sobretudo, os mais
desamparados. Os poemas desfilam diante de nós numa
linguagem simples, direta, às vezes coloquial, como se
fossem crônicas do cotidiano. No entanto, uma leitura
mais atenta nos levará a partilhar de voos mais altos, à
altura da águia Akira que, humilde, se apresenta como um
terno bem-te-vi.

Doze capítulos

Os poemas foram divididos em doze capítulos que mapeiam
as preocupações e os rumos do poeta. Akira perpetra a
mistura improvável de certo fatalismo “então apenas sigo”,
com a rebeldia do “não sigo por sua senda”. E essa
contradição parece tencionar toda a sua produção poética.
Nessa trilha, o adulto revê as sombras das árvores
mesclarem-se ao bailar do avô bêbado diante do menino,
num retorno, após longa diáspora, através da memória. O velho
avô reflete-se no poeta, numa imagem distorcida de espelho
partido, na pequena obra prima que é “Menino Amarelo”.
No áspero caminho, o Akira também encontra um jardim,
espaço precário de remanso, embora “o motor da moto na rua”
mostre que a realidade não dá trégua, o que nos resta é o
combate contra o mundo, pois esse jardim, mundo de cores,
abrigo de pássaros suburbanos, será também invadido pela
morte.

Pele e alma

Akira nos expõe sua pele. Mais do que isso, as vísceras, o
fundo da alma, num rasgo profundo, talhado com precisão, à
navalha. Vemos então o pobre subúrbio a sangrar em festa,
numa mistura de dor e alegria, desespero e resistência. O
poeta enlameia-se nas águas em fúria que castigam os pobres
e emudecem o bem-te-vi. E aí, temos o pungente “Réquiem
para seis córregos”, explosão de revolta, dor, indignação e
amor de quem vê e convive com a noite sem fim da miséria.
Já o poeta pai tenta transmitir à pequena prole as lições dos
pássaros, dos ventos, das vazantes e dos mistérios da
existência. Por isso, ele canta, amoroso, a travessa fuga de
Clarice. Protetor, recomenda a André a arte ancestral da paciência
e diz onde pendurar o tigre gelado da solidão. Ele também volta o
olhar para as crianças esquecidas na “noite gelada” e questiona o
próprio sentido da poesia, enquanto a infância apodrece.
O amigo poeta vai além, arrisca-se a percorrer labirintos para
talvez esquecer a herança da dor “de bar em bar, de mesa em
mesa, medos, assombrações, incerteza”, sabendo que o tempo
cicatriza, mas jamais cura. Então, desfilam reminiscências de
familiares, de amigos, de gente que passa na rua. Nessa errância
vai então se desenhando a armadilha da existência e a
necessidade de resistir. Akira é, sobretudo, um poeta de
resistência. Resistência à injustiça, à dor e ao fatalismo que o
dilacera.
Há quase trinta e cinco anos, quando conheci o poeta, seus versos
tiveram sobre mim a força de um murro. Senti, desde o início,
uma súbita afinidade com o universo tempestuoso daquele japonês
sisudo. O tempo passou, o poeta tornou-se mais refinado,
profundo e, ao mesmo tempo, mais simples. Outra dessas
contradições que tornam os poemas de Akira tão encantadores e
inquietantes. Sob a cortina da simplicidade, está uma poesia
intensa, nascida da busca constante de uma concepção de mundo e
do sentido do fazer poético. Ao final da leitura do livro, fica o gosto
amargo da esperança, da coragem diante da dor inevitável que
devemos lutar para evitar. Desobediência e fatalismo. Esses são
ingredientes que fazem um grande poeta. Portanto, ouso dizer:
Akira Yamasaki é um grande poeta e “bentevi, Itaim” é um livro
estupendo.

Serviço
bentevi,iItaim
162 páginas
Formato 16 x 16,5 cm.
CD – 12 músicas
R$ 23,00
Pedidos e maiores detalhes no face do Akira Yamasaki.

duas ou três esperanças


boralá em dois mil e catorze
parir duas ou três esperanças
meia dúzia de palavras maiores
e na justa medida do possível
se não for pedir em demasia
ficar perto dos meus amigos

akira – 30/12/2013.

sueli kimura e seus amigos