quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Sueli


voce sempre foi
completamente bela
e a tua claridade
nunca teve fim

quem sabe um dia
nossos horários
fiquem compatíveis
quem sabe não tenhamos
mais horários

akira – 30/11/2011.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Lançamento do novo livro de Escobar Franelas

Pessoal

A idéia é fazer do lançamento do romance de Escobar Franelas,
o ANTES DE EVANESCER, no dia 11/12/2011, no ECLA –
Espaço Cultural Latino-Americano, uma grande festa/sarau/
cantoria para marcar com muita poesia, música, dança e alegria,
o surgimento de uma grande e originalíssima obra literária com
trama situada na Zona Leste de São Paulo, que vai balançar os
alicerces e mudar os rumos da literatura brasileira.
Não vou ficar aqui babando ovo para o Escobar e afirmando
que ele é um dos maiores poetas que conheço, dígno herdeiro
de uma dinastia de artistas que teve início nos anos 1970 com
bardos do naipe de Cláudio Gomes, Edvaldo Santana, Severino
do Ramo, Raberuan e Sacha Arcanjo. Vou somente convocar
 todos os amigos para comparecer ao ECLA no  dia 11/12, com
espírito de comemoração para abraçar o Escobar e saudar o seu
novo livro.

Akira – 28/11/2011.

sábado, 26 de novembro de 2011

Mães, desmintam-me se forem capazes - por Sueli Kimura

Clarice, filha adorada

Peço mil desculpas 
por não estar presente nesse dia
é que tive que fazer mil correrias,

beijo do pai

Akira 26/11/11







Quando os filhos saem da nossa casa para cuidar de suas próprias vidas, nos angustiamos por não saber se vão conseguir sobreviver sem a nossa assistência (para mim, alimentação é o ítem mais preocupante).
Mas pasmem, eles conseguem!!
Nossa angústia aumenta porque não temos mais função na vida dos nossos rebentos.
De posse dessa informação as criaturas passam a nos chantagear: - “Mãe, vou te visitar. Prepara aquela comida que só você sabe fazer?”
Alívio total, saímos feito loucas a comprar os ingredientes para preparar a iguaria, sendo irrelevante se o objeto de desejo é um simples pudim de pão ou um sofisticado udon com shiitake acompanhado de sushi que eles comem com tanto prazer que vamos às lágrimas.
Chegada a hora de ir embora, lá se vão alimentados e felizes.
Quanto a nós, nos resta aguardarmos ansiosamente pelo anúncio da próxima visita.

Sueli K 13/11/11

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Na contramão


eu estava com edvaldo santana na última sexta-feira – 18/11, quando recebi a notícia da morte de raberuan, estávamos à noite em um evento de arte e cultura no bairro de jabaquara onde edvaldo era a atração principal, estávamos ouvindo apresentações de poetas e compositores metroviários quando o celular tocou e do outro lado, sacha arcanjo conseguiu informar com voz sumida, “akira, meu irmãozinho, sinto muito mas o pior aconteceu” - e desligou sem dizer mais nada;
pela minha reação edvaldo entendeu tudo e nosso abraço de conforto e solidariedade foi seco e duro diante da dor brutal e estúpida, apesar de estarmos preparados há meses para o teor dessa notícia, porque acompanhávamos dia após dia a lenta decadencia das condições de saúde do raberuan, uma tosse e um catarro a mais hoje, o ouro amarelado nos olhos e na pele, e o fiapo vermelho de sangue no canto da boca, a respiração mais difícil amanhã, e diante da nota que ele não conseguia mais alcançar, cúmplices, disfarçávamos olhando para o outro lado, e ficamos em silencio, eu e edvaldo, porque não havia mais nada a dizer;
sueli kimura ligou em seguida dizendo que edsinho pediu para dar-me a notícia porque não teve coragem de ligar para mim, imagine, o edsinho que foi sempre o mais forte de todos nós, nosso esteio, alicerce e porto seguro onde sempre ancorei o navio desemparado do meu medo e da minha insegurança sem cura, “sueli, meu amor, segura a minha mão essa noite, não solte a minha mão, fica comigo, cuida de mim”, porque se nem o gordo não aguentou, estamos abandonados à nossa própria sorte;
e na noite enorme e sem fim da morte de raberuan, todos ligaram para mim suplicando um gesto de conforto que minhas mãos duras e secas não podiam oferecer, adilson aragão ligou, ceciro cordeiro ligou, gildo passos, osnofa, tiago araújo, heron alcântara, célia maria gonçalves, fábio lima, fátima bugolin, cláudia regina, wlad, acauã, jorge gregório, carlos scalla, rose beltrão, todos, tantos ligaram e bateram de frente na parede da minha voz dura e seca na noite da morte de raberuan, esse pássaro torto que nunca mediu consequencias e só trafegou na contramão da vida e sempre atravessou o semáforo no vermelho.

akira yamasaki – 23/11/2011.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

No quintal do Sacha


o endereço da poesia

assim como o vento, a poesia
tem milhares de endereços
tantos que eu não sei contar

mas um deles, o particular
é em são miguel, eu conheço
quem quiser pode anotar

fica na rua célia cabelo
o número é sacha arcanjo
e o cep é raberuan

akira yamasaki
(acho que é de 2004).

Afetos

acordei de boa hoje
de folga no metrô
e nenhum corpo
para velar

houve um estampido
uma revoada
e um pássaro sangrando
no chão

sob o sol da manhã
caminhei uma hora
planejei projetos
de exercitar ternuras
e exercer afetos

então pensei em andré
clarice, sueli kimura
e em todos os meus amigos
um por um

akira - 21/11/2011.

domingo, 20 de novembro de 2011

Bentevi, Itaim

para onde partiste
nesta manhã, bentevi?

"Adeus, Raberuan", um texto de Zé Vicente de Lima


O Raberuan nos deixou. Certamente não da forma que ele queria, nem na hora que a gente queria. Talvez um colapso em cima do palco, um acidente ou até uma overdose de qualquer coisa, menos cama, hospital e sofrimento. Qualquer coisa, menos a imagem de um pequeno gênio, que ele foi, à mercê da sorte e da misericórdia, com o semblante mostrando toda a fragilidade de quem sabe que está perdendo a luta pela vida. O Raberuan que conheci em 79 quando esteve em minha casa junto com seu parceiro Sacha Arcanjo, me pareceu mais uma daquelas figuras frágeis que vivem da ilusão da poesia, do mundo de paz e amor, da inconseqüência da juventude, que pedem ponta de  cigarro ou de baseado, não usam relógio e quase sempre carregam um violão qualquer com um adesivo ou frase dos anos sessenta em seu bojo. Mas aqueles olhos brilhantes, os cabelos encaracolados, a suavidade na voz que vez por outra dizia uma gíria da minha vila e o fino trato com as cordas e com as palavras, me mostraram que ali, bem à minha frente estava sim, uma das figuras mais emblemáticas e inquietas que eu iria conhecer pelo resto de minha vida. Tempos depois, com maior convivência e com a chance de conhecer de perto sua arte, em todos os sentidos, logo cheguei à conclusão que ele tinha sido colocado em lugar errado e que estava jogando fora um talento que Deus permite a poucos mortais, à medida que o tempo passava. Acho que eu sempre estive certo. O tempo passa muito rápido, é cruel e geralmente castiga quem pega o caminho errado. Ele nos fazia parecer ridículos, às vezes, sem maldade e achá-lo arrogante. Quase sempre por falta de senso, ou por orgulho de quem nasceu limitado. Viveu intensamente seus relacionamentos sem medir conseqüências e, tenho certeza, foi um cara muito amado durante toda a sua vida. Não quero nesse momento falar de sua música, que bem conheço, de seus parceiros, que também conheço, nem de sua vida pessoal, que pouco ou nada conheço. Quero sim, tentar amenizar esse golpe que só sente quem de fato conheceu esse magrelo de Ermelino Matarazzo nas noitadas, nas cantorias de palco de praça e de rua, nas viagens, nas conversas travadas em verso e prosa, que ele muito gostava, quem andou lado a lado falando das mazelas da vida, do amor, da dor, da fome e do sonho da fartura. Do sucesso e da realidade. Muitos pensam que eram seu amigo, sem saber que na verdade, ele sim é quem escolhia suas amizades a quem se entregava com dedicação. Infelizmente tenho que dizer, amigos de fato, Raberuan teve poucos. Aqueles que receberam seu carinho incondicional sabem do que estou falando. Privilegiados, sim aqueles que tiveram o prazer de ficar próximos e absorver um pouco de sua energia singular. Feliz de que ouviu suas canções entoadas ao vivo na esquina, sentados no meio fio, no quintal do Sacha, ou na sala do Akira. Na rua, na praça, no trem, qualquer lugar simples onde o gênio de fato se sente bem. Privilegiados, também, aqueles que tiveram chance de conversar e conhecer e aprender com esse cara que, com certeza teria sido amigo de Lou Reed, Iggy Pop, Janis, Baudelaire ou Augusto dos Anjos se tivesse nascido próximo a eles, pelo grau de inquietação que o torna parecido com pessoas desse gênero. Mas surgiu em outro tempo, outro lugar e escolheu Sacha, Akira, Edvaldo, Severino, Claudinho e outras tantas almas fora de seu devido lugar, num bairro pobre qualquer do mundo chamado São Miguel. Preferiu ficar entre os simples mortais, parceiros de lutas, alegrias e tristezas, que também procuram seu lugar ao sol, e deu sua contribuição honesta e valorosa a quem com ele quis aprender. Fica a minha dor, a minha saudade. Fica o meu respeito e o conforto de saber que ele irá se juntar em algum lugar a outros caros amigos que a pouco também nos deixaram. E que sua obra permanecerá para sempre. Seu corpo descansou, sua alma continua viva. Seu nome não será esquecido. Raberuan, dê lembranças aos nossos amigos que o esperam. Peço a Deus que te abençoe e agradeço em nome de todos que ficaram pelo prazer e o privilégio de sua breve companhia.

José Vicente de Lima – 19.11.2011