domingo, 20 de abril de 2014

sarau da casa amarela de abril - convocação



"cachaça e pau duro
são duas coisas
que não combinam"

comadres e compadres, isso não é convite -
é convocação sob pena de perda de amizade
para sempre com quem não comparecer no
próximo domingo - 13/04, a partir das 15h, no
sarau da casa amarela de abril. além da
amizade perdida os ausentes estão sujeitos à
excomunhão eterna porque domingo que vem
teremos na casa amarela o relançamento do
lendário e cultuadíssimo livro de poemas de
vlado lima, o "pop para choque", editado pela
editora patuá. não vou ficar aqui de lambedor
das bolas do poeta, vou sim deixar 04 poemas
de sua lavra e cada um que tire suas devidas
conclusões já que todos sabem onde fica a
a casa amarela: rua julião pereira machado, nº
07, em são miguel paulista, perto da sabesp.

akira - 08/04/2014.

4 Poemas de Vlado Lima


OS TIOZINHOS DA MESA DO CANTO
para Gaúcho, Anibal e Dimi, com carinho

4 (às vezes 5) tiozinhos sentados na mesa do canto
quase todos gordos carecas doentes falidos ou desempregados
sentam-se ali há anos
religiosamente
toda quinta-feira
na velha mesa do canto de cara pra Faustolo
sentam-se ali há anos
com suas barrigas
suas dentaduras
suas próstatas delicadas
seus pânicos & panes
suas receitas secretas de como obter sucesso
comer mulheres e influenciar pessoas
e seus planos infalíveis de bombardear Manhattan Oriental

4 (às vezes 5) tiozinhos sentados na mesa do canto
acho que eles estão morrendo
tem noites — quando já estão pra lá da 4ª dose
— que dá até pra ouvir seus pensamentos
(:)
quem cuspirá na cova de quem?
quem contará piadas no velório de quem?
quem consolará a viúva de quem?
quem
herdará a solidão da mesa?

***

ÁLBUM DE FAMÍLIA II: O HOMEM QUE COMEU MINHA MÃE

o homem que comeu minha mãe —

o primeiro —

era moreno

meio mouro

meio bugre

o cabelo preto muito preto

e uma lábia de vendedor de enciclopédias

o homem que comeu minha mãe
chegou no lombo de uma Caloi
cowboy nordestino
de sapato bico fino
calça pantalona
brilhantina no cabelo
e uma peixeira calibre 22
minha mãe caminhou sobre as águas
tocou banjo com anjos alcoólatras
e passou merthiolate nas chagas de Cristo

o homem que comeu minha mãe
foi embora no intervalo de um Corinthians e Bangu
disse que ia comprar cigarros
e desapareceu numa nuvem de gafanhotos
minha mãe desceu à mansão dos mortos
lambeu as sarnas de Cérbero
e pariu crisântemos nas vielas do inferno
virou uma bruxa chocha com o coração de jiló
que em noites de TPM cospe relâmpagos de sal

as vezes a velha olha através de mim
: tu és a cara do teu pai!

***

UM SUJEITO SENSÍVEL

anti-romântico, eu?
não
sentimentalmente econômico, mamãe diria
lacônico?
magina
lembra daquele “acho que gosto de você”
que soltei no verão de 97?
sim, sou um sujeito sensível sim
as vezes sinto uns lances estranhos dentro de mim
pensei que fosse amor
saudade
paixão
mas o meu gastro me garantiu que são apenas gases

***

150 ml de Januária e ela ficava linda

trepamos ali mesmo
no banheiro do bar
com gente batendo na porta e tudo
não sei se era noite/dia
se Gojira rugia
ou se os Chinooks da Divisão de Kandahar
voavam sobre os restos do Buda dinamitado
lembro apenas que levantei seu vestido
abaixei sua calcinha
e
CRAU!
(...)
pernas
peitos
pêlos
cabelos
boca
bunda
suor
saliva
(...)
loucura, meu!
loucura total
e olha que ela nem era tão bonita assim
e olha que ela nem era tão gostosa assim
oxalá —
aquilo lá —
fosse mulher do sexo feminino
(...)

cachaça e pau duro
são duas coisas que não combinam
 

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