domingo, 20 de abril de 2014

dedo mole 9


era a última cacheta da tarde da sexta-feira santa
no bar do osvaldinho e já que era a saidera mesmo
subiram a mão para cem reais por cabeça, que deu
mil e cem a casada.

era também a última chance para quem estava no
prejú virar a sorte e salvar algum para quem sabe
desatolar o dedo do cú.

era justamente quando o silencio era maior e mais
inquieto e os sapos pescoçavam nervosos pra lá e
pra cá que três pivetes armados chegaram do nada
da tarde triste da sexta-feira santa e promoveram
a maior limpa no buteco.

era então que levaram celulares e carteiras, a
grana da casada todinha e até a correntinha de
ouro com nossa senhora aparecida do osvaldinho.

era nem quinze minutos depois quando o cagaço
ainda nem tinha passado e o caixa d’água dizia
apavorado que não perdoaram nem mesmo a nossa
senhora do osvaldinho que agora ia virar pedra de
crack nas mãos dos nóia, que uma van escolar com
os vidros fumê fechados estacionou na frente do
cachetão do osvaldinho e dedo mole desceu com os
moleques da indaga recente e com uma sacola do
tipo de feira nas mãos cujo conteúdo ele derramou
em cima da mesa de sinuca – todo o produto da
limpa feita.

era assim portanto que dedo mole falou assim: foi
mal rapaziada, tô devolvendo o que os aprendizes
aqui levaram de vocês, confiram ou confiem mas
não precisa passar recibo, minha palavra é uma
e é de responsa, já cansei de falar pra eles que
não é pra atrair atenção pra minha funilaria.

era por fim que dedo mole devolveu a santinha do
osvaldo, pediu uma maria mole que bebeu de um
gole só e ainda falou assim quando estava saindo:
japa, meu bom, já deixei sua carteira e seu celular
na sua casa com a sua senhora, se faltar alguma
coisa passa lá no martelinho de ouro.

era assim mesmo que então as minhas tripas se
contorceram de aflição na boca da noite muda e
sem salvação da sexta-feira santa: caráio, dedo
mole sabe onde moro.

akira – 18/04/2014.

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