domingo, 10 de outubro de 2010

Destino


porque sou incapaz
das tarefas mais simples
como trocar uma lâmpada
consertar o chuveiro
ou ajustar o alarme
do telefone celular

porque sou incapaz
de administrar agendas
assuntos e compromissos
dias, horários, locais
e o maior dos pecados
sou um desastre
com datas que comemoram
aniversários e casamentos

porque minhas mãos
são incapazes de ternuras
alegrias e emoções  banais
e meus olhos há muito
não se comovem mais
com o por do sol que cai
além dos arranha-céus

porque sou incapaz
de gestos de aproximação
e palavras de afeto
ante o riso cristalino
de crianças brincando
mas que quando sozinho
choro em silencio a solidão
e o abandono de todas elas

porque fui moldado
no barro de povos primitivos
à imagem e semelhança
de ascenstrais navegantes
guerreiros poderosos
guiados por ventos e estrelas
em migrações continentais

porque sou assim
sou um condenado às viagens
e às longas temporadas
de caça e pesca
e morro aos poucos
a cada parafuso que aperto.

akira – 08/10/2010.

7 comentários:

  1. Ola Akira,
    Já salvei meu domingo ao ler este belo poema teu.
    Parabéns.

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  2. Baita poema, nihonjin, daqueles que só os japas paraguaios sabem escrever.

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  3. Da mesma cepa, fui lavrado,
    A cada dia o tempo se esvai,
    E sempre me sinto cobrado
    Embora nada faça a mais.
    Do que mirar,
    Ė o que me resta nesta,
    Dez/do dez/doismiledez,
    Pela 4ª vez nos 50
    Apertando mal os fusos
    E os parafusos

    Xicoedú – 11/10/2010.

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  4. Puta poema velho.
    Acho que é o tempo que nos torna assim "sábios e incapazes"

    LuizCasé – 11/10/2010.

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  5. Parabéns, Akira!
    Suas palavras conseguiram fazer rolar lágrimas até mesmo de uma pedra como eu!
    Fiquei profundamente emocionado ao lê-las.
    Muito obrigado por compartilhar conosco.
    Abraços cheios de saudade.

    Luiz Gongora – 12/12/2010.

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  6. tino

    acredito de verdade
    na coisa mais divina
    na sutileza do vento
    no segredo da menina
    na transparência da água
    na verdade cristalina

    como martim luter king
    lutando pela igualdade
    busco ser compreendido
    quando prismo a vontade
    miro já cá no futuro
    um raio de liberdade

    porque sou incapaz
    de matar uma moriçoca
    mas consigo ser bidu
    quando vou comer pipoca
    sei do gosto pelo tino
    pois mal gosto me sufoca.

    se conserto o chuveiro
    com instinto curioso
    não sei consertar parede
    acho muito perigoso
    meia-colher ou meia-boca
    meu tino é de preguiçoso.

    sacha arcanjo (19102010)

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  7. miro
    e firo
    o papel (tela) branco
    branca tênue pura vontade
    de esverdecer
    depois morrer
    na poesia madura
    caída aos pés
    do akira

    miro e firo
    esfrio
    apodreço
    mas umedeço
    mas frutifico
    mas florifico
    mas renasço
    e refaço
    o mesmo caminho
    dos pés do akira

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