terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Enseada de Itapacoróia

muito cedo ainda, a casa da enseada de itapacoróia,
de paredes caiadas e sem acabamento ou pintura, de
cômodos grandes e ensolarados, e com um jardim
desordenado e caótico na frente, virou um brinquedo
pequeno e monótono para clarice e mal suas asas
cresceram, ela escapou para a rua, pelo vão da grade
enferrujada da janela da sala;

nem uma semana se passou, a enseada de itapacoróia,
com suas casas cinzentas e pássaros sem memória,
suas raras árvores agarradas desesperadamente aos
seus ínfimos quadrados de terra delimitados nas
calçadas pela prefeitura, e suas crianças trancadas
dentro de casa, também virou um brinquedo sem
graça alguma;

alguns dias mais e todas as ruas do jardim das oliveiras
não couberam mais dentro do vôo de espantos e
inquietações de clarice e certa tarde por acaso, quando
ela explorava as margens do tietê, descobriu a estação
de trem do jardim romano e partiu na primeira
composição em direção ao grande brinquedo sampa,
sem dizer adeus nem olhar para trás;

não olhou uma vez siquer para trás e hoje a casa da sua
infancia na enseada de itapacoróia é um objeto ôco e
enorme demais para mim, onde caminho como um
morto-vivo por seus cômodos sem alegria, tropeçando
nas saudades herdadas de clarice.

akira – 22/02/2011.

11 comentários:

  1. Eita que esse sentimentoé ambíguo demais: saudade e orgulho, tudo misturado.

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  2. Eu gostava muito de explorar as casas aonde ia, o sítio de minha Vó Ivone e o porão da casa de Teresópolis eram os locais mais instigantes. Clarice está representando muito bem a arte desbravar novos lugares! Itapacoriá, vou agora ao Google para saber onde é exatamente!

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  3. Chorik,
    saudade e despeito, voce quer dizer.

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  4. Thiago,
    Enseada de Itapacoróia é a minha rua.

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  5. Eu ainda acho que o teu coração de poeta é sempre este: um coração de menino!

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  6. E aproveito para dizer que isso de colocar nas mãos de Raberuan os meus poemas é me entregar uma alegria duradoura.

    beijos

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  7. Carlos Alberto - zelador do Brooklin10 de março de 2011 às 01:30

    Já lie reli este poema umas dez vezes...emocionou-me dez vezes...dez lagrimas ele ja tirou de mim..quantas outras viraõ???

    Parabens Akira por mexer com nosso sentimentos de tristeza e alegria com tanta maestria.

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