terça-feira, 15 de novembro de 2011

Saraus, Cláudios, Raberuans e Severinos


meu querido amigo cláudio gomes, peço desculpas,
não vi o seu sarau que era o mais aguardado de
todos na casa amarela, pela possibilidade única de
conhecermos os bastidores da carpintaria poética e
o grande caldeirão de referencias culturais de um
poeta que exibe uma obra singular e da mais alta
qualidade, que não pode ser colada no rótulo de
nenhuma escola ou movimento que eu conheço;

não vi o seu sarau porque apesar de presente de
corpo, minha cabeça estava pesada e muito longe,
na noite anterior, quando fizemos uma correria
maluca debaixo do dilúvio da quinta-feira, de
ermelino até o centro sem conhecer o trajeto, para
internar raberuan no hospital brigadeiro, ligando
como um doido várias vezes para o edsinho, pelo
celular para garantir imediato atendimento na
chegada à emergencia e pedindo pelo amor de
deus para que ele não empacotasse no carro, sem
discernimento, sem lucidez e sem ajuda;

não vi o seu sarau, meu querido cláudio gomes,
porque se por si só a sua poesia parece simples e
fácil,  - parece, não fossem as armadilhas por trás de
cada vírgula inofensiva, não fossem os amazonas e
os atlânticos por trás da palavra singela, não fosse o
buraco na camada de ozônio acima do céu claro e
azul, não fossem os motivos verdadeiros embaixo
dos motivos aparentes, e não fosse o corpo curvado
sob o peso infame da dor indignante numa maca de
enfermaria, não fosse o chôro e o vômito retornando
do muro da garganta quando o entendimento pifa
como bolha de sabão e abandona os olhos do
pássaro inquietante;

vi e não vi os seus poemas, cláudio gomes, ouvi mas
não ouvi as histórias deliciosas da sua infância no
parque buturussú e na vila itaim, os seus primeiros
passos nas letras, o teatro de rua, o grupo canto, o
mpa e o severino do ramo, meu deus, o severino do
ramo que merece uns dez saraus da casa amarela só
para ele. Um beijo, meu irmão.

akira – 15/11/2011.

Um comentário:

  1. É muito triste descobrir que sem estar devidamente conectada, sem estar atenta aos emails, alguns títulos poéticos parecendo mais poesia do que realidade, e
    somente esta semana fui compondo uma colcha de mensagens coletadas a esmo para saber que Raberuan partiu.
    Tive a alegria de ser apaixonada por ele,
    tive a alegria de ter sido beijada por ele,
    tive a vaidade boa de me sentir desejada por ele,
    como mulher bem menina que eu era, com meus quinze anos.
    Mas tive a honra de ter sido sua amiga e parceira.
    E mais ainda, de ter estado no palco, dando minha voz e meu corpo para fazer brilhar ainda mais a sua poesia e a sua música. Fui,com muito orgulho, amiga, fã, tiete e backing vocal do Raberuan. E fico à disposição dele, quando minha hora chegar também! Grandes saraus por aquelas bandas de lá.

    Com saudade,
    envio beijos para ele por aqui!

    Eliana Mara Chiossi,
    mas para Raberuan, só Li!

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