eu estava com edvaldo santana na última sexta-feira – 18/11, quando recebi a notícia da morte de raberuan, estávamos à noite em um evento de arte e cultura no bairro de jabaquara onde edvaldo era a atração principal, estávamos ouvindo apresentações de poetas e compositores metroviários quando o celular tocou e do outro lado, sacha arcanjo conseguiu informar com voz sumida, “akira, meu irmãozinho, sinto muito mas o pior aconteceu” - e desligou sem dizer mais nada;
pela minha reação edvaldo entendeu tudo e nosso abraço de conforto e solidariedade foi seco e duro diante da dor brutal e estúpida, apesar de estarmos preparados há meses para o teor dessa notícia, porque acompanhávamos dia após dia a lenta decadencia das condições de saúde do raberuan, uma tosse e um catarro a mais hoje, o ouro amarelado nos olhos e na pele, e o fiapo vermelho de sangue no canto da boca, a respiração mais difícil amanhã, e diante da nota que ele não conseguia mais alcançar, cúmplices, disfarçávamos olhando para o outro lado, e ficamos em silencio, eu e edvaldo, porque não havia mais nada a dizer;
sueli kimura ligou em seguida dizendo que edsinho pediu para dar-me a notícia porque não teve coragem de ligar para mim, imagine, o edsinho que foi sempre o mais forte de todos nós, nosso esteio, alicerce e porto seguro onde sempre ancorei o navio desemparado do meu medo e da minha insegurança sem cura, “sueli, meu amor, segura a minha mão essa noite, não solte a minha mão, fica comigo, cuida de mim”, porque se nem o gordo não aguentou, estamos abandonados à nossa própria sorte;
e na noite enorme e sem fim da morte de raberuan, todos ligaram para mim suplicando um gesto de conforto que minhas mãos duras e secas não podiam oferecer, adilson aragão ligou, ceciro cordeiro ligou, gildo passos, osnofa, tiago araújo, heron alcântara, célia maria gonçalves, fábio lima, fátima bugolin, cláudia regina, wlad, acauã, jorge gregório, carlos scalla, rose beltrão, todos, tantos ligaram e bateram de frente na parede da minha voz dura e seca na noite da morte de raberuan, esse pássaro torto que nunca mediu consequencias e só trafegou na contramão da vida e sempre atravessou o semáforo no vermelho.
akira yamasaki – 23/11/2011.
Akira,
ResponderExcluirÉ Paulinho, de Ermelino Matarazzo, primo da Fátima Bugolin.
Cresci com o Sebastião, que depois virou Nenê, mais tarde era uma dupla, Tomé&Simão, depois Sacha&Raberuam.
Tabalhamos juntos, como metalúrgicos, ele era Ferramenteiro, eu Torneiro Mecânico, na Badoni, em Ermelino Matarazzo, e vinha da Bardella, em Cumbica, o ano era 1977.
Loucuras do menino inquieto, Nenê, não parava um minuto, sempre agitado, nesse períoso, conhecí o Celso Frateschi, que estava organizando um grupo de teatro na região, na Biblioteca da Penha, logo em seguinda, eles fundaram o Grupo de Teatro Núcleo, que funcionava em frente o Forró do Paganini, na Av. S. Miguel, já próximo da Penha.
Levei o Nenê lá, apresentei ao pessoal, e o resultado não foi outro. Ele se encantou pelo trabalho, largou o emprego na Badoni, e decidiu, que não seria mais metalúrgico, dalí prá frente, sua carreira seria exclusivamente artística.
Passado um tempo, eu que já era amigo do Pedrinho espanhol (Pedro Francisco Perez), do Parque Paulistano, fui convidado para uma reunião, onde um pessoal, da UNICAMP, estava levantando a história de S. Miguel, era Antonio Arantes e Tadeu Giglio, antropólogos da Unicamp, para a revitalização de sítios históricos de bairros da cidade de São Paulo.
À partir daí, foi feita uma corrente, que redundou na união de todo esse povo, e nasceu o Movimento Popular de Arte, cujo Raberuam foi uma das estrelas que abrilhantaram essa rica história dos movimentos nos idos anos 70 e 80.
Um grande abraço, e vamos manter sempre viva essa história, onde todos de alguma forma, contribuiram para sua realização.
Abs
Paulinho