domingo, 19 de junho de 2011

Meus poetas preferidos (19)

Claudemir Santos

Concordo com o Escobar, o Claudemir é o melhor texto que conheço, sempre riquíssimo e inquietante, veloz e ziguezagueante e, principalmente, perturbador.
Multiartista, poeta, contista, ator, dramaturgo, diretor teatral, agitador cultural e educador, não sei como, mas o Claudemir consegue ser ótimo em tudo a todo momento, e a cada dia que passa eu o admiro mais. Aliás, o Claudemir me lembra muito outro grande amigo, o Artenio Fonseca que também conseguia fazer, e bem, várias coisas ao mesmo tempo. Edvaldo Santana é outro.
A amizade do Claudemir deixa-me muito honrado porque é a amizade de um cara correto e honesto, e sobre esses requisitos, ele não faz nenhuma concessão, seja no palco ou na vida real que para ele é uma coisa só, sou testemunha disso.
Admiro também e demais o senso de humor do Claudemir, sempre inteligente e agudo, e perturbador. Por exemplo, o gaiato agora encucou que está para morrer e escreveu um testamento e ainda teve a pachorra de nomear-me e ao Escobar Franelas como tutores.
Eu é que não vou ficar com essa batata quente nas mãos esperando ele bater com as dez, o Claudemir que me desculpe mas vou publicar o seu testamento já.

Akira - 19/06/2011.

Caros e Raros Escobar e Akira

Desculpem a demora em enviar meu testamento, que meu advogado lançou
na rede semana passada.
Segue aqui para vcs a distribuição de minhas riquezas.
Devo dizer que me sinto bem melhor esta semana, mas talvez não seja a
doença que enfim me mate, já que muitos amigos desta lista estão a minha
procura.

Abraços.


"Caros amigos, estou na pior. Doente de verdade, quem diria; quase indo ao médico - possivelmente para assinar meu atestado de óbito. Como não poderia deixar de ser, antes do óbito, o tão esperado testamento. Assim sendo, aqui está meu testamento. Ao morrer, espero ver – se é que morto ver alguma coisa! – os amigos felizes e com minha imagem em suas memórias, até que venham a falecer também!
Para Anita, a número 1: deixo minha cama mágica (todos que deitam nela dão pra mim, exceto homens, ivanerista e delouistas, é claro!). Além da cama com propriedades mágicas, deixo também o bisselo, o cobertor, o ededredon (tem que lavar que o gato cagou nele ontem).

Para Márcio Sabbath, meu irmão: deixo minhas revistas Vertigo, que ele acha que eu roubei algumas dele, mas eu não roubei. Aliás, acho que ele roubou algumas de mim. E também deixo a caixa amplificada dos tempos de Deus Ex Machina, que ele comprou sem a Regiane saber e deixou comigo, e eu nunca devolvi.  

Para Hayashi, meu amigo: deixo os vinis do Bob Dylan e meu violão Eagle que, na verdade, é 10% dele pois ainda lhe devo uma prestação. Mas, como disse mês passado, mês que vem eu pago!

Para Nando Z, meu outro amigo: deixo meus cães, junto com as vasilhas e cinquenta quilos de ração vagabunda, e também meus VHS do "Poderoso Chefão", que ele quis roubar uma vez.

Para Rodrigo Marrom, meu outro amigo: Deixo a viúva negra, para que ele possa, enfim, como sonhado, ficar perto do cano preto da menina e sentar no banco macio. Deixo também minha guitarra Dolphin. Pra quê, eu não sei.
 
Para Escobar Franelas, meu outro amigo: deixo todos os meus vhs, para que ele possa ocupar seu tempo ocioso transformando-os em DVD ou jogando-os no lixo, para poluir o planeta. Deixo também aquele meu livro do Anthony Burgess, já que ele pegou e nunca mais devolveu.
Para Marcos Antônyo, meu outro amigo: Deixo meus diários com descrições de todas as mulheres do AD que eu comi, para que ele possa chantagear muita gente e ganhar algum dinheiro com isso. Deixo também meu Stanislavsky, já que ele pegou emprestado e nunca mais devolveu, além dos meus óculos, que eu esqueci no carro dele e ele nunca mais devolveu.

Para Clara Barbosa, minha amiga: deixo as páginas de diário que dizem respeito às nossas experiencias sexuais, para que o Marcos não possa chantagea-la futuramente. Deixo também meu Bukowisky, que ela leu, gostou e devolveu, diferente de muitos filhos da puta por aí.

Para Marcelo San Geres, meu outro irmão: deixo minha coleção do Paulo Coelho. Afinal foi com ele que eu aprendi a ler e gostar desta merda. Deixo também as páginas do meu diário que dizem respeito a sua vida particular, para que o Marcos não possa chantageá-lo um dia.

Para Michelle Dias, minha outra amiga: deixo meu Drácula e meus Diários de vampiro, que eu ganhei e dificilmente lerei. Deixo também meus pesos e alteres, para que ela não fique voando a toa por aí.

Para Karen Danielle, minha outra amiga: deixo o diário inteiro que diz respeito às nossas experiências sexuais, para que o Marcos não possa chantagea-la. E deixo também as fitas VHS nas quais gravei escondido as nossas putarias.

Para Bárbara Ramos, minha outra amiga: Deixo meus cds do Lou Reed. E também meus pincéis descabelados e minhas tintas vencidas, para que ela possa criar suas obrar seja qual for a circunstancia ou material. E Também as páginas do meu diário que dizem respeito as nossas experiencias sexuais com ou sem lasanha, para que o Marcos não a chantageie e o Hayashi não a deixe por causa de uma mixaria.

Para Ivan Neris, meu outro amigo: deixo minha agenda com telefones e endereços de nossos amigos em comuns – e de mais uma penca de pessoas que ele pode muito bem vir a conhecer! –  para que ele nunca perca o contato com os mesmos. Deixo também seu caderno de poesia que ele um dia deixou comigo para que eu o digitasse e eu nunca devolvi.

Para Patricia Maria, minha outra amiga: deixo as páginas de diarios que vocês sabem muito bem o que tem escrito, além de um CD do Muddy Waters que nos foi trilha sonora por muito tempo e que eu não roubei dela, mas tive a felicidade de comprá-lo em um sebo.Deixo mais uma xícara de café  e uns VHS e vinis com trilhas sonoras de musicais que ela adora e eu acho um saco e comprei apenas pra poder escrever as páginas de diários que vocês sabem muito bem o que tem escrito.

Para Sacha Arcanjo: eu deixo meus shorts italianos para que ele possa andar tranquilo e elegante pela praia, tal qual Marcelo Mastroiani - e, já que estamos nessa, deixo pra ele também meu poster da Sophia Loren nua, na década de 60, é claro!

Para Akira Yamasaki e Sueli Kimura, meus amigos: deixo-lhes a Casa Amarela, com todas as contas atrasadas, todas as encrencas com os vizinhos e o filme queimado na prefeitura de São Miguel - que evidente vai ser espalhar por toda São Paulo. Deixo também uma vara de bambú, para que eles possam produzir pauzinhos para comer arroz.

Aos que não estão nesta lista por esquecimento ou desmerecimento, não deixo porra nenhuma!
 
Para minha mãe: deixo meus demais pertences, além de minha conta bancária que deve estar beirando os 700 mil reais do dinheiro que venho economizando desde que aprendi a sair, beber, fumar e comer às custas dos meus amigos e das mulheres deles. Deixo também meu diário sobre suas experiências sexuais, para que o Marcos não possa chantageá-la futuramente.

Estes são meus desejos finais. Quero ser enterrado no cemitério da saudade, que meus amigos carreguem meu caixão sem escorregar no barro - claro que vai estar chovendo! - e que bebam muito, relembrando o grande amigo que fui e a fortuna que lhes dediquei da minha existência terrana. De qualquer forma, em breve, espero a todos no inferno dos boêmios, artistas e outros tipinhos mais!!!"

Abraços!  

Claudemir Santos – 13/06/2011.

2 comentários:

  1. Antes que a data fatídica chegue, não esqueça de deixar, por escrito, todos os relatórios PJU que está me devendo.

    Amém

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  2. Carlos Alberto - (Big Charlie) zelador do Brooklin21 de junho de 2011 às 04:10

    Emocionante

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