segunda-feira, 29 de setembro de 2014

o bentevi, itaim ganhou uma resenha emocionante de bianca velloso


Estou com o livro do Akira Yamasaki desde julho... Trouxe
de São Paulo, da minha passagem pela Casa de Farinha e
pela Casa Amarela... Volta e meia ensaiava a leitura... Eu
sabia que não seria fácil... Foi uma leitura regada a lágrimas,
a começar pelo depoimento da Sueli. O livro está lindo: o
formato, as ilustrações, os poemas, os depoimentos e o cd.
Acredito que todo poeta é menino... A brincadeira é a
maneira que a criança encontra de organizar a vida e os
sentimentos – quem é que não viu um filho ou um sobrinho 
reproduzindo fatos reais e transformando-os com novas 
possibilidades no ato de brincar? – O poeta, ao manejar as 
palavras, faz a mesma coisa que a criança quando brinca. E 
 o menino Akira brinca assim:

verdades

tudo bem, eu menti pra você
menti, menti, admito que sim
mas tem verdades, meu amor
que eu não conto nem pra mim
(Akira Yamasaki)

Acompanha o livro um cd com alguns poemas musicados...
Ele escreveu um poema para Clarice, sua filha, que é uma
canção de ninar:

cantiga para Clarice adormecer em paz

o travesseiro de clarice
é um ursinho de pelúcia
um arco-iris encantado
ele só vive sentado
com seus bracinhos abertos
me querendo sempre perto
num gesto claro de clarícias

no cd esta cantiga é entoada junto com um poema que ele
fez para uma menina que vende doces no sinal:

semáforo

no Itaim paulista
cai a noite gelada
fecha o farol
no cruzamento da marechal
com o viaduto da china
em frente ao Mcdonalds
e casas Bahia

de sandálias havaiana
uma menina atravessa
a cortina fria da garoa
oferece chicletes
e balas de goma coloridas
- dez centavos, tio

do fundo sem fim
dos seus olhos silenciosos
acusa-me uma dor indefesa
e desarmada

Sim, Akira, aquela menina bem que podia ser a tua filha... ou
a minha... uma criança igual às nossas... com a infância
roubada...Ele diz que é um bom poeta ruim... Quando eu
crescer quero ser ruim assim!
Akira, seu feadaputa, eu te amo! E espero ansiosa teu próximo
livro... Um beijo do tamanho do mundo, meu compadre, meu
irmão.

Bianca Velloso.

 

rosana crispim no 27º sarau da casa amarela


minha comadre e poeta fundadora da raça dos baitas,
rosana crispim da costa, está no brasil para resolver
uns assuntos de ordem particular e deu uma raspada
no sarau da casa amarela de 14/09, onde promoveu
momentos inesquecíveis de celebração da amizade
por meio da sua poesia maior. dinossaura do mpa -
movimento popular de arte, onde no final dos anos
1970 ajudou a carregar muitas caixas de som e de
iluminação nas costas nos eventos do mpa com um
sorriso no rosto, rosana está morando há décadas na
itália mas continua a mesma menina daqueles anos
loucos e libertários. o vídeo é de selma sarraf bizon.

outro presente de bianca velloso


akira

a poesia do Akira
me e s t r a ç a l h a
é meu espelho
leio e me despedaço
ali me vejo
corpo descalço
alma desarmada


a poesia do Akira
dói e pulsa em mim
leio e me desmancho
em lágrimas ácidas
que escorrem pela face
e abrem em meu peito
uma senda de ternura

- Bianca Velloso -

ganhei de presente de bianca velloso


alguma coisa
me irmana
ao compadre Akira
...
alguma coisa
que não é o sangue
...
alguma coisa
que nem sei bem o que é
:
talvez seja esta trilha
caminhar pelo descaminho
aceitar o sonho
que o destino
(ou o desatino)
coloca em nossas mãos
acolher as escolhas
colhidas na lida
do dia-a-dia


- Bianca Velloso -

poesia covarde


poesia covarde a minha
deu no pé no primeiro indício
da gripe que chegou chegando

febres, calafrios, diarréia
tosse, tosse, tosse furiosa
catarros com fios de sangue
tsunami de câimbras pavorosas
nas panturrilhas e região torácica
dor, dor, dor repugnante


xaxá, benzedor e curandeiro
prescreveu notuss e biprofenid
e por conta e risco receitei
spray de própolis com guaco
balas de gengibre, cravo e canela
além de chá de alho e limão

missôshiro com frango da sueli
é caldo de responsa e boto fé
por isso vou esperar mais um dia
antes de apelar para os antibióticos

sei que poesia não cura gripe
mas um mínimo de solidariedade
diante da dor seria bem-vinda

akira – 20/09/2014.

oswaldo tiveron no 27º sarau da casa amarela


fico encantado com as surpresas emocionantes que
acontecem na casa amarela sem aviso prévio a cada
cinco minutos. quem não fica esperto e atento corre
o risco de perder momentos de puro encantamento
como esse quando o compadre tiveron comoveu a
todos os presentes cantando este clássico da canção
brasileira acompanhado ao violão por éder lima. ao
meu outro compadre e amigo, o luka magalhães,
deixo a gratidão pelo vídeo. aliás, não só ao eder e
ao luka, mas a uma pá de gente, não vou citar aqui
nenhum nome para não cometer injustiças, que
entendem que a casa amarela é um espaço cultural
que precisa ser preservado com unhas e dentes, e
estão sempre presentes com sua amizade e afeto,
ainda vou escrever um livro para dizer da minha
gratidão. 

janete amaral no 27º sarau da casa amarela


quando a poeta e cantora janete amaral declamou o seu
poema no sarau de domingo, num impulso observei em
público o crescimento e a evolução da sua poesia, tanto
na qualidade como na quantidade, ao que ela respondeu
dizendo que era devido a convivência com os poetas que
frequentam a casa amarela. no caso de janete encanta e
chama a atenção de todos o fato dela estar encontrando
o ponto de equilíbrio entre forma e conteúdo, intenção e
ação da sua poética e estar abrindo as comportas da sua
criação para despejar sobre nós a poesia plena de ternura
e lirismo do rio das suas memórias.


akira - 17/09/2014.

 
Paulo

Paulo era o filho do leiteiro,
em sua carroça entrega os litros de
leite
de casa em casa.

Filho do seu Nelson,
Ajudava o pai...
A entregar o leite.
A carroça balançava
nas ruas sem asfalto,,,
De São Paulo
e fazia um barulhão,
que denunciava sua chegada.

Em cima do muro,
de frente de casa,
Paulo me pediu um beijo,
meu primeiro beijo
aos 7 anos,
a Tia Deija viu,
contou pra minha mãe,
foi a primeira surra que levei.
nunca mais beijei Paulo,
nunca mais beijei ninguém
em cima daquele muro.

Depois,
Ainda jovem, Paulo
perdeu a vida pras drogas.

Janete Amaral.