sexta-feira, 15 de julho de 2011

Cão cego 3


na noite parda
o gato espreita
auroras distantes

o cão cego cava
uma cova no céu
e nele se enterra
como um segredo
que nunca existiu

todos já dormiram
não há testemunhas
a não ser o arco-íris

akira – 16/07/2011.

6 comentários:

  1. Muito boa a sequencia dos cães cegos e tb do vira-lata. :) Saudades daqui também, assim como do blog do Celso.

    ResponderExcluir
  2. Belo poema sobre gatos e cães desarvorados!

    ResponderExcluir
  3. Fuga de um coração

    Quando a porta do elevador se abriu
    Meu coração saiu rolando,
    Meio que sem pensar direito,
    O segui desembestadamente pela rua,
    Era horário de rush e o vai e vem de esfomeados do capitalismo,
    Tornava extremamente difícil, alias quase impossível,
    Manter os olhos atentos a sua rota,
    Percebi que meu coração se move a uma velocidade antinatural,
    Nunca havia pousado a atenção ao fato,
    De ter no peito um coração que almejava secretamente,
    Correr o mundo e mapear o desconhecido,
    Por incrível que pareça, sempre achei que tivesse um coração pacato,
    Um coração resignado diante da vida morna e previsível,
    Sentenciada a ralé pela classe dominante.
    Mas aquele coração que vi saltando bueiros,
    Não era nem de longe um coração conformado,
    Era um coração selvagem e destemido,
    Ele foi assim rolando furtivamente entre os passos dos transeuntes,
    Eu corria atrás dele sentindo um misto de desespero e orgulho,
    Desespero com a possibilidade do esmagamento
    E orgulho ao ver que meu coração enfim rebelara-se comigo,
    Sem a menor hesitação ou arrependimento.
    Que coração corajoso eu pensava! E pensava também não pisa!
    Mas eu percebi que se tratava de um coração astuto,
    Que sabia como poucos desviar-se dos acidentes no caminho,
    Como também não tremia diante dos riscos da liberdade.
    De tanto correr acabei conseguindo alcança-lo,
    O difícil foi agarrá-lo, tratava-se de um coração muito escorregadio,
    Tive que tirar a camisa e jogar sobre ele para captura-lo,
    E posso afirmar com certeza absoluta que não há animal neste mundo,
    Que tenha se debatido tanto ao ver-se interceptado,
    Mas por fim sem forças para continuar a disputa,
    O coração fujão voltou para o seu lugar de origem, meu peito.

    Ivan Neris 29/07/2011

    Acabei de chegar da faculdade e por isso não pude estar com voces nesta noite especial...

    ResponderExcluir
  4. Cão cego? (ou a história de Bianca, que nunca vai ser assim)

    "alguém me dê um tiro por favor"
    acordei com isso na cabeça
    repeti três vezes em voz alta
    e por três vezes não achei absurdo
    por três vezes não neguei
    como paulo, ou pedro, ou judas
    ou qualquer outro filho da puta
    não foi cegueira
    a raiva, medo, caganeira
    foi eu me lambendo sob
    o edredom e o cobertor
    (empoeirados e emprestados)
    que uso desde no último mês
    forrando meu chão

    mas também não foi por isso...
    também não foi um talvez
    foi um sorriso.

    Tiago Araújo - 30/07/20111

    ResponderExcluir
  5. "Daquele jeito"

    Em todo lugar há sempre:
    um cão que caga e espalha seu húmus
    um coração que foge, e fode a gente
    um esperma que salta e vira semente
    um poema que colhe tudo isso: é o seu sumo.

    Escobar Franelas

    ResponderExcluir
  6. UMA VARIÁVEL QUALQUER DE CÃO CEGO

    Meio atropelado e caindo aos pedaços
    Sucata em fim de depreciação
    Estava ali ao léu
    Perdido em pensamentos sem nexo
    Colando os pedaços das sobras do sentimento emoção!

    Na falta de um dos sentidos
    Estava ali quase perdido
    A procura de qualquer sentido
    Que lhe recobrasse a visão

    Cão cego era o pseudônimo apropriado
    Para aquele que se achava são
    Mas não vê um palmo além do nariz
    E mesmo no claro encontra-se na escuridão!

    Enquanto o pavor do escuro o apavorava
    Um grito em estampido saia do ego
    E a sombra da culpa lhe replicava:
    Cão cego, cão cego, cão cego,...

    Assis: 31/07/2011.

    ResponderExcluir