quinta-feira, 21 de abril de 2011

Desgosto

a verdade dói demais
diz um ditado antigo
como um tapa na cara
uma cuspida, um soco

meu cachorro morreu
numa noite de agosto
de solidão e desgosto
de velho, cego e louco

berrei de tanta culpa
enterrei-o no jardim
entre plantas e flores
ressecadas aos poucos

enterrei-o em cova rasa
cavada no pé do muro
que perdeu com o tempo
ums pedaços de reboco

hoje bebi uma cachaça
com os nós dos dedos bati
nos versos do meu poema
que ecoou estranho e ôco.

akira yamasaki – 21/04/2011.

2 comentários:

  1. Olá Akira!
    O pingo faleceu mesmo?
    Que dor no coração! Meus sentimentos.
    Tenho muitas saudades de todos.

    Abcs,
    Luiz Gongora.

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  2. No tempo de um cigarro

    Minha alma é um mosaico sem cola
    Minha personalidade, não.
    Meus dedos dos pés
    São da dinastia dos Domingos
    Mas meu documento diz Araújo Vieira
    Meu nome só importa até
    O dia em que eu me tornar outro
    Quando a saudade do que eu não sou
    Virar a saudade do que eu fui
    E meus olhos, assim
    Quebradiços de glicose,
    Como meus braços finos de tentáculos
    E as pernas cabeludas de
    Flamingos-saracuras,
    Empalhados no espelho
    Feito o buraco em
    Minha caixa torácica
    Que fura meu pulmão em todo
    O trago, em todo o caso
    Desbastando meu pinto mediano
    E eu.

    No dia seguinte, no dia seguinte,
    A base de rivotril, listerine e atenção
    Suicídio, suicídio, suicídio:
    Gaudí na memória, sem o santo,
    Sem o sacro, sem a cola. Interminável.
    Mas minha personalidade, não.
    Excêntrica da essência
    Vazada de luz, de gases, e
    Relações quânticas, tânticas,
    Fânticas, pâncreas, dândicas,
    Em ordem pré-estabelecida
    Como tudo o que imaginam de
    Mim e de todas as velas
    Que ascenderam sobre meus cabelos
    Sem nunca, de fato, os terem tocado.

    Tiago Araújo

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