IVAN NÉRIS
A seguir, alguns poemas de Ivan Néris, maravilhoso
poeta condoreiro. Seus versos gigantes e viscerais
dissecam os sentimentos mais sublimes do ser
humano e também os mais degradantes.
Garanto, também, que vale a pena dar uma passada
no seu blógue http://portaisdapoesia.zip.net.
Akira – 06/04/2011.
Parede da cozinha
Minha loucura não principia no torpor do álcool,
Nem na revolta pueril das contendas familiares,
Nem na desilusão dos amores não correspondidos,
Principia na fúria libertária de rejeitar os signos condicionados,
Estuprando-me noite e dia na ânsia de assassinar,
A mediocridade, a hipocrisia e a covardia.
(texto outrora escrito a dedo e tinta,
na parede do meu antigo abrigo.)
Poema
Desde que o tempo tem lembrança,
Seguem os arautos da palavra,
Os seguidores de verdades,
Colocando no coliseu ou no Bigbrother,
Os outros homens para enxovalhar sua fraqueza e ignorância,
Esquecendo-se de antes de mais nada,
Olhar com escarnio para a frigidez de suas intenções e ações,
Prosperando a sentença de sermos sempre a espécie,
Dos macacos sobre os rabos,
Eu que da vida recebi a alcunha de grande covarde,
Nas infindas transições que me engolfam,
Para a minha vida sigo tendo sempre o olhar mais intolerante,
Costurando e recortando passo a passo minha presença no eu,
Perdendo-me e reencontrando pelas esquinas,
Jamais aceitando o que sei como sendo,
O que vejo como existindo,
O que espero como sonho,
Sempre a duras penas transformando essa marionete,
Em outra coisa que não se saiba acorrentada.
Soldados
Eu vi soldados armados com a própria fome,
Vagando sem nome na imensidão das ruas.
Eu vi poetas, eu vi cantores ah! Eu vi atores,
Vagando sem esperança na destemperança do tempo.
Eu vi um mundo repartido em pedaços,
Parido do caos entre estilhaços,
Mulheres com os filhos nos braços,
Implorando clemência onde a clemência não habita.
Eu sonhei um dia febril uma terra tão bonita,
E o real por fim discordante, ensurdentemente,
Me berrou aos ouvidos aquilo que sabe,
Assim entendi que a beleza é somente uma parte,
Daquilo que nas sombras chamamos de vida,
Pois sempre haverá muito a ser feito,
Pois sempre haverá tanto a ser dito,
Pois sempre haverá moedas e lados,
Opostos figurados do que somos nós,
Sementes e incertezas são o alimento do poema,
Fica claro que altitude do beijo,
Define a imensidão do verbo,
Entre fios e luzes opacas,
Esmeraldas e corpos dissecados,
Vagam nas planícies e pelos planaltos,
Humanos fabricados de asfalto,
Sem olhos para enxergar esta coisa,
Esta coisa que bate a porta na madrugada,
Esta coisa que salta da pia do banheiro,
Esta coisa que se rende a palavra dita no palco,
Pois eu sei que debaixo das pedras que reforçam as colunas do tudo,
Libélulas voam livres com as flores nos ventres.
Carolina
Carolina cercava os gatos preocupada com as bombas, esperava pelo sol do meio dia na edícula nos fundos do terreno, por sorte ou por acaso conseguiu ser mais veloz que os bombardeiros, das janelas fechadas ela vislumbrava as silhuetas dos aviões que riscavam o céu, ao fim da parafernália de guerra, Carolina discretamente deixou o esconderijo e rapidamente saiu portão a fora, com tristeza percebeu que não havia mais casas em sua rua, que não havia mais bairro em sua cidade, que não havia mais cidade em seu país, que não havia mais país em seu mundo e que seu mundo despencara no infinito esquecimento...
Nada mais lhe restara além de voltar para sua casa, à única casa que ainda restara neste universo de coisas desfeitas, ao cruzar o portãozinho baixo pintado de verde seu sentimento a impulsionou diretamente a edícula, a fim de saber como estavam seus gatos, ao adentrar o cômodo o risonho e gordo gato cinza logo lhe questionou: Porque esses olhos lacrimosos meu doce?
Ah meu querido bichano ingênuo, você ri pois nada sabe da vida e eu choro, por tudo o que existia e que já não existe mais...
Pobre criança! Você chora à-toa pois tudo o que existia só existiu por que você acreditou que estava lá! – e o gato desata a rir despachadamente de Carolina que olha para aquele riso e para seus gatos que riem junto com o gato cinza, olha como sempre fizera com seu olhar de quem nada entendeu sobre vida.
Nada mais lhe restara além de voltar para sua casa, à única casa que ainda restara neste universo de coisas desfeitas, ao cruzar o portãozinho baixo pintado de verde seu sentimento a impulsionou diretamente a edícula, a fim de saber como estavam seus gatos, ao adentrar o cômodo o risonho e gordo gato cinza logo lhe questionou: Porque esses olhos lacrimosos meu doce?
Ah meu querido bichano ingênuo, você ri pois nada sabe da vida e eu choro, por tudo o que existia e que já não existe mais...
Pobre criança! Você chora à-toa pois tudo o que existia só existiu por que você acreditou que estava lá! – e o gato desata a rir despachadamente de Carolina que olha para aquele riso e para seus gatos que riem junto com o gato cinza, olha como sempre fizera com seu olhar de quem nada entendeu sobre vida.
(os textos foram surrupiados do blógue de ivan).
Salve Poeta do inconformismo e da viceralidade, que prazer enorme estar aqui dentro da sua casa
ResponderExcluirIvan Neris