domingo, 20 de novembro de 2011

"Adeus, Raberuan", um texto de Zé Vicente de Lima


O Raberuan nos deixou. Certamente não da forma que ele queria, nem na hora que a gente queria. Talvez um colapso em cima do palco, um acidente ou até uma overdose de qualquer coisa, menos cama, hospital e sofrimento. Qualquer coisa, menos a imagem de um pequeno gênio, que ele foi, à mercê da sorte e da misericórdia, com o semblante mostrando toda a fragilidade de quem sabe que está perdendo a luta pela vida. O Raberuan que conheci em 79 quando esteve em minha casa junto com seu parceiro Sacha Arcanjo, me pareceu mais uma daquelas figuras frágeis que vivem da ilusão da poesia, do mundo de paz e amor, da inconseqüência da juventude, que pedem ponta de  cigarro ou de baseado, não usam relógio e quase sempre carregam um violão qualquer com um adesivo ou frase dos anos sessenta em seu bojo. Mas aqueles olhos brilhantes, os cabelos encaracolados, a suavidade na voz que vez por outra dizia uma gíria da minha vila e o fino trato com as cordas e com as palavras, me mostraram que ali, bem à minha frente estava sim, uma das figuras mais emblemáticas e inquietas que eu iria conhecer pelo resto de minha vida. Tempos depois, com maior convivência e com a chance de conhecer de perto sua arte, em todos os sentidos, logo cheguei à conclusão que ele tinha sido colocado em lugar errado e que estava jogando fora um talento que Deus permite a poucos mortais, à medida que o tempo passava. Acho que eu sempre estive certo. O tempo passa muito rápido, é cruel e geralmente castiga quem pega o caminho errado. Ele nos fazia parecer ridículos, às vezes, sem maldade e achá-lo arrogante. Quase sempre por falta de senso, ou por orgulho de quem nasceu limitado. Viveu intensamente seus relacionamentos sem medir conseqüências e, tenho certeza, foi um cara muito amado durante toda a sua vida. Não quero nesse momento falar de sua música, que bem conheço, de seus parceiros, que também conheço, nem de sua vida pessoal, que pouco ou nada conheço. Quero sim, tentar amenizar esse golpe que só sente quem de fato conheceu esse magrelo de Ermelino Matarazzo nas noitadas, nas cantorias de palco de praça e de rua, nas viagens, nas conversas travadas em verso e prosa, que ele muito gostava, quem andou lado a lado falando das mazelas da vida, do amor, da dor, da fome e do sonho da fartura. Do sucesso e da realidade. Muitos pensam que eram seu amigo, sem saber que na verdade, ele sim é quem escolhia suas amizades a quem se entregava com dedicação. Infelizmente tenho que dizer, amigos de fato, Raberuan teve poucos. Aqueles que receberam seu carinho incondicional sabem do que estou falando. Privilegiados, sim aqueles que tiveram o prazer de ficar próximos e absorver um pouco de sua energia singular. Feliz de que ouviu suas canções entoadas ao vivo na esquina, sentados no meio fio, no quintal do Sacha, ou na sala do Akira. Na rua, na praça, no trem, qualquer lugar simples onde o gênio de fato se sente bem. Privilegiados, também, aqueles que tiveram chance de conversar e conhecer e aprender com esse cara que, com certeza teria sido amigo de Lou Reed, Iggy Pop, Janis, Baudelaire ou Augusto dos Anjos se tivesse nascido próximo a eles, pelo grau de inquietação que o torna parecido com pessoas desse gênero. Mas surgiu em outro tempo, outro lugar e escolheu Sacha, Akira, Edvaldo, Severino, Claudinho e outras tantas almas fora de seu devido lugar, num bairro pobre qualquer do mundo chamado São Miguel. Preferiu ficar entre os simples mortais, parceiros de lutas, alegrias e tristezas, que também procuram seu lugar ao sol, e deu sua contribuição honesta e valorosa a quem com ele quis aprender. Fica a minha dor, a minha saudade. Fica o meu respeito e o conforto de saber que ele irá se juntar em algum lugar a outros caros amigos que a pouco também nos deixaram. E que sua obra permanecerá para sempre. Seu corpo descansou, sua alma continua viva. Seu nome não será esquecido. Raberuan, dê lembranças aos nossos amigos que o esperam. Peço a Deus que te abençoe e agradeço em nome de todos que ficaram pelo prazer e o privilégio de sua breve companhia.

José Vicente de Lima – 19.11.2011

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Sarau com Cláudio Gomes, por Luka Magalhães


Repleto de mansidão, Cláudio Gomes abrilhantou
mais um Sarau da Casa Amarela, contando suas
histórias e lembranças, mostrando-se não como
“mais um poeta popular”, mas sim como artista
comprometido com a disseminação dos
movimentos culturais na grande cidade.

Lembrou-se de como o Grupo CANTO (que não
cantava) se apropriava de um canto da casa de
Severino do Ramo, para entender e aprender
sobre poetas, estilos e muito mais.

Descontraído, Claudio demonstrou todo o seu
orgulho em morar no Parque Boturussu em boa
parte da sua vida e sobre as influências ali
recebidas pelas novas gerações de amantes da
Literatura.

Mais uma vez, a CASA AMARELA foi agraciada por
um grande momento de descontração e lazer
cultural que valeu à pena presenciar.

Luka Magalhães – 12/11/2011.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Saraus, Cláudios, Raberuans e Severinos


meu querido amigo cláudio gomes, peço desculpas,
não vi o seu sarau que era o mais aguardado de
todos na casa amarela, pela possibilidade única de
conhecermos os bastidores da carpintaria poética e
o grande caldeirão de referencias culturais de um
poeta que exibe uma obra singular e da mais alta
qualidade, que não pode ser colada no rótulo de
nenhuma escola ou movimento que eu conheço;

não vi o seu sarau porque apesar de presente de
corpo, minha cabeça estava pesada e muito longe,
na noite anterior, quando fizemos uma correria
maluca debaixo do dilúvio da quinta-feira, de
ermelino até o centro sem conhecer o trajeto, para
internar raberuan no hospital brigadeiro, ligando
como um doido várias vezes para o edsinho, pelo
celular para garantir imediato atendimento na
chegada à emergencia e pedindo pelo amor de
deus para que ele não empacotasse no carro, sem
discernimento, sem lucidez e sem ajuda;

não vi o seu sarau, meu querido cláudio gomes,
porque se por si só a sua poesia parece simples e
fácil,  - parece, não fossem as armadilhas por trás de
cada vírgula inofensiva, não fossem os amazonas e
os atlânticos por trás da palavra singela, não fosse o
buraco na camada de ozônio acima do céu claro e
azul, não fossem os motivos verdadeiros embaixo
dos motivos aparentes, e não fosse o corpo curvado
sob o peso infame da dor indignante numa maca de
enfermaria, não fosse o chôro e o vômito retornando
do muro da garganta quando o entendimento pifa
como bolha de sabão e abandona os olhos do
pássaro inquietante;

vi e não vi os seus poemas, cláudio gomes, ouvi mas
não ouvi as histórias deliciosas da sua infância no
parque buturussú e na vila itaim, os seus primeiros
passos nas letras, o teatro de rua, o grupo canto, o
mpa e o severino do ramo, meu deus, o severino do
ramo que merece uns dez saraus da casa amarela só
para ele. Um beijo, meu irmão.

akira – 15/11/2011.

domingo, 13 de novembro de 2011

Jeito de estrela, com Raberuan

o áspero metal
da voz de raberuan
é suave às vezes
suavidade
de áspera ternura

akira - 13/11/2011.

sábado, 5 de novembro de 2011

Email


(p/ aldo cabral, cícero nunes e isaura gracia)

reconheci teu nome de cara
no email na caixa de entrada
levei um susto e perdi a fala
com tua presença inesperada

passado o choque da surpresa
constatei pela minha reação
nossa relação de amor e ódio
ainda abalava o meu coração

debaixo das cinzas apagadas
ainda ardia o fogo da paixão
que eu julgava ter superado
depois da última separação

onde fiquei chorando na chuva
xingado com os piores nomes
humilhado, chega, nunca mais
nem se eu fosse o único homem

e torturado por cruel indecisão
fiquei sofrendo por vários dias
entre as teclas enter e delete
não sabia se abria ou não abria

mas por fim pelo não pelo sim
pois no fim sobraria para mim
somente lágrima e sofrimento
resolvi à incerteza dar um fim

então para nunca mais chorar
para todo o sempre te eliminei
para nunca mais lembrar de ti
da caixa de entrada te deletei.

akira – 05/11/2011.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Cantoria para Tião Soares


Casa Amarela promove
CANTORIA PARA TIÃO SOARES
(porque Tião é importante e faz a diferença)

Data            15/11/2011
Horário        15h
Local           Casa Amarela
                   Rua Julião Pereira Machado, 07
                   (rua da Escola Hugo Takahashi)
                   São Miguel Pta – São Paulo
Entrada       01 kg de abraços não perecíveis
                   01 kg de sorrisos retornáveis
                   01 kg de amizade sustentável

Akira Yamasaki
Sueli Kimura
Escobar Franelas
Claudemir Santos
Raberuan
Cláudio Gomes

Casa Amarela, 02/11/2011.