domingo, 17 de abril de 2011

O que dizem os umbigos?


Dei uma escapada e fui com Sueli Kimura, ontem – 16/04 (sábado), ao Sarau “O que dizem os umbigos”,  que prestou uma homenagem singela, mas comovedora, ao 26º aniversário do Centro Cultural do Itaim Paulista. Para mim é motivo de forte emoção sempre que volto a esta casa porque na década de 80, eu e Sueli fomos responsáveis, juntamente com dezenas de artistas e produtores culturais da região, pela conquista e implantação deste espaço de convivencia, tão importante para o desenvolvimento cultural do bairro.
A memória é curta. As novas gerações siquer imaginam a dimensão da mobilização popular e da luta que foi travada de 1980 a 1985, por 02 movimentos culturais que existiam no Itaim Paulista na época, a saber, o EADEC – Espaço Aberto para o Desenvolvimento Cultural, e o CAM – Cultura e Arte em Movimento, para que no dia 21 de abril de 1985 ocorresse a inauguração do centro cultural.
Fiz questão por isso, de efetuar no sarau de ontem, uma falação aos jovens presentes, informando e enaltecendo o elo histórico e o importante papel desempenhado pelo CAM e pelo EADEC na conquista do Centro Cultural do Itaim Paulista.
Ontem, no 26º aniversário do Centro Cultural, comemorei emocionado essa data  falando o mesmo poema que falei no dia 21 de abril de 1985, no palco armado em frente à casa, que transcrevo abaixo:

cabelos do sol  

nessa noite
quantos são os homens
que não dormem
de fome?

e quantos são os homens
que não dormem de medo
dos homens que não dormem
de fome?

pesa demasiado
sobre os ombros dessa noite
preces e presságios
e os quartéis todos
continuam de prontidão
- guardam lágrimas represadas
de órfãos esquecidos
e viúvas enlouquecidas

mas quantos são os homens
que dormem nessa noite?

juntar os sonhos, companheiros
todos os sonhos que estão perdidos
proibidos nessa grande noite, açoite
o vento, transformar em pedras
a voz em balas

e com todas as mãos juntas
agarrar os cabelos do sol
e com todas as mãos juntas
arrancar os cabelos do sol
e com todas as mãos juntas
amarrar os cabelos do sol
na cintura do povo.

akira yamasaki – 17/04/2011.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Celso

sobressalta-me, celso, como se eu fosse seu irmão mais velho e
por isso mesmo seu responsável, cada tosse sua, cada resfriado,
febre ou enxaqueca;

morro de angústia, celso, a cada vez que seu nariz escorre, sua
respiração ofega ou sobe a sua pressão a cada relampago de dor
lancinante (irmã gêmea de outras dores, velhas conhecidas de
outros carnavais) que atravessa o mar do seu peito;

um dia perdi valdir aguiar praticamente em meus braços, fui
incapaz de mantê-lo comigo;

e hoje, celso, eu que não temo nem carrego deus comigo, acendo
velas e incensos, bato tres vezes em madeiras de lei e imploro
diariamente de joelhos, que voce enterre todos nós.

akira - 11/04/2011.

Medéia estréia na Casa Amarela


Fui na Casa Amarela para assistir o espetáculo do Alucinógeno Dramático – AD, o “Medéia, a vingança está servida”, da obra de Eurípides e Seneca, que estreou a programação de teatro da casa, no sábado – 09/04/2011. A peça fará temporada até 18/06, sempre aos sábados às 20h30, com exceção do dia 23/04, por conta do feriado.
Fui lá com um pé atrás, meio assustado com a pouca idade das atrizes Clara Barbosa e Anita Abrantes que fazem Medéia e sua ama respectivamente, e preparado para presenciar interpretações frias e distanciadas, e rítmos arrastados e inconclusivos para contar a história da vingança mais terrível e trágica de todos os tempos.
Fui com o nariz meio torcido mas quebrei a cara e queimei a língua. Se é verdade que o Medéia do AD ainda não é um bom espetáculo, é verdade também que fiquei encantado, comovido e entusiasmado, e gostei imensamente do que vi.
As interpretações são densas, trágicas, aguerridas e viscerais como convém a uma boa história de vingança, a direção é ágil, envolvente e supreendente, apoiada em deliciosos clichês culturais do nosso cotidiano como os dramalhões das novelas mexicanas e as inocentes canções de amor da jovem guarda, só para ficar em dois exemplos, a iluminação é na medida exata da criatividade apesar dos parcos recursos (imagino quando houver recursos), a trilha sonora é outro ponto alto e o espetáculo como um todo é ousado, atrevido, abusado e belo.
Recomendo mesmo, todos devem comparecer à Casa Amarela para ver o Medéia do AD. Aos que não vierem arquitetarei vinganças piores que as de Medéia.

Akira – 11/04/2011.
  

sábado, 9 de abril de 2011

Canção do mar


ouço o mar noturno
a canção do mar
quebrando a maré

ouço também
o vento nas folhagens
a canção do vento

agora ouço
o mar e o vento
cantando juntos.

akira – 09/04/2011.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Medéia na Casa Amarela

Pessoal

A Casa Amarela estréia em grande estilo a sua programação teatral no próximo sábado – 09/04/2011, às 20h30, com o espetáculo MEDÉIA: A VINGANÇA ESTÁ SERVIDA, do Alucinógeno Dramático – AD.
Garanto que é imperdível.

Akira – 06/04/2011.

MEDÉIA: A VINGANÇA ESTÁ SERVIDA
da obra de Euripedes e Sêneca

com    Clara Barbosa  
Marcos Antonyo
Claudemir Santos
Anita Abrantes

Direção         Claudemir Santos
Marcos Antonyo

Datas              Sábados às 20h30

temporada de 09/04 a 18/06,
(não haverá espetáculo dia 23/04 devido ao feriado!)

Local              Casa Amarela
                        Rua Julião Pereira Machado, 07
                        (rua do Colégio Hugo Takahashi, ao lado da SABESP)
                        São Miguel Paulista – São Paulo.



Meus poetas preferidos (18)

IVAN NÉRIS

A seguir, alguns poemas de Ivan Néris, maravilhoso
poeta condoreiro. Seus versos gigantes e viscerais
dissecam os sentimentos mais sublimes do ser
humano e também os mais degradantes.
Garanto, também, que vale a pena dar uma passada
no seu blógue http://portaisdapoesia.zip.net.

Akira – 06/04/2011.
 
Parede da cozinha

Minha loucura não principia no torpor do álcool,
Nem na revolta pueril das contendas familiares,
Nem na desilusão dos amores não correspondidos,
Principia na fúria libertária de rejeitar os signos condicionados,
Estuprando-me noite e dia na ânsia de assassinar,
A mediocridade, a hipocrisia e a covardia.

(texto outrora escrito a dedo e tinta,
na parede do meu antigo abrigo.)


Poema

Desde que o tempo tem lembrança,
Seguem os arautos da palavra,
Os seguidores de verdades,
Colocando no coliseu ou no Bigbrother,
Os outros homens para enxovalhar sua fraqueza e ignorância,
Esquecendo-se de antes de mais nada,
Olhar com escarnio para a frigidez de suas intenções e ações,
Prosperando a sentença de sermos sempre a espécie,
Dos macacos sobre os rabos,
Eu que da vida recebi a alcunha de grande covarde,
Nas infindas transições que me engolfam,
Para a minha vida sigo tendo sempre o olhar mais intolerante,
Costurando e recortando passo a passo minha presença no eu,
Perdendo-me e reencontrando pelas esquinas,
Jamais aceitando o que sei como sendo,
O que vejo como existindo,
O que espero como sonho,
Sempre a duras penas transformando essa marionete,
Em outra coisa que não se saiba acorrentada.


Soldados

Eu vi soldados armados com a própria fome,
Vagando sem nome na imensidão das ruas.
Eu vi poetas, eu vi cantores ah! Eu vi atores,
Vagando sem esperança na destemperança do tempo.
Eu vi um mundo repartido em pedaços,
Parido do caos entre estilhaços,
Mulheres com os filhos nos braços,
Implorando clemência onde a clemência não habita.
Eu sonhei um dia febril uma terra tão bonita,
E o real por fim discordante, ensurdentemente,
Me berrou aos ouvidos aquilo que sabe,
Assim entendi que a beleza é somente uma parte,
Daquilo que nas sombras chamamos de vida,
Pois sempre haverá muito a ser feito,
Pois sempre haverá tanto a ser dito,
Pois sempre haverá moedas e lados,
Opostos figurados do que somos nós,
Sementes e incertezas são o alimento do poema,
Fica claro que altitude do beijo,
Define a imensidão do verbo,
Entre fios e luzes opacas,
Esmeraldas e corpos dissecados,
Vagam nas planícies e pelos planaltos,
Humanos fabricados de asfalto,
Sem olhos para enxergar esta coisa,
Esta coisa que bate a porta na madrugada,
Esta coisa que salta da pia do banheiro,
Esta coisa que se rende a palavra dita no palco,
Pois eu sei que debaixo das pedras que reforçam as colunas do tudo,
Libélulas voam livres com as flores nos ventres.


Carolina

Carolina cercava os gatos preocupada com as bombas, esperava pelo sol do meio dia na edícula nos fundos do terreno, por sorte ou por acaso conseguiu ser mais veloz que os bombardeiros, das janelas fechadas ela vislumbrava as silhuetas dos aviões que riscavam o céu, ao fim da parafernália de guerra, Carolina discretamente deixou o esconderijo e rapidamente saiu portão a fora, com tristeza percebeu que não havia mais casas em sua rua, que não havia mais bairro em sua cidade, que não havia mais cidade em seu país, que não havia mais país em seu mundo e que seu mundo despencara no infinito esquecimento...
Nada mais lhe restara além de voltar para sua casa, à única casa que ainda restara neste universo de coisas desfeitas, ao cruzar o portãozinho baixo pintado de verde seu sentimento a impulsionou diretamente a edícula, a fim de saber como estavam seus gatos, ao adentrar o cômodo o risonho e gordo gato cinza logo lhe questionou: Porque esses olhos lacrimosos meu doce?
Ah meu querido bichano ingênuo, você ri pois nada sabe da vida e eu choro, por tudo o que existia e que já não existe mais...
Pobre criança! Você chora à-toa pois tudo o que existia só existiu por que você acreditou que estava lá! – e o gato desata a rir despachadamente de Carolina que olha para aquele riso e para seus gatos que riem junto com o gato cinza, olha como sempre fizera com seu olhar de quem nada entendeu sobre vida.

(os textos foram surrupiados do blógue de ivan).

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Começou o Sarau da Casa Amarela

Instalações precárias, palco improvisado na garagem apertada da casa, equipamentos emprestados por uns e outros, e atraso porque a galera só começa a chegar mesmo depois das 21h.
Lá pelas tantas o Claudemir Santos pediu licença e silencio a todos, disse boa noite meu povo, explicou rapidamente o que era o Sarau Casa Amarela, declamou um poema, o primeiro do sarau e quando encerrou sob aplausos gerais e irrestritos, declarou o microfone aberto.
Rodrigo Marrom e Luizinho Gago Grego pegaram a deixa e mandaram ver nuns xotes e emboladas de Jackson do Pandeiro que que sacudiu os presentes. Microfone aberto, o genial rabequeiro Eder Fersant, de passagem por São Miguel para entregar umas encomendas de rabecas, voltava para Irecê no dia seguinte, comoveu com o som maravilhoso do seu instrumento e de quebra contou um causo engraçadíssimo.
A cada vez que o microfone ficava aberto, alguém o assumia. Tiago Araújo, Gilberto Alves e Ivan Néris declamaram super à vontade. Adilson Aragão cantou e contou causos deliciosos. Sacha Arcanjo e Ceciro Cordeiro também disseram presente com suas canções maravilhosas.
Quando as intervenções terminaram fiz, como estava programado, uma apresentação especial de poemas meus com a ajuda inestimável do amigo Raberuan, e depois abri para as considerações dos presentes, conforme proposta deste sarau que acontecerá na última sexta-feira de cada mês e focalizará e debaterá em cada edição o trabalho de um poeta, escritor, contista, dramaturgo ou compositor previamente definido.
E assim começamos na sexta que passou – 01/04/2011, o Sarau da Casa Amarela, na Casa Amarela/AD/IPEDESH, com participação de jovens artistas misturados aos velhos dinossauros do movimento cultural da região.
Pela amostra já pudemos perceber que neste sarau  prevalecerão as conversas e os debates porque já passava da meia noite, as discussões continuavam acaloradas e ninguém queria arredar pé da casa. Poesia escrita, poesia falada e musicada, popularização da poesia, forma, conteúdo, contextos, conceitos e políticas culturais, as intervenções pareciam jorros de reflexões há muito represadas, o que evidencia a carencia de eventos que façam essa discussão.
Pela amostra o Sarau da Casa Amarela promete. O próximo convidado especial é o poeta, escritor, compositor e baixista Tiago Araújo.

Akira Yamasaki – 02/04/2011.