quarta-feira, 19 de março de 2014

22º sarau da casa amarela, por escobar franelas



Domingo, 16 de março de 2014, por volta das 9 e meia da noite. Enquanto dirijo numa Jacu-Pêssego semivazia, ouvindo Chet Baker na Eldorado FM (107,3), fico assuntando coisas, todo feliz da vida. “Carácolis, o que foi aquilo?”

“Aquilo”, no caso, foi o Sarau da Casa Amarela, do qual acabara de sair. Intenso, improvisado, delicado, caloroso, inflamado, fraternal, retumbante, vários adjetivos poderiam descrever a sensação do ver, ouvir, falar, tocar, cantar, declamar, apresentar-se no palco miúdo da Casa.Nesse caso, contudo, nenhum adjetivo pode ser aplicado impunemente no singular. E nem isolado. Só vale se estiver inserido num contexto maior, que acentue a experiência lúdica, desbravadora, libertadora, lúbrica, da musa Poesia como amante preferencial na tarde&noite de um domingo muito especial.

O sarau teve como convidado desse mês o cantor e compositor Zulu de Arrebatá. O soulman de São Miguel, porém, não estava sozinho para essa empreitada. Akira Yamasaki, o poeta organizador do evento, convidou três petardos literários para ombrear com Zulu a tarefa de ofertar arte de qualidade para o público. Foi assim que fomos apresentados aos escritores Márcia Barbieri, Daniel Lopes e Fernando Rocha, que trouxeram para o evento seus livros mais recentes, “Mosaico de Rancores” (romance), “Fruta” (romance) e “Sujeito sem Verbo” (contos), respectivamente. Depois da abertura cheia de suingue e malemolência, a Casa foi agraciada com as apresentações dos três escritores de S. Miguel. Ficamos todos embriagados logo de cara.

Então o microfone foi franqueado aos poetas e cantadores presentes. Tomei a liberdade de iniciar os trabalhos com uma nota de pesar trazida pelo escritor Paulinho dhi Andrade, que nos informara há pouco da passagem para o outro plano do poeta santista Fernando Troncoso, tornado estrela na madrugada deste domingo.

Feitas as reverências, a Amarela começou a receber as cerejas do bolo. Abri a sessão lendo um poema recente, incompleto e sem título, para então liberar o pequeno palco para o desfile de pérolas do naipe de Santiago Dias, Eder Lima, Arnaldo Rosário, Tâmara (do sarau "O Que Dizem os Umbigos?"), nos visitando pela primeria vez, Paulinho dhi Andrade, Seh M. Pereira, Jocélio Amaro, Malungo, Ligia Regina com Eder Lima e Akira, Arnaldo Afonso (do Sarau da Maria), Tiago Bode e Célia Demézio (Santos), Inácio Fitas (do sarau do Bar do Frango), Silvio Luiz (cantando música de Akira e Assis Freitas), Guilherme Maurelli com Tiago “Bode” Araújo, o garoto Melvin (filho do Punky Além da Lenda) mandando um rap do Gabriel o Pensador; Santiago Dias (bisando), Ivanildo Lima e o grupo Os Kabras de Baquirivú (Xavier no baixo, Ronaldo Ferro no violão, Francisco Américo “Quinho” no carrón) acompanhando José Carlos Guerreiro e depois Pérola Negra.

Em algum momento, não lembro bem exatamente quando, o Akira chamou ao palco para dois dedos de prosa o Tião Soares, lendário militante das questões culturais e sociais, principalmente na zona leste da Sampalândia. Há um prazer quase degustativo em ouvir o Tião falando, que enche-nos de um fervor pela vida e suas belezas, quando discursa. O sarau também presta-se a isso, enxergar arte até num simples recado dado.

Por penúltimo veio Sacha Arcanjo, ladeado por Quinho e Tiago “Bode”, que emocionaram e contagiaram a platéia, que respondeu cantando junto os sucesso do velho baiano. Zulu voltou para o palco para um belo dueto com Sacha, fechando ambos a noite com zíper de ouro.

Quase cinco horas de sarau. E ninguém aparentava cansaço ou fadiga.

Tanto que uma hora depois a Casa Amarela ainda permanecia aberta, e os restantes ainda beliscavam as últimas iguarias da Celinha Yamasaki (destaque para a pasta de berinjela, entre outras petiscarias deslumbrantes), viravam a garrafa térmica no avesso para tirar as últimas gotas de café e compravam as últimas latinhas de cerveja que ainda restavam na geladeira.

Talvez seja por isso que, logo depois, anestesiado pelo jazz que invadia a solidão gostosa no carro, fui transportado para casa, como se estivesse no tapete mágico de Aladim. Pra variar, até a lua cheia me seguia, uivava pra mim.

Tim-tim!

(Escobar Franelas)
 
(fotos de sueli kimura, celia yamasaki da silva e carlos bacelar)
 
 






















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