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uma comovente resenha de joão caetano sobre o blablablá do mpa
Nós, o MPA e os velhos corações juvenis.
A Casa Amarela
promoveu um encontro histórico no sábado, dia
23 de novembro, quando
debateu a experiência do Movimento
Popular de Arte, tendo como
expositores Edvaldo Santana,
Edson Tomas de Lima Filho
e Gilberto Nascimento. Foram cerca
de quatro horas de reminiscências,
mas, sobretudo de avaliação
desse movimento que foi um turbilhão na vida
dos que dele
participamos, e cuja influência ainda é sentida hoje,
trinta e cinco
anos depois de seu surgimento e há vinte anos de seu
término.
Edvaldo e Edson resgataram a origem do MPA, a partir de uma
pesquisa feita por dois antropólogos, que resultou numa exposição
artística na capela de São Miguel, embrião do movimento que
reuniu
cantores, músicos, poetas, artistas plásticos, atores, enfim,
um mundo
de gente que buscava um espaço para divulgar suas
criações, num tempo de
cerceamento da liberdade imposto pela
ditadura militar. O MPA já nasceu
como um movimento de
resistência à indústria cultural e, desde seu
início, vinculado aos
muitos movimentos sociais que explodiam na região.
Santa Loucura
Nós vivemos a santa loucura daqueles tempos de mudanças no
cenário
político, em que as diferentes concepções dentro dos
movimentos e da
luta social começaram a vir à tona. O novo
cenário afetou também o MPA,
aflorou suas divergências internas,
mas ele se manteve por um bom tempo,
até que se esgotou e
terminou.
O debate trouxe à tona um pouco do
que havia de ingênuo em
nossas posturas de jovens a investir com fúria
contra moinhos de
ventos ou contra forças muito mais reais. Nestes
tempos de tanto
pragmatismo político, a lembrança do purismo de nossas
atitudes
naquela época foi uma janela aberta para que entrasse um pouco
de ar puro.
Ao final, ficou a certeza de que essa experiência não
pode se
perder. Uma das propostas surgidas foi a de resgatar o que há de
registros das atividades, fotos, filmes, documentos, etc., tendo
claro
que a maioria desses materiais perdeu-se no tempo. Talvez a
criação de
um centro unificado de documentação. Quem sabe até,
ouso propor, o
registro dessas experiências na forma mais perene
de um livro.
No
debate surgiu uma indagação: até que ponto essa nossa
experiência tem
validade para as novas gerações? Cada geração
vive o seu momento, comete
os próprios erros e acertos. Foi
assim com a nossa geração – e de uma
forma mais radical- pois
vivíamos em plena ditadura. No entanto, muitos
de nós, em dado
momento sentiu a necessidade de olhar para trás, para
não repetir
os velhos erros ou mesmo para renegar com mais convicção
tudo o
que foi feito antes.
Muitos das novas gerações, em dado
momento, irão se interessar
por essa trilha. É nossa obrigação deixarmos
o mapa do caminho,
para não sermos omissos.
O interesse no debate
pauta a Casa Amarela a promover novos
encontros, procurando trazer à
tona as diferentes opiniões que
permearam o MPA e que não eram meras
divergências partidárias,
pensar assim seria rebaixar o debate. São, na
verdade, diferentes
visões estratégicas do Brasil - como ficou claro no
debate- e que,
portanto, levavam a táticas diferenciadas.
Hoje
todos têm, eu creio, condições de encarar sem traumas esse
debate que é
importante para situar o MPA em seu momento
histórico e trazer um pouco
da luz do movimento, que era imensa
naqueles tempos sombrios, para hoje.
João Caetano do Nascimento - 24/11/2013.
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