segunda-feira, 16 de maio de 2011

Buraco d'Oráculo na Cidade Nova São Miguel


"buraco d’oráculo

se o coração ainda
indaga e se indigna
a cabeça não empoça
não mofa nem estagna
se o olho ao alvo mira
e clara reluz a sina
cumpre-se à mão cega
destino que se designa

akira - 30/12/2009."

15/05/2011 – domingo. Terceira apresentação de uma série de seis, do Projeto Re-Praça, do Buraco d’Oráculo na Cidade Nova São Miguel. A primeira tinha acontecido na sexta – 13/05/2011 e a segunda, no sábado – 14/03/2011, e quer dizer, tudo começou sob os auspícios da sexta 13.
14h30 mais ou menos. Rua Ida Vanucci Puntel na Cidade Nova São Miguel, uma rua como outra qualquer na zona leste da capital. O sol se esconde atrás de nuvens escuras e ameaçadoras e por via das dúvidas coloco uma boina azul que ganhei de presente de um índio véio no sertão de Irecê – Ba, terra de Sacha Arcanjo, para atrasar a chuva iminente.
14h30, o Buraco começa a se preparar para apresentar o “ A farsa do Bom Enganador”, espetáculo do seu repertório de magias que faz parte da caixinha de surpresas com que encanta as periferias de Sampa e as praças do Brasil há muito tempo, desconfio que há mais de dez anos, ou há mais dez mil anos atrás, segundo o velho Raul Seixas.
A criançada não se faz de rogada, afinal já é o terceiro dia de encantos e fantasias observando os integrantes do “Buraco” retirar coelhos das cartolas diante dos seus olhos arregalados. Já é o terceiro dia e elas estão íntimas da trupe e fazem parte do roteiro, ajudam a montar o cenário, carregam as tranqueiras do “Buraco” pra lá e pra cá, batucam nos seus instrumentos de percussão e fazem a maior festa quando eles começam a se maquiar, os olhos arregalados nos enchimentos dos enormes peitões e bunda descomunal  da principal personagem feminina da trama.
Quando Johny, um dos atores da trupe, senta-se no meio da platéia para caracterizar o seu personagem com bases, batons, sombras, lápis e figurinos exagerados, mil olhos incrédulos de crianças se aproximam e inventam futuros e perplexidades. Espantos e fantasias.
16h. É final de Campeonato Paulista, Corinthians e Santos na decisão e rojões comendo solto de minuto a minuto, não se fala em outra coisa em São Paulo. 16h e Sílvio Santos distribui dinheiro a torto e a direito no seu baú de felicidades. 16h e quase podemos tocar com as mãos as nuvens carregadas de chuva, de tão perto que elas estão.
16h e começa o “A Farsa do Bom Enganador” com casa, digo, rua cheia. Tem Santos x Corinthians e Sílvio Santos na televisão, além da ameaça de chuva no céu, mas o povo começa a chegar das casas simples do entorno, crianças aos bandos, homens e mulheres rindo feito crianças das peripécias teatrais do Buraco d’Oráculo.
Ninguém arredou pé nem quando choveu.
Cidade Nova nunca mais será a mesma.

Akira – 16/05/2011.



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