Gás da Nitro: Políticas e Pertencimentos
Diferente de Félix era Dona Judite, que me recebeu de braços abertos e risadas sinceras - os ratos vão fazer ninho na sua barba, Akira, a sua mãe não reclama desse cabelo, não? Judite Santana que sonhou e só sonhou com o coração apertado pelos filhos, e depois, quando virou minha madrinha de casamento incluiu-me em suas preces protetoras.
Félix Santana tinha o passo acelerado quando andava, hábito adquirido desde criança, ao percorrer diariamente, longas distâncias no nordeste, e talvez tenha desenvolvido aí, a capacidade de falações mais fluentes enquanto caminhava no rítmo correto da necessidade. Foi durante um estirão pela Nordestina, Félix andando e eu tentando acompanhá-lo sob um sol insano de fevereiro, indo do cemitério velho até a Vila Sinhá, que Felix puxou as minhas orelhas e falou da Nitro-Química para mim, - a Nitra -, como ele a chamava. Defendeu a posição de relevancia da Nitro-Química no contexto da paisagem física e geográfica de São Miguel Paulista e ensinou-me que os rolos de fumaça de tantas cores diferentes expelidos pelas chaminés da fábrica eram a principal referencia histórica, econômica, esportiva, social, recreativa e cultural do bairro. Félix pertencia à Nitra e a Nitra à Felix, nunca mais esqueci.
gás da nitro (1)
quem vê de longe
logo reconhece
gás da nitro
dançando no céu
gás da nitro
meu amor
cartão postal
de são miguel.
gás da nitro (2)
madrugada de chumbo
pipocam metralhas no silêncio
do alto da pedroso
edson gordo, o cara
mais importante do bairro
observa as luzes
nas vilas lá embaixo
imagina cada trabalhador
que dorme na curuçá e no robrú
na nitro-operária
no primeiro de outubro
jardim helena é só uma mancha
vagam lumes na escuridão
gás da nitro peidando firme
abocanhando casas e estrelas
miséria, pôrra
a classe operária, pôrra
no alto da pedroso
edsinho, o gordo
duas lágrimas furtivas
inundam são miguel.
Bacana mesmo, sinto a minha melhor lembrança era do clube da nitro, é um espaço massa que merecia ser resgatado
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