sábado, 12 de dezembro de 2009

Assim como essas crianças

Escrevi "Assim como essas crianças" por volta de 1980 quando de uma visita à Experiencia de Alfabetização Pelo Método Paulo Freire desenvolvida por Muniz, Xico Edu, Marleide, Severino do Ramo, Cláudio Gomes e Sueli Kimura na Favela do Sítio da Casa Pintada em São Miguel Paulista.
Eles eram muito jovens na época, ainda cheiravam a fraldas e cueiros e participavam de movimentos culturais/artísticos e de pastorais da igreja na região.
Inquietos e insatisfeitos com suas atuações resolveram um dia montar um grupo de estudos onde leram e discutiram o "Pedagogia do Oprimido" e não tiveram dúvidas - embrenharam-se no Sítio da Casa Pintada para colocar em prática os ensinamentos do grande mestre Paulo Freire.
Mas contar essa experiencia é tarefa para um historiador.
Para mim ficaram esses versos que mereceram recentemente do meu amigo e parceiro Cléston Teixeira uma música propícia que enfatizou a dor lancinante e a tragédia impregnada nas palavras cruas.

Akira Yamasaki
11/12/2009.



assim como essas crianças

(uma homenagem para joão batista muniz, francisco eduardo, marleide, severino do ramo, cláudio gomes e sueli kimura)

de fato o meu verso cheira mal
de fato, mas isso é natural
assim como essa criança está nua
no meio dessa rua
assim como essa criança
que faz da noite o seu quarto
do vento o seu pijama de flanela
e das mãos vazias a sua tigela

assim como essa criança
traz no rosto profundas crateras
provável herança das varicelas
e nas costas de magras costelas
esconde as marcas das fivelas
que são na partilha das misérias
a sua mais justa parcela

desculpe se meu verso cheira mal
desculpe, mas isso é natural
assim como essa criança está nua
no meio dessa rua
assim como essa criança
que faz da noite o seu quarto
do vento o seu pijama de flanela
e das mãos vazias a sua tigela

assim como essa criança
traz na cabeça além dos piolhos
o beijo na boca das telenovelas
e entre dentes, o cio das cadelas
assim como essa criança
que carrega o brilho das estrelas
nos seus olhos cheios de remelas.











Um comentário:

  1. Éramos jovens, ousados e corajosos. Queríamos fazer a revolução.. baita aprendizado.. bons tempos

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