segunda-feira, 21 de abril de 2014
sujeito sem verbo, de fernando rocha
“sujeito sem verbo”, livro de narrativas curtas de
fernando rocha é uma seção de tortura chinesa,
tipo daquelas que você fica imobilizado de pé e
de uma torneira no teto fica caindo de minuto a
minuto uma inofensiva gota de silencio no alto da
cabeça. são cinqüenta narrativas rápidas, do tipo
pílulas onde fernando disseca em pequenas cenas
e situações aparentemente inocentes e banais do
cotidiano, a anatomia do silencio que se acumula
em camadas invisíveis sobre o dia a dia das
pessoas e vai calando suas vozes até restar
somente o silencio, imposto ou voluntário. “sujeito
sem verbo”, que saiu pela editora confraria do
vento e foi lançado no sarau da casa amarela em
março é um grande e inquietante livro que fala de
silêncios singelos que habitam as nossas bocas
indiferentes. parece inofensivo mas é para quem
tem estômago forte.
akira – 21/04/2014.
domingo, 20 de abril de 2014
aconteceu no sarau da casa amarela de abril
ururaí
autoria: deí frutal
interpretação: grupo musical vocal ururaí
ademar silva neto, cida camargo, celina sales
ojana gouveia, janete braga od larana,
érika porto e mauro josé paes
vídeo: carlos alberto rodrigues
dedo mole 9
era a última cacheta da tarde da sexta-feira santa
no bar do osvaldinho e já que era a saidera mesmo
subiram a mão para cem reais por cabeça, que deu
mil e cem a casada.
era também a última chance para quem estava no
prejú virar a sorte e salvar algum para quem sabe
desatolar o dedo do cú.
era justamente quando o silencio era maior e mais
inquieto e os sapos pescoçavam nervosos pra lá e
pra cá que três pivetes armados chegaram do nada
da tarde triste da sexta-feira santa e promoveram
a maior limpa no buteco.
era então que levaram celulares e carteiras, a
grana da casada todinha e até a correntinha de
ouro com nossa senhora aparecida do osvaldinho.
era nem quinze minutos depois quando o cagaço
ainda nem tinha passado e o caixa d’água dizia
apavorado que não perdoaram nem mesmo a nossa
senhora do osvaldinho que agora ia virar pedra de
crack nas mãos dos nóia, que uma van escolar com
os vidros fumê fechados estacionou na frente do
cachetão do osvaldinho e dedo mole desceu com os
moleques da indaga recente e com uma sacola do
tipo de feira nas mãos cujo conteúdo ele derramou
em cima da mesa de sinuca – todo o produto da
limpa feita.
era assim portanto que dedo mole falou assim: foi
mal rapaziada, tô devolvendo o que os aprendizes
aqui levaram de vocês, confiram ou confiem mas
não precisa passar recibo, minha palavra é uma
e é de responsa, já cansei de falar pra eles que
não é pra atrair atenção pra minha funilaria.
era por fim que dedo mole devolveu a santinha do
osvaldo, pediu uma maria mole que bebeu de um
gole só e ainda falou assim quando estava saindo:
japa, meu bom, já deixei sua carteira e seu celular
na sua casa com a sua senhora, se faltar alguma
coisa passa lá no martelinho de ouro.
era assim mesmo que então as minhas tripas se
contorceram de aflição na boca da noite muda e
sem salvação da sexta-feira santa: caráio, dedo
mole sabe onde moro.
akira – 18/04/2014.
o coelho
na minha primeira festa junina
uma das barracas era a do coelhinho
e eu era um dos seus encarregados
na tarde anterior uma professora
trouxe as casinhas e o cercadinho
para montamos e fazer um teste
particularmente tive a impressão
que o coelho era meio preguiçoso
e estava meio gordinho demais
depois prendemos o animal
numa caixa de madeira com furos
para que não fugisse a noite
na manhã seguinte a primeira coisa
que fiz foi abrir a gaiola e – surpresa
tinha nove coelhinhos lá dentro
tipo nove ratinhos cor de rosa
todos do tamaninho de um feijão
nus e tremendo de olhos fechados
então chorei tanto na manhã fria
com os dentes afiados do silencio
comendo minhas lágrimas quentes
akira – 18/04/2014.
sarau da casa amarela de abril com ururaí
passou pela casa amarela
domingo passado
uma espécie de vento doce
de encantamentos sublimes
passou pela casa amarela
um vento ururaí
(fotos de sueli kimura, escobar franelas e clarice yamasaki)
domingo passado
uma espécie de vento doce
de encantamentos sublimes
passou pela casa amarela
um vento ururaí
(fotos de sueli kimura, escobar franelas e clarice yamasaki)
dedo mole 8
no justo prazo
de uma são francisco
uma serra malt
e um espetinho de carne
eu o vi descer apressado
a nicanor nogueira
ao lado da rainha do oliveiras
de chinelos havaianas
bermuda tipo aparecendo a cueca
e camisa do neimar
depois o vi retornar
de terno e gravata
uma bíblia nas mãos
e de braços dados com uma senhora
que julguei ser sua mãe
era boca da noite
era dedo mole
akira – 16/04/2014.
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