quinta-feira, 6 de março de 2014

o sonho de cada um


uma canção improvável pois que fruto de uma
parceria mais que improvável - assis freitas e
akira yamasaki, mas a arte usa e abusa do 

direito de promover encontros improváveis. o 
meu bróder, compadre e parceiro silvio luis fez
o arranjo e interpreta esta canção e todos nós 
vamos ficar milionários com ela, hehehe. aí vai 
uma primeira impressão.

o sonho de cada um
  

música: assis freitas
letra: akira yamasaki
voz: silvio luiz

oh baby, então
o espelho não espera
o sonho me espora
a vida é tão curta
o caminho é longo
as pedras são muitas

oh baby, então
a palavra é flecha
a sentença desfecha
a mentira é curva
o arco-íris se alonga
e a verdade turva

oh baby, então
o sonho de cada um
é o sonho de cada um
não deve ser escasso
mas não pode exceder
o alcance do seu passo

akira – 14/01/2012.

nóia (5)


não roda mais no gira-gira
não brinca mais na gangorra
nem sobe na casinha do tarzã
só restou o silêncio agora

não trepa mais nas árvores
não canta mais com pássaros
não aposta corrida com o vento
só restou o silêncio agora

não teme mais a morte
não teme mais a vida
não teme mais o pesadelo
só restou o silêncio agora

agora não existe mais a dor
agora não existe mais espaço
agora não existe mais tempo
só restou o silêncio agora

akira – 26/02/2014.

estômago fraco


não sou de esquerda
nem sou de direita
sou um bosta n’água

não aprendi a nadar
e não costumo cuspir
no prato onde comi

desculpe, meu amigo
não é nada pessoal
tudo é uma questão
de estômago fraco

desculpe, meu amigo
mas nos dias de hoje
nem pra inocente útil
eu tenho serventia

akira – 25/02/2014.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

resenha de alexandre kishimoto sobre o blablablá de 22/04/2014.


Sábado tive a alegria de conhecer o coletivo da A Casa Amarela - Espaço Cultural, que reúne escritores, músicos, educadores, cineastas e pensadores da região de São Miguel Paulista. Encontrei gente de várias idades, conheci pessoas incríveis e pude reencontrar professores da rede pública da ZL - Inês Santos, Josafá Pereira da Silva, Célia Carvalho e Zulu de Arrebatá - que nos anos 2000 participaram comigo de uma experiência de apropriação do audiovisual nas escolas (foi neste contexto que conheci o grande cineclubista João Brito).

Conversamos sobre muitos assuntos, como a formação de público para a produção audiovisual independente, o papel dos educadores e alunos neste processo, a exibição de filmes como ato coletivo, ritual e reflexivo, a pesquisa sobre as salas de cinema japonesas do bairro da Liberdade, e o desafio de mobilizar os talentos da região (músicos, escritores, atores, fotógrafos, realizadores de audiovisual) para se contar, por meio de imagens e sons, as histórias locais.

Desde 2000 venho percebendo uma revolução cultural em curso, produzida por coletivos nas periferias urbanas de São Paulo. Saraus literários, grupos de teatro, apresentações musicais, hip hop, publicação e lançamento de livros de autores de várias regiões da cidade, produção e exibição de vídeos locais, reflexões, debates e construções colaborativas. Essa revitalização cultural é obra de coletivos como este da Casa Amarela que funcionam de forma comunitária, não de grandes instituições (empresas, ongs, governo) ou de políticas públicas (a função da política pública é apoiar coletivos como este).

Saúdo o pessoal da Casa Amarela pela oportunidade deste diálogo: Akira Yamasaki, Célia Yamasaki Silva, Sueli Kimura, Escobar Franelas, e o pessoal muito bacana que participou do Blábláblá. Muito obrigado!

kishimoto na casa amarela


sábado na casa amarela
alexandre kishimoto ganhou
agrados e afetos das belas

 

resenha de escobar franelas sobre o blablablá de 22/04/2014.

1º Blablablá do ano: como foi?

Posso iniciar esse rascunho falando uma besteira enorme (minha especialidade, aliás), mas uma das coisas que tenho mais curtido nos últimos tempos é “antes e depois” dos eventos na Casa Amarela. Além dos próprios eventos, é claro!
Ontem (22 de fevereiro), por exemplo, para a primeira edição do Blablablá em 2014, convidamos o antropólogo e pesquisador Alexandre Kishimoto, autor do livro “Cinema Japonês na Liberdade” (Ed. Estação Liberdade), o cineasta João Brito e a professora e também cineasta Inês Santos para um bate-papo com o público
Antes, porém, a conversa informal rolou solta. Angel e Fábio, representando a Estação Liberdade, montando um pequeno estande dentro do espaço, com muitas obras do cast da editora, foram os primeiros a chegar. O insuperável café da Celinha Yamasaki operava suas maravilhas no olfato da audiência, havia uma grande dispersão no ar, grupos animados confabulavam e rolava uma intensas troca de ideias, números de celulares, cartões de visita e abraços. Aos poucos a Casa foi enchendo, ganhando gente...
Dada a hora a mais nas conversas, eis que iniciamos o evento, com o violão primoroso de Éder Lima acompanhando a voz maviosa de Lígia Regina, sua musa e intérprete refinada. Estava dada a largada.
Convidados a se apresentarem, Inês, João e Alexandre não se fizeram de rogados. Compartilharam suas experiências, lançaram propostas, criticaram, sugeriram. Somaram, multiplicaram.
Já na apresentação, João Brito (de filmes como "Botinas no Elevador" e "Futricando na Vila Mara", "independentes", entre outros), soltou essa: “cursei Eletrônica. E usei a Eletrônica para entrar no mundo do cinema”. E confessou mais, “tinha uma loja onde arrumava projetores”. No seu turno, Inês sentenciou que “a minha experiência com o cinema marcou a minha relação com a arte”. sobrava ironia em um, poesia em outra.
Logo os convidados começaram a ser inquiridos por uma platéia vibrante e curiosa, num diálogo prazeroso, onde a troca de experiências e profusão de idéias foi o tônus vital. No meio do burburinho de perguntas e respostas, em dado momento Alexandre Kishimoto foi questionado sobre como nasceu seu interesse pelo cinema japonês enquanto investigação antropológica e sociológica. E ele, com argúcia fundamentada e calma zen, mandou essa: “o cinema japonês era uma ritualização. Ir ao cinema na Liberdade era um evento social e cultural”.
Esse foi, segundo o pesquisador, um dos motes para sua pesquisa. Outros, ainda segundo Alexandre, têm a ver com suas origens nipônica, a paixão pelo cinema e a procura pelo entendimento dessa força avassaladora, que era o cinema de rua até algumas décadas atrás. Em seu livro “Cinema Japonês na Liberdade”, ele afirma que na década de 1950, o bairro da Liberdade, em São Paulo, chegou a ter quatro salas de cinemas dedicadas exclusivamente ao cinema japonês. Fato que ele confirmou durante sua palestra no Blablablá.
Com poucas divergências em seus apontamentos, os três convidados ainda assim reafirmaram suas personalíssimas observações. Como a dedução arguta de Inês,quando falava de seus conhecimentos do universo infantil. “A arte, na educação, não tem reconhecimento. Nem valor de conhecimento”, lamentou ela. E o inflamado João Brito, ainda falando de suas iniciações, lembrou que quando estudava Rádio e TV, no SENAI, paradoxalmente, não tinha tv em casa.
E já que estamos voltando às memórias iniciais do encontro, vale lembrar que depois do questionamento de Carlos Bacelar, músico, que logo na primeira rodada de participação do público, perguntou a Kishimoto sobre o porquê de seus estudos étnicos brasileiros, este afirmou: “porque as comunidades negras e suas manifestações podem ter várias citações em São Paulo e Rio de Janeiro, mas localmente, fora dos grandes centros, elas sofrem muito, principalmente a intolerância religiosa”.
O balanço final do Blablablá indica que o caminho que a Casa Amarela está fazendo, oferece alguma luz, indica possíveis saídas e propõe portas de entrada. Se pudermos usar este primeiro encontro como exemplo, é plausível que acreditemos que outros significarão ainda mais possibilidades, no cardápio que estamos propondo para a cultura e a sociedade de São Miguel, de São Paulo, do Brasil e do mundo. Pois inteligências como as de Inês Santos, Alexandre Kishimoto, João Brito e do inquieto e vário público não podem ser desperdiçadas. Elas somam. E multiplicam.
Ah, sim, depois do apito final, ficamos mais de uma hora entre cervejas, café, petiscaria e papo a granel. E o rico sortimento literário que a editora Estação Liberdade trouxe para a casa. Eu mesmo voltei pra casa com 6 livros novos.

ESCOBAR FRANELAS

obrigado, inês santos e joão brito, arigatô, kishimoto-san


considero que foi histórico o 1º blábláblá de 2014,
roda de conversas que aconteceu no dia 22/02,
sábado passado, com participação de inês santos,
joão brito e alexandre kishimoto que debateram,
mediados de forma tranquila por escobar franelas,
dentre outras coisas, além de cinema, controle
econômico e ideológico da produção e distribuição,
a produção audiovisual independente. considero
que foi o mais produtivo dos blábláblás realizados
até hoje porque além da riqueza das informações,
conceitos e idéias produzidos pelos debatedores e
público presente no calor das conversas apontou
um caminho claro e turvo a ser seguido: o domínio
das técnicas e ferramentas para criação e produção
audiovisual como instrumentação para nós mesmos
escrevermos e contarmos a nossa história.

akira – 24/02/2014.