Prezado Akira:
Tempos de chuva.
Fazia eu um poema sobre a chuva. No meio de um verso
alagado, parei para tentar respirar. Corri a internet. Li notícias e entrei no
blogue do Akira e li o Chuva de Outono. Sem querer e sem premeditar, estava
quase fazendo uma resposta ao seu verso. Você falava de choro e chuva. Eu
falava de chuva, tempos úmidos e a secura do não choro.
Que estranho, mas também que legal!
Por tratarmos do mesmo tema e sem premeditação, tomo a
liberdade de mandar para você esses meus versos meio mofados pela chuva e pelas
ideias talvez carentes de raios de sol deste velho :
João Caetano.
João Caetano.
Só a chuva caiu
Foi a chuva que caiu
Não fui eu quem chorou
A chuva só choveu
Mas a vida inundou.
A chuva não lavou
Minhas agudas dores
E nem regou as plantas
E as esquecidas flores.
A chuva, por capricho,
Levou só as lembranças
Os barcos de papel,
Meus sonhos de criança
Como se fossem lixos.
A força dessas águas
Em fúria alagadiça
Arrastou rotas mágoas
Revolveu injustiças
Para deixar as feridas
Boiando na enxurrada.
Marcas assim expostas
Dramas que viram nada
Perguntas sem respostas
A flutuar na calçada.
E tão fina goteira
A umedecer o peito
Nessa tarde aguadeira
Me faz ser liquefeito.
Foi a chuva que caiu
Não fui eu quem chorou
Nesta face de pedra
Nenhuma gota medra
Lágrima alguma queda
Ou sequer se insinua
Alívio à dor crua.
Só a chuva que caiu
Não fui eu quem chorou.
João Caetano.
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