segunda-feira, 5 de março de 2012

Um poema de João Caetano, do tempo do MPA

O poeta Zé Vicente de Lima, que hoje em dia mora no Paraná
disponibilizou no Facebook um poema de João Caetano, dos
tempos do MPA. Faço questão de republicar aqui esse poema
que é um tsunami de de ternura e lirismo para cantar a sede  de
liberdade e justiça.

Akira - 05/03/2012.


Vou partir,
Mas não estou triste,
Pois o que me move são certezas
Que desconhecem fronteiras e correntes.
Ao longe, há um cheirinho bom de liberdade,
E os meus olhos famintos
Pressentem o brilho da estrela mais incandescente,
Anunciando terra nova, tempo novo
De água pura jorrando da fonte
Para lavar a alma torturada por tantos sofrimentos
Aquela canção mais bela
Que secou dentro da minha garganta
Vai raiar, colorida amanhã
De girassóis nas janelas abertas.
Minha voz não será mais esse gorjeio deserto
De ave de arribação
Livre cantarei em festa
A justiça filha dos calos de muitas mãos.
E livre cantarei também
Um corpo de mulher
Com olhos de orvalho e relva
Na pureza de uma nudez sedenta de amor.
Hoje, vou partir
Não como um fugitivo,
Mas como quem vai para encontrar
No fim desta estrada
Uma primavera nascendo
Num tempo feito para o amor

João Caetano.

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