quarta-feira, 11 de março de 2015
31º sarau da casa amarela
comadres e compadres, atenção: vamos fazer do
sarau de amanhã uma comemoração de alegria
pela reinauguração da casa amarela com uma festa
do tipo comunitária. traga sua poesia, sua canção e
sua alegria, mas traga também uma comidinha ou
bebidinha.
resenha de escobar franelas para "oliveiras blues"
- oliveiras blues -, livro com conceito artesanal que saiu em
2014 pelo projeto exemplos da scenarium plural, que é mais
uma interferência inovadora e maravilhosa na cena editorial
atual da escritora lunna guedes, ganhou de presente do meu
bróder escobar franelas uma resenha emocionante diante da
qual tudo que eu disser será pouco e insignificante, razão
pela qual vou amparar-me no velho, simples e surrado, mas
mui eficiente muito obrigado para agradecer o parceiro com
quem compartilho tantos destinos e caminhadas culturais.
gracias, meu compadre.
Oliveiras Blues - A alquimia poética de Akira Yamasaki
“oh pássaro breve
leve-me leve”
A Poesia é, das expressões da Arte, talvez a que melhor traduza a sensorialização do bicho humano diante das coisas do mundo e da vida. Pela sua própria forma de exteriorização (a escrita e a audição), a Poesia requer instrumentos específicos de emissão e recepção para que se manifeste. A boca, a mão, o ouvido (logo, a fala, o gesto e a interpretação), fazem dessa arte a tradução da vida. Se um dia for extinta a força que impulsiona o ser vivente à criação e fruição do êxtase artístico, é porque a vida está encerrada aqui sobre essa camada. Impossível imaginar o homem sem o insight criador da Poesia, elã que o liga ao mistério que o diviniza.
O blues é quase um mantra, música cantada ao léu por negros escravizados nos campos de algodão em toda a vastidão do sul estadunidense, traz em sua melodia todos os exílios do homem. Tanto lamento como evocação divina, o blues é exaltação da África natal, é memória de seus mitos, lendas, guerras e amores.
Ler, portanto, “Oliveiras Blues”, segundo livro de uma produção caudalosa de um poeta brasileiro descendente de japonês, nascido no interior de São Paulo e crescido nos rincões da periferia de Sampa, parece um desencontro geográfico que só a Arte pode corrigir. Akira Yamasaki, nesta obra que homenageia o bairro onde vive, reafirma e reforça o raciocínio que tento elaborar. Demiurgo poético cujo refinamento vem da contemplação transparente e da reflexão nua, ao Akira pouco importa do que é feita a pedra, pois o melhor de sua alquimia é burilar essa pedra de tal forma que ela vire qualquer coisa em sua linguagem, em seu instinto criador. Assim, um simples olhar de um boi condenado vira mote para um texto que nos embriaga:
“nunca esqueço
uma cena de infância
uma volta da pescaria
uma curva na estrada
um boi amarrado
pelas patas e pescoço
em duas árvores
uma marreta
ainda hoje me assombra
o olho do boi”
Uma reflexão materna ilustra todas o desmedido amor de todas as mães do mundo: “(...) esse é treze de pedra e não tem cura, de hoje em diante só vou amá-lo e seja o que deus quiser”.
Também há uma vontade incontrolável de versejar a amada e a ela oferecer tudo o que sua matéria-prima permitir:
“fiquei do outro lado
da rua da sua casa
sob a garoa da saudade
ficou no meu coração
enterrado para sempre
o punhal do seu perfume”.
E, justificando o título, o filho dileto presta culto à terra onde fincou suas raízes, o Jardim das Oliveiras, no extremo leste da cidade de São Paulo:
“bem que estranhei
o movimento incomum
nos últimos dias
mas só hoje eu soube
pelo cara do churrasquinho
que fica na porta
da rainha do oliveiras
houve, alguns dias atrás
uma rebelião na fundação
coisa feia mesmo
só para constar
o diretor da instituição
ainda está na uteí
queima de colchões
queima da unidade
queima de arquivos
e uma pá de moleques
pá pá pá nas ruas
por mera coincidência
vi dedo mole de novo
adequado ao padrão fifa
tênis da mizuno
boné do neymar”
Akira tem a peculiaridade de pegar a crônica mais vã, a mais prosaica visão do cotidiano e transformar, com toques sutis de poeta genial - que ele de fato é - a trama refinada que lembra a confecção de um tapete persa fino e raro. Este “Oliveiras Blues”, que poderia trazer o peso quase insustentável da musicalidade densa e etérea oriundas das fazendas ensolaradas do sul dos Estados Unidos, confunde, e traz o frescor da nota que não saiu na página policial do jornal. Traz o lirismo que desconcerta o leitor, a luz que destoa do cinza previsível da rotina. O brasileiríssimo poeta, descendente de orientais, que se dá ao luxo de abrir mão de régua e compasso na elaboração de suas composições, o generoso articulador cultural que mantém vários projetos de produção artística na região aonde mora, Akira Yamasaki, neste novo livro (o primeiro foi o já clássico “Bentevi, Itaim”, de 2012), proclama com clareza tão óbvia que até nos tonteia:
“não adianta portos
navios e oceanos
se não há acenos
partidas e chegadas”
Em tempo: “Oliveiras Blues” é um dos quatro títulos da série E.X.E.M.P.L.O.S., desenvolvida pela editora Lunna Guedes para a Scenarium Plural. Todos os livros dessa série foram feitos manualmente.
Escobar Franelas.
domingo passado
ontem no "último domingo" sofri na carne algumas
máximas populares sobre o futebol, tipo assim:
" futebol é uma caixinha de surpresas", "o difícil
não é fácil", "a bola é redonda", "quem não faz,
toma" e inclusive a tese suprema deste nobre
esporte bretão - "pênalti é loteria". cabe também
aqui um outro ditado popular que meu pai me
ensinou quando eu era menino: "respeito é bom e
bonito". ontem quando vi o invencível timaço que
eu tinha caído no rachão nem pensei duas vezes
antes de tripudiar meus adversários: "hoje não
tem pra ninguém", "hoje vai ser mamão com
açúcar, um passeio só", "hoje vai ser passar, se
deslocar e ter preferência na hora de correr pros
abraços". mas ontem não foi bem assim, não fiz
nem um gol, as derrotas foram inesperadas e
humilhantes com direito a rolinhos, elásticos e
perdas de cabeça: saí do sério, tentei dar um
pontapé no paulão e eu é quem acabei com o
tornozelo estropiado. podia ser pior? podia sim,
a cerveja desceu quente e amarga.
presente de adriane garcia
Akira Yamasaki
Um pássaro ferido
Rodopia
Cai e se despetala
No Jardim de Hideko
O samurai recolhe uma
Pena
Que é a sua
Adaga.
Adriane Garcia para Akira Yamasaki
O samurai recolhe uma
Pena
Que é a sua
Adaga.
Adriane Garcia para Akira Yamasaki
nivaldo
cruzo o nivaldo
todos os domingos de manhã
na quadra do ciza
um cara do bem
gente boa mesmo
ele é técnico do yankes
rapaziada que joga
das dez ao meio dia
horário depois do meu
o nome do seu time
pode soar meio estranho
mas respeito muito
sua proposta de inclusão
por meio do esporte
mas me amarro mesmo
é no seu lema super-ninja
um verdadeiro achado:
_ o yankes morre
mas nunca se entrega
akira - 08/02/2015.
gente boa mesmo
ele é técnico do yankes
rapaziada que joga
das dez ao meio dia
horário depois do meu
o nome do seu time
pode soar meio estranho
mas respeito muito
sua proposta de inclusão
por meio do esporte
mas me amarro mesmo
é no seu lema super-ninja
um verdadeiro achado:
_ o yankes morre
mas nunca se entrega
akira - 08/02/2015.
dedo mole 28
(para geraldo figueiredo)
quem quer saber
o que acontece nestas ruas
depois que anoitece?
quem quer saber
o que acontece nesta noite
depois que a lua foge?
quem quer saber
da cor deste rio de dor
quando as portas fecham?
quem quer saber
do cheiro de mijo na calçada
quando o dia amanhece?
akira – 06/02/2015?
o que acontece nesta noite
depois que a lua foge?
quem quer saber
da cor deste rio de dor
quando as portas fecham?
quem quer saber
do cheiro de mijo na calçada
quando o dia amanhece?
akira – 06/02/2015?
kami de hideko 2
um ano depois voltamos
ao templo com oferendas
de flores singelas
aromas de incensos
e mantras milenares
em respeito à memória
hoje foi dia de dizer
em silêncio humilde
e de olhos fechados
a falta que hideko faz
akira - 01/02/2015.
em silêncio humilde
e de olhos fechados
a falta que hideko faz
akira - 01/02/2015.
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