Cláudio Gomes
Conheci Cláudio Gomes em 1978 na efervescencia do MPA embrionário. Ele era muito menino naquele tempo, devia ter uns 18 anos de idade, mas tenho a impressão que hoje ele é mais menino ainda, o tempo preservou e acentuou o seu sorriso maroto de moleque levado, sua marca registrada. Ele veio no pacote do TeRua – o Teatro de Rua -, e trouxe a tiracolo pessoas e artistas do naipe de Severino do Ramo, Eliana Mara, Reinaldo Rodrigues, Sueli Kimura e outros, todos quase crianças ainda, mas esclarecidos e maduros demais para a idade, e em seus olhos brilhava a sede desesperada por mudanças.
O Cláudio Gomes menino mudou o meu coração. Fiquei encantado com a sua poesia que dava vida a pessoas anônimas e invisíveis na grande cidade, com versos velozes e econômicos de sínteses desconcertantes, cortes abruptos e cirúrgicos, rupturas, aproximações, arremates na medida exata. Tenho certeza que se eu ler o que o Cláudio anda escrevendo hoje em dia, o meu coração mudará novamente, mas por enquanto eu me contento com alguns poemas daquele menino genial.
Akira – 08/01/2010.
“DO LADO
DE QUEM ENTRA
NO TREM PRO BRÁS
ENTEGENTES VI
AQUELE VELHO MORENO.
ERA O BOI
QUE FESTAVA TANTO
DO BUMBÁ DE ARAPIRACA”
“na minha lembrança
ela era ainda a Bela
jovem pastora do cordão encarnado
que dançava tão bonito
na minha infância arapiracana.
hoje encontrei-a na feira do Itaim
carregando sacola, filho chorando
atrás dela
... acabada, com rugas!
já não dançava
se arrastava
no meio dos apertos da feira
não assobiei Fiu Fiu como outrora
disse bom dia, como vai a família,
lembranças a Isidoro seu marido,
apressadamente...”
“tupy nicidade
mais um índio
levou um pé na bunda e desceu
numa velozcidade estonteante
como não disse caetano
...e arrastou a mulher e os filhos
no meio do lugar chegado
estendeu o resto pro povo ver,
e o povo do lugar viu,
viu e nada comprou.
antes da mãe-lua chegar
pediu uma esmola
pelo amor de deus”

