quinta-feira, 19 de maio de 2016

outro último domingo


hoje perdemos merecido
não poderia ser diferente
ninguém mandou ficar
de mimimí com a bola


akira - 24/04/2016.

casa amarela, a última trincheira


então está decidido:
hoje em dia sou apenas
um democratão e não prometo
nem tenho serventia para nada
nem como inocente útil
ou massa de manobra
nem como testa de ferro
ou delator premiado
e escolho não escolher


então está decidido:
hoje em dia não consigo
ter convicções definitivas
para portar bandeiras
e cartazes em passeatas
e sempre desconfio seriamente
dos propósitos que existem detrás
das palavras de ordem gritadas
em uníssono com punhos fechados
nas ruas e praças do país

está decidido mesmo:
hoje em dia não acredito
em nenhum destes partidos aí
eles mentem com obstinação
até que a mentira vire verdade
e ainda fazem da mentira
método feroz de luta pelo poder
para garantir regalias e mamatas
usando o povo e a democracia
como pretexto e escudo

então fica decidido assim:
de hoje em diante terei apenas
como minha última trincheira
o vento da poesia e da amizade
que moram na casa amarela
onde as palavras são ditas olho
no olho com a voz da emoção
e se assim eu puder proceder
já terei feito o melhor e o maior
para o meu país

akira - 25/04/2016.

marciano


morreu hoje um poeta
da estirpe dos baitas

marciano vasques está morto
estão mortas todas as palavras

vá em paz, compadre
dê um abraço por mim
em raberuan
e severino do ramo

diga a eles
que não demoro

akira -26/04/2016.

casa amarela e sarau da maria em santo andré


01/05/2016
sarau da maria
casa da palavra mário quintana
casa amarela

ontem em santo andré
foi assentado mais um tijolo
de amizade misturado com felicidade
mais um tijolo de poesia
na construção da casa amarela

agora que tudo já passou
- sabemos todos que nunca passará
só resta dizer muito obrigado
- sabemos que gratidão é moeda sem troco
a todos que bentivieram ontem
com suas alegrias e emoções
com suas poesias e canções
com seus beijos e abraços
para ensinar o significado das palavras
amor e amizade à casa amarela

muito obrigado, sarau da maria
muito obrigado, casa da palavra
pela parceria valiosa
nesta jornada de arte e cultura
muito obrigado, rosinha moraes, joel dias filho, warley noua, vitor cali, urbanista concreto germano, josé pessoa e claudinei vieira;

muito obrigado, rosana banharoli, sacha arcanjo, escobar franelas, arnaldo afonso, vladinky & cordeirovich, marici silva, selma sarraf bizon, adolar marin, thina curtis, beto ponciano e sidney kitagawa;

muito obrigado, enide santos, mário nevesa, daniel lopes, marcia barbieri, betinho rio, darc maia, vitor barros, raquel pereira, yago luna, lucimar borges, adão santos, marcos robson e sueli kimura;

muito obrigado, tião baia, altemira, tereza por tereza magalhães, inês santos, selma bento baia, celia maria ribeiro, andréa ferraz campos, kátia dias bassiano, jorge gregório, joão júnior, albino alves, ricardo escudero, marcilio godói e silvia maraia ribeiro;

muito obrigado mesmo
a todos que colaram ontem
para protagonizar mais uma emocionante
celebração da alegria e da amizade
que só a generosidade de quem produz arte
é capaz de promover.

akira - 02/05/2016.

















quiabo 1


meu pai me acordava
às três da madrugada
naquele tempo eu tinha
nove anos de idade
para a cata de quiabo
no quiabeiro de um alqueire
tristeza de um alqueire
desgosto de um alqueire
um alqueire de dor


meu pai me acordava
de segunda a segunda
e fizesse frio, calor ou chuva
fizesse sono brutal e cansaço
se não levantasse
do colchão de palha
de espiga de milho
às três da madrugada
a cinta cantava sem dó
o quê? não vai acordar?
no quiabeiro de um alqueire
tirania de um alqueire
um alqueire de furor

meu pai me acordava
com um balaio de taquara
pesando um alqueire
nos meus ombros feridos
nas alças de corda do picuá
meu pai me acordava
com a baba feroz do quiabo
que vazava luvas de amianto
e carcomia minhas mãos
feito cola corrosiva

faquinha de catar quiabo
tão afiada que até faiscava
a face branca quando a lua
varava as nuvens lá no céu

faquinha amolada
na pedra silenciosa
do medo e do rancor
um alqueire de faquinhas
para cortar as mãos odiadas
do meu pai odiado
às três da madrugada
quando eu tinha
nove anos de idade

akira - 04/04/2016.

merenda


um vento novo, renovador e benvindo na cena
da política no brasil são os meninos e meninas
secundaristas de são paulo.

desta vez eles ocupam a assembleia legislativa
de são paulo onde vão resistir desarmados e
pacificamente até que os deputados instalem a
cpi da merenda escolar.

com sua atitude de emocionante generosidade
eles sinalizam que nem tudo está perdido neste
país perdido na lama sórdida do fundo do poço.
cpi da merenda escolar, meu deus, da merenda
escolar.

akira - 04/05/2016.

coxinha x petroalha


não sou de esquerda
não sou de direita
muito menos de centro

às vezes sou coxinha
às vezes sou petroalha
às vezes bosta n'água


tenho boas intenções
mas sei que o inferno
está cheio delas

akira - 09/05/2016.