terça-feira, 21 de agosto de 2012

Bentevi, Itaim – balanço preliminar



Já era mais de três da manhã quando o Gê retornou 
à Casa de Farinha depois de deixar o Osnofa, que 
tinha exagerado um pouco na Caribé - não conheço 
cachaça mais forte que a Caribé, em casa, lá pelos 
lados da Jacuí. Ele me comprou mais um exemplar 
do livro e pediu que eu o autografasse para 
presentear o guardador de carros que estava lá 
fora, o cara é um mestiço de japonês com 
pernambucana, ex-decassegui, esteve no Japão por 
doze anos e está na pior agora, mas vai interromper 
uma leitura pesada do Sartre só para ler o Bentevi, 
Itaim. O nome dele é Anderson Miura - escreve aí, e 
dito isso tomou o pandeiro das mãos do Ceciro e 
caiu na cantoria de novo.
Escrevi umas groselhas no livro e como o Gê não se 
manifestava fui eu mesmo entregar a encomenda 
para o guardador de carros, mestiço, ex-decassegui 
e leitor de Sartre que, meio constrangido e 
meio ressabiado, agradeceu pelo livro e ao ler a 
quadrinha na contracapa comentou com o 
semblante perdido em alguma lembrança esquecida 
que se arrependia de algumas mentiras ditas e 
outras não ditas, disse boa noite, vou ler com 
carinho, e fiquei ouvindo os seus passos 
desaparecerem na Santa Rosa de Lima deserta e 
silenciosa enquanto um filme começava a passar na 
minha mente.
Há cinco meses, em março, eu nunca tinha ouvido 
falar na Casa de Farinha e muito menos me passava 
pela cabeça que faria nessa casa, no dia 18/08, o 
lançamento de um livro/CD com poemas de minha 
autoria e canções compostas em parceria com 
músicos de São Miguel Paulista que se chamaria 
“BENTEVI, ITAIM”, após cumprir oito intensas etapas 
artísticas de um emocionante evento cultural que 
seria batizado de “PROJETO BENTEVI”  e realizado 
por iniciativa de amigos queridos e comoventes que 
decidiram que eu tinha que publicar um livro em 
agosto de 2012, quando completasse sessenta anos 
de idade.
Há cinco meses, da metade que que me contaram 
da missa sei que tudo começou com Sílvio Kono, Luiz 
Casé, Sacha Arcanjo, Betinho Rio e Ronaldo Ferro. 
Da missa eu sei ainda que a idéia era promover uma 
“ação entre amigos” para levantar uma grana para 
confecção do meu livro com data marcada para 
lançamento, na forma de realização de eventos com 
cobrança de bilheteria envolvendo artistas e 
produtores culturais da região.
Da missa que ajudei a rezar sei que encontramos na 
Casa de Farinha o espaço ideal para realização do 
projeto e nas figuras de Francisco Xavier e Sandra 
dos Anjos, donos do local, o afeto e o espírito 
necessário para abrigar e conciliar os diferentes 
rítmos, matizes e vocações artísticas e assim como, 
as diversas faixas etárias que compõem o caldeirão 
fervente da arte feita na região, dando oportunidade 
para que todas as diferenças pudessem brilhar de 
forma igual.
Sei dessa missa ainda que encontrei no genial artista 
plástico/gráfico Will, o desenho ideal para interpretar 
os caminhos, destinos e solidões contidos nos versos 
deste trabalho e no grande poeta, compositor e 
cantor Sílvio de Araújo, o intérprete certo para as 
canções de “Bentevi, Itaim”, CD que foi concebido e 
formatado em apenas três meses de trabalho, e que 
contou com a sensibilidade e ajuda preciosa de Mizão 
e Mizinho Carvalho, do Musical em Mi Estúdio para 
que isso acontecesse.
Dessa missa sei de cór que não importa quantas vidas 
eu viva, nunca conseguirei agradecer o suficiente a 
amizade comovente de algumas pessoas como Big 
Charlie e Little John, o Joãozinho, que me amam de 
graça, sem motivo e sempre. Pessoas como Vinícius 
Casé, Ravi Landim, Osnofa, Tiago Araújo, Marcel 
Acauam, Guilherme Rio, Pedro Leonardo, Ceciro 
Cordeiro, Cicinho e Ivaneide do Trio Garapé, Fábio 
Lima, Zulú de Arrebatá, Sheilinha Procópio, Caio 
Vandré, Edinho Ferreira, Gilberto Braz, Edvaldo 
Santana, Gildo Passos, Cláudio Gomes, Cléston 
Teixeira, Escobar Franelas, Jorge Gregório, Célia 
Yamasaki, Jocélio Amaro, a galera do GRAVe, Sacha 
Arcanjo, Solange Kono, Sueli Kimura, Betinho Rio, 
Francisco Xavier, Sandra dos Anjos, Silvio de Araújo, 
Ronaldo Ferro, Sílvio Kono e tantos outros, todos que 
participaram dessa maravilhosa viagem chamada 
Projeto Bentevi.
Agora que tudo está terminando, observo a Santa 
Rosa de Lima silenciosa e deserta. Um balanço 
preliminar dessa missa revela que depois de cinco 
meses de Projeto Bentevi, oito eventos culturais 
envolvendo mais de sessenta artistas da região, entre 
poetas, músicos, compositores, cantores e artistas 
plásticos, um público médio de cerca de oitenta 
pessoas por evento, a sensação é de dever cumprido 
e minhas mãos estão leves e suaves.
Estão repletas de sonhos e possibilidades de 
mudanças.

Akira – 20/08/2012.       

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