Já era mais de três da manhã
quando o Gê retornou
à Casa de Farinha depois de deixar o Osnofa, que
tinha
exagerado um pouco na Caribé - não conheço
cachaça mais forte que a Caribé, em
casa, lá pelos
lados da Jacuí. Ele me comprou mais um exemplar
do livro e pediu
que eu o autografasse para
presentear o guardador de carros que estava lá
fora,
o cara é um mestiço de japonês com
pernambucana, ex-decassegui, esteve no Japão
por
doze anos e está na pior agora, mas vai interromper
uma leitura pesada do
Sartre só para ler o Bentevi,
Itaim. O nome dele é Anderson Miura - escreve aí,
e
dito isso tomou o pandeiro das mãos do Ceciro e
caiu na cantoria de novo.
Escrevi umas groselhas no livro
e como o Gê não se
manifestava fui eu mesmo entregar a encomenda
para o
guardador de carros, mestiço, ex-decassegui
e leitor de Sartre que, meio
constrangido e
meio ressabiado, agradeceu pelo livro e ao ler a
quadrinha na
contracapa comentou com o
semblante perdido em alguma lembrança esquecida
que se
arrependia de algumas mentiras ditas e
outras não ditas, disse boa noite, vou
ler com
carinho, e fiquei ouvindo os seus passos
desaparecerem na Santa Rosa de
Lima deserta e
silenciosa enquanto um filme começava a passar na
minha mente.
Há cinco meses, em março, eu
nunca tinha ouvido
falar na Casa de Farinha e muito menos me passava
pela
cabeça que faria nessa casa, no dia 18/08, o
lançamento de um livro/CD com
poemas de minha
autoria e canções compostas em parceria com
músicos de São
Miguel Paulista que se chamaria
“BENTEVI, ITAIM”, após cumprir oito intensas
etapas
artísticas de um emocionante evento cultural que
seria batizado de
“PROJETO BENTEVI” e realizado
por iniciativa
de amigos queridos e comoventes que
decidiram que eu tinha que publicar um
livro em
agosto de 2012, quando completasse sessenta anos
de idade.
Há cinco meses, da metade que
que me contaram
da missa sei que tudo começou com Sílvio Kono, Luiz
Casé, Sacha
Arcanjo, Betinho Rio e Ronaldo Ferro.
Da missa eu sei ainda que a idéia era promover
uma
“ação entre amigos” para levantar uma grana para
confecção do meu livro com
data marcada para
lançamento, na forma de realização de eventos com
cobrança de
bilheteria envolvendo artistas e
produtores culturais da região.
Da missa que ajudei a rezar sei
que encontramos na
Casa de Farinha o espaço ideal para realização do
projeto e
nas figuras de Francisco Xavier e Sandra
dos Anjos, donos do local, o afeto e o
espírito
necessário para abrigar e conciliar os diferentes
rítmos, matizes e
vocações artísticas e assim como,
as diversas faixas etárias que compõem o
caldeirão
fervente da arte feita na região, dando oportunidade
para que todas
as diferenças pudessem brilhar de
forma igual.
Sei dessa missa ainda que
encontrei no genial artista
plástico/gráfico Will, o desenho ideal para
interpretar
os caminhos, destinos e solidões contidos nos versos
deste trabalho
e no grande poeta, compositor e
cantor Sílvio de Araújo, o intérprete certo
para as
canções de “Bentevi, Itaim”, CD que foi concebido e
formatado em apenas
três meses de trabalho, e que
contou com a sensibilidade e ajuda preciosa de
Mizão
e Mizinho Carvalho, do Musical em Mi Estúdio para
que isso acontecesse.
Dessa missa sei de cór que não
importa quantas vidas
eu viva, nunca conseguirei agradecer o suficiente a
amizade comovente de algumas pessoas como Big
Charlie e Little John, o
Joãozinho, que me amam de
graça, sem motivo e sempre. Pessoas como Vinícius
Casé, Ravi Landim, Osnofa, Tiago Araújo, Marcel
Acauam, Guilherme Rio, Pedro
Leonardo, Ceciro
Cordeiro, Cicinho e Ivaneide do Trio Garapé, Fábio
Lima, Zulú
de Arrebatá, Sheilinha Procópio, Caio
Vandré, Edinho Ferreira, Gilberto Braz,
Edvaldo
Santana, Gildo Passos, Cláudio Gomes, Cléston
Teixeira, Escobar
Franelas, Jorge Gregório, Célia
Yamasaki, Jocélio Amaro, a galera do GRAVe,
Sacha
Arcanjo, Solange Kono, Sueli Kimura, Betinho Rio,
Francisco Xavier,
Sandra dos Anjos, Silvio de Araújo,
Ronaldo Ferro, Sílvio Kono e tantos outros,
todos que
participaram dessa maravilhosa viagem chamada
Projeto Bentevi.
Agora que tudo está terminando,
observo a Santa
Rosa de Lima silenciosa e deserta. Um balanço
preliminar dessa
missa revela que depois de cinco
meses de Projeto Bentevi, oito eventos
culturais
envolvendo mais de sessenta artistas da região, entre
poetas,
músicos, compositores, cantores e artistas
plásticos, um público médio de cerca
de oitenta
pessoas por evento, a sensação é de dever cumprido
e minhas mãos
estão leves e suaves.
Estão repletas de sonhos e
possibilidades de
mudanças.
Akira – 20/08/2012.
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