moro na rua assis freitas
esquina com a adriane garcia
e paralela à joelma bittencourt
que fica em bem frente
ao colégio gilberto braz
e próxima às praças francisco xavier
lígia regina, angela vilma
e joão caetano do nascimento
tenho no centro da retina ferida
do meu olho esquerdo quase cego
uma bola azulada e desesperada
parecida com o céu da minha infância
quando anoitecia e eu
não encontrava o caminho de casa
e malgrado o avanço das pesquisas
com as células tronco
nenhuma clínica oftalmológica
consegue descobrir a causa
da minha lesão
por conta da minha escuridão
quando acordo todos os dias
ajoelho e imploro com fé:
minha santa bianca velloso
minha santa rogéria reis
minha santa cris de souza
valei-me minhas poetas santas
da minha cegueira salvai-me
moro na rua escobar franelas
no número edsinho tomaz de lima filho
na vila luka magalhães
no bairro rosinha moraes
na cidade rafael da silva
do estado de sacha arcanjo
e posso ser encontrado ainda
na caixa postal do sarau da maria
e no cep éder lima
tenho uma flor silvestre
nas mãos deformadas
por calos de foices e enxadas
sou apenas um plebeu sujo
descalço e desajeitado
quebrando louças milenares
neste salão de nobres saberes
e pobres poderes
só tenho uma flor inculta
nas minhas mãos de borracheiro
e moro na rua josé pessoa
número selma bento baia
cep claudemir dark'ney santos
e sempre aperto a tecla sap para ver
se entendo alguma coisa
costumo banhar-me
no rio punky além da lenda
e na lagoa márcia barbieri
costumo dormir olhando as estrelas
um dia num banco do jardim de hideko
e noutro no colo doce e meigo
da praça queila rodrigues
só tenho uma flor iletrada
nas minhas mãos analfabetas
e procuro o incomum
nos lugares comuns
moro num país enorme
banhado pelo oceano raberuan
moro num país infinito
de nome edvaldo santana
e qualquer morte é bentivinda
Nenhum comentário:
Postar um comentário