meu pai me acordava
às três da madrugada
naquele tempo eu tinha
nove anos de idade
para a cata de quiabo
no quiabeiro de um alqueire
tristeza de um alqueire
desgosto de um alqueire
um alqueire de dor
meu pai me acordava
de segunda a segunda
e fizesse frio, calor ou chuva
fizesse sono brutal e cansaço
se não levantasse
do colchão de palha
de espiga de milho
às três da madrugada
a cinta cantava sem dó
o quê? não vai acordar?
no quiabeiro de um alqueire
tirania de um alqueire
um alqueire de furor
meu pai me acordava
com um balaio de taquara
pesando um alqueire
nos meus ombros feridos
nas alças de corda do picuá
meu pai me acordava
com a baba feroz do quiabo
que vazava luvas de amianto
e carcomia minhas mãos
feito cola corrosiva
faquinha de catar quiabo
tão afiada que até faiscava
a face branca quando a lua
varava as nuvens lá no céu
faquinha amolada
na pedra silenciosa
do medo e do rancor
um alqueire de faquinhas
para cortar as mãos odiadas
do meu pai odiado
às três da madrugada
quando eu tinha
nove anos de idade
akira - 04/04/2016.
de segunda a segunda
e fizesse frio, calor ou chuva
fizesse sono brutal e cansaço
se não levantasse
do colchão de palha
de espiga de milho
às três da madrugada
a cinta cantava sem dó
o quê? não vai acordar?
no quiabeiro de um alqueire
tirania de um alqueire
um alqueire de furor
meu pai me acordava
com um balaio de taquara
pesando um alqueire
nos meus ombros feridos
nas alças de corda do picuá
meu pai me acordava
com a baba feroz do quiabo
que vazava luvas de amianto
e carcomia minhas mãos
feito cola corrosiva
faquinha de catar quiabo
tão afiada que até faiscava
a face branca quando a lua
varava as nuvens lá no céu
faquinha amolada
na pedra silenciosa
do medo e do rancor
um alqueire de faquinhas
para cortar as mãos odiadas
do meu pai odiado
às três da madrugada
quando eu tinha
nove anos de idade
akira - 04/04/2016.
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