Conhecí
o Akira em 1979, quando o Movimento Popular de
Arte ainda tentava
ganhar corpo e ser reconhecido como uma
manifestação cultural legítima.
Eu tinha 24 anos de idade, já
me achava maduro para expor minhas
convicções, e encontrei
certa barreira por causa dos meus gostos e do
meu pensamento
em relação à arte e a cultura naquele momento. Era um
tempo
difícil para qualquer um que quisesse se manifestar
culturalmente e eu senti na época uma energia diferente que
vinha
daquele grupo de pessoas que ignoravam o perigo que
corriam e falavam em
frente ao microfone palavras de ordem e
protesto em plena praça
pública, cantavam e escreviam sua
indignação contra o que se estabelecia
no país naquele
momento da história. Eram músicos, atores, poetas,
artistas
plásticos e outros, juntos tentando levar a arte para o povo e
através dessa arte, a consciência dos seus direitos, a
informação do que
estava acontecendo no país e a importância
que cada cidadão tinha na
luta para que se revertesse aquele
quadro de censura e repressão pelo
qual passávamos. No meio
desse grupo estava o Akira com seus 27 anos de
idade, e que
assim como eu, já pensava estar maduro e convicto de suas
posições em relação ao mundo. Naquele momento me perguntei
o que fazia
ali, um cara de origem oriental, que normalmente
estaria estudando ou
ajudando os pais em algum comércio. Por
que razão ele escrevia poemas
tão viscerais e intrigantes. Ao
mesmo tempo, veio aquela admiração
normal que alguém sente
quando vê outro expressando sentimentos que você
tem, mas
que não tem coragem de externar. O Akira escrevia o poema e
lia. E nos palcos, declamava. Eu escrevia e guardava.
Estivemos lado a
lado em várias ocasiões mas nunca tivemos
um relacionamento estreito.
Mas foram muitos anos de
admiração e respeito por um daqueles que sempre
seguiam à
frente sem saber se ia se dar bem ou levar porrada. Akira já
era
um líder. Mas acho que nunca teve consciência disso. Hoje,
passados
trinta e tantos anos, qualquer um que tenha vivido os
anos de MPA chega a
essa conclusão sem dificuldades. Mas foi
preciso que o tempo passasse,
que ficassem para trás aqueles
momentos inesquecíveis de luta e
determinação para começar a
aparecer o lado mais pessoal, particular
desse batalhador que
tinha sonhos, objetivos e a poesia como
companheira. Foi
preciso encarar dificuldades extremas para aparecer aos
olhos
daqueles que andavam ao seu lado o seu interior de homem
determinado, lutador, falível, mas predestinado. Ele não podia
ser um
cara comum. Tentou ser. Revoltou-se, retirou-se,
penalizou a si mesmo,
mas não conseguiu. Voltou para o seu
lugar e está aí até hoje. Seu
destino é ser o principal elo de uma
corrente que não pode quebrar. Essa
corrente chama-se cultura
da zona leste de São Paulo. E essa corrente
não se quebrará
enquanto esse japonês da cara redonda estiver por aí.
Agora ele
vem falar de velhice. questionar sua poesia e sua condição de
figura de referência para todos nós que amamos a arte, que o
temos como
inspiração e que nos alimentamos da sua amizade
generosa e despojada.
Akira não morre mais. tem filhos, árvore
e livro. Já espalhou pelo mundo
afora um punhado de letras
juntas que nos colocam dia após dia em
contato direto com a
realidade da vida. Hoje, apesar de separados pela
distância física,
estamos muito mais próximos de que nos tempos de MPA,
porém, em compensação, estamos sim maduros e convictos de
nossas
posições e sabemos muito bem o valor de uma amizade
sincera que o tempo
não conseguiu apagar. E estamos juntos
todos os dias, ora trocando
idéias, ora trocando poesias. (Velho
é o universo, Akira!) Parabéns por
mais um ano de vida!
Zé Vicente.
Zé Vicente.
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