quinta-feira, 13 de maio de 2010

Cristina

(p/ Gilberto Nascimento e a 3ª geração de crianças de rua da Praça da Sé.)

morreu a menina
que morava na sé
seu nome era cris

de barriga para cima
seu corpo flutua
na piscina do chafariz

os olhos fixos no céu
há um sorriso em seu rosto
parece tão feliz

talvez por descansar
finalmente sob a sombra
caridosa da matriz

livre da dor e da fome
do pavor no meio da noite
das fugas por um triz

por repousar afinal
no abraço do esquecimento
um número somente, um xis

assim sua mortalha se fez
das sombras da catedral
das águas do chafariz

e o buquê de flores em suas mãos
é um saquinho de supermercado
com cola, crack, batom e verniz.

akira yamasaki.

2 comentários:

  1. Caro Akira,

    embora um pouco tarde, embora nunca seja tarde...

    Tive momentos inesquecíveis no último encontro do PRI, momentos estes
    proporcionados por você, sua esposa e o querido amigo que esteve conosco.
    Particularmente, aprendi a admirá-lo desde o penúltimo encontro, no qual
    pude descobrir o ser humano que se encontra dentro da carcaça Akira.
    O meu muito obrigado por tudo, mas principalmente pelo privilégio de poder
    conhecê-lo.
    grato,

    Marcelo Lemos
    Eng. Mn. S.
    Cia. do Metropolitano de São Paulo – Metrô

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  2. Lembrei agora da primeira vez que ouvi esse poema, num sarau na Oficina Luiz Gonzaga, lá pelos 99, 2000...
    Comove, provoca, faz com que a gente sinta umas vontades de mudar o jogo, de ir além do básico que tem sido as nossas vidas até aqui. Poema de renovação espiritual e existencial, enfim.

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