Poeta e compositor dos bons, cantor, autor e diretor teatral, produtor e agitador cultural, beberrão e glutão contumaz, e o que mais aparecer pela frente, Cleston Teixeira é o tipo do multi-artista completo que se encaixa e escapa ileso de todos os contexto e mídias. Dentre as faces múltiplas de Cleston a que mais me fascina e seduz é a do moderno menestrel romântico, quase ingênuo nesses tempos de barbáries ao vivo e online em que vivemos, que resgata em suas canções de amor e paz, a força da simplicidade do sentimento humano. Uma outra face envolvente e cativante de Cleston é a do cronista do cotidiano que descreve com humor perpiscaz e sutil ironia, cenas despercebidas do nosso dia. Ontem ele enviou-me um relato.
HISTÓRIA DE PESCADOR
Um Sol pra cada um, sábado de carnaval em Itanhaém.
Maior praião e eu voltando de um raid de bike, ida e volta ao Suarão, suadão e cansadão. Larguei a bicicleta alugada no quiosque já cravando na memória a cerveja que me esperava, porque afinal tinha que repor as energias perdidas, e fui pra água desviando do povaréu e das caixas de som tocando batidão sertanejo, repertório preferido da caipirada que refestelava suas barrigas e bundas nas cadeiras de plástico.
Aí vem a turma das tendas, ou as tendas das turmas da farofa, devolvi uma bola (não sei por que, mas as bolas sabem a quem procurar) e comecei a pisar no molhado. Água quentinha, mijinho de gato pra alguns, lá vou eu passando as piscinas e os bancos de areia, até que vejo na última arrebentação, uma antes dos surfistas, um grupo de marmanjos, todos olhando para um cara que vinha carregando um troço brilhante que no começo, não conseguia identificar. Quando cheguei mais perto vi que o troço se mexia se debatendo... Era um peixe preso pela cauda na mão do para o preocupado e sorridente pescador sortudo. Ele sustentava a cabeça do peixe fora d’água, e tinha que levantar o braço acima do ombro. O bicho era grande e eu me aproximei o suficiente pra ver que tinha umas rugosidades, umas corcovinhas ao longo do seu dorso, sei lá que peixe era, mas era mais para comprido do que gordinho.
- Você pegou esse bicho na mão?
- É... Aí na arrebentação.
Fiquei na dúvida e cheguei nos marmanjos que olhavam que confirmaram.
- Pegou na mão mesmo!!!
Foi o maior fuá na praia. Da turma da tenda ou da tenda da turma já saíram as máquinas fotográficas, os celulares contando pra todo mundo.
Voltei pra água e fui pegar meus jacarés, que é coisa que eu faço com o corpo inteiro e não preciso pegar na mão.